O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Ata: Copom eleva meta de juros neutros

Publicado em 25/06/2024 às 14:58

Alterado em 25/06/2024 às 14:59

Na Ata da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que decidiu, no dia 19 de junho, interromper o ciclo de afrouxamento monetário com a Selic em 10,50 notou-se a preocupação, após a votação dividida (5 X 4) em maio para reduzir de 0,50% para 0,25% o nível de queda da Selic, a ênfase nas decisões unânimes entre os nove componentes. Em quatro dos 22 itens listados na Ata a palavra “unanimemente” surgiu nos itens 11, 12, 17 e 21.

A visão unânime dentro do Copom foi de que a evolução do cenário, considerando atividade econômica mais forte do que o previsto, maior desancoragem das expectativas de inflação e projeções de inflação mais altas em seus modelos, exigiu uma postura mais restritiva e cautelosa em sua política monetária.
A ata também revelou que o BC trabalha agora com uma estimativa ligeiramente maior de taxa de juros real neutra, de 4,75% (contra 4,5% desde junho de 2023), o que contribuiu para o aumento de suas projeções do IPCA para o ano de 2025 para 3,4% (3,3% em maio). Além disso, o Copom não vê mais folga na economia e considera que o hiato do produto está em nível neutro. Como sempre, o Copom também destacou que uma maior coordenação nas políticas fiscais e monetárias anticíclicas contribui para a consolidação da estabilidade de preços, bem como para uma flutuação mais suave da atividade econômica e do emprego.

Mercado diverge sobre Selic
As interpretações do mercado seguem variando depois da reunião do dia 19. A Pesquisa Focus, encerrada sexta-feira, 21 de junho, junto ao mercado e divulgada ontem, apontou que o Copom manteria a taxa Selic em 10,50% até janeiro de 2025. Em março de 2025 iniciaria o processo de flexibilização monetária. Os analistas projetavam uma taxa de 9,50% no fim de 2025, estável em relação à pesquisa anterior. Para os anos seguintes, a Selic de fim de ano continuou em 9,00%.

Na mesma sexta-feira, 21, o Banco Santander, cujo departamento econômico é chefiado pela economista Ana Paula Vescovi, ex-Secretária do Tesouro no governo Temer, divulgou projeções atualizadas da economia, com a surpreendente previsão de que a inflação do IPCA fecharia o ano de 2024 em 3,4% (3,8% em 2025), o que permitiria – com baixa de 0,25% nos juros americanos – a Selic fechar o ano em 10,00%.

Bradesco Selic cai no 2º semestre de 2025
Na visão do Bradesco, “a principal mensagem do Copom é que eles estão comprometidos em reancorar as expectativas de inflação. Em nosso cenário, o firme compromisso do Copom com a meta de inflação de 3,0% vai dar resultado. Projetamos inflação do IPCA em 3,1% no ano de 2025, abrindo espaço para retomar o ciclo de afrouxamento monetário no 2º semestre do ano que vem”.

Para Itaú, Ata decretou fim de ciclo
Ainda pessimista, o Itaú, que cravou em maio o fim do ciclo em 10,50%, considera que a “ata do Copom trouxe, como esperado, o racional para o fim do ciclo de flexibilização e, acertadamente, reforçou a mensagem de unanimidade na decisão. Dois aspectos do texto merecem mais discussão. Primeiro, o Copom aumentou sua hipótese de taxa neutra para 4,75%, versus 4,50%, e considerou que o hiato do produto fechou, o que, em nossa opinião, torna mais difícil equacionar a projeção de inflação de 3,1% para 2025”.

“Além disso, ao abordar o balanço de riscos, o tom das autoridades foi um pouco mais duro. Anteriormente, indicaram que alguns membros consideravam os riscos de inflação assimétricos para cima. Agora, afirmam que a maioria decidiu manter o balanço de riscos simétrico nessa reunião. Isso abre uma alguma margem para o endurecimento da retórica do Copom no futuro”.

“Por ora, seguimos com a visão de que o Copom manterá a taxa Selic inalterada em 10,50% a.a. durante todo o horizonte de política monetária [18 meses]. Mas nada nesta ata sugere que o próximo movimento da Selic será de queda”.

Conta petróleo e minério compensam soja
Passando da economia monetária ao funcionamento real da economia, a balança comercial até a terceira semana de junho mostrou que a perda nas exportações de soja (que encolheram US$ 5 bilhões este ano devido às perdas da safra provocados pelo fenômeno El Niño) foi largamente compensada pelo avanço nas exportações de petróleo (+ US$ 5,4 bilhões) frente a 2023. Entretanto, outros produtos encolheram em preços e volume nas exportações, que acumularam US$ 159,6 bilhões de janeiro a junho, contra US# 165,2 bilhões em 2023.

Com a queda de US$ 500 milhões nas importações de combustíveis face à nova política de preços aplicada pela Petrobras desde maio de 2023, com uso mais intenso do óleo mais leve do pré-sal (antes exportado) nas refinarias (postas à venda e subutilizadas), que atuaram plena carga e ajudaram a estabilizar a inflação dentro do teto da meta em 2023 e 2024, a conta petróleo poupou, nas duas pontas, US$ 5,9 bilhões, cobrindo a perda na soja, cujas vendas quase encerraram em junho (as exportações totais encolheram 1,6%).

Os aumentos de US$ 2,2 bilhões nas vendas de minério de ferro e de US$ 3,8 bilhões em açúcar, mantiveram o saldo da balança comercial, mesmo com acréscimo de US$ 2,7 bilhões no ano em componentes eletrônicos (sobretudo Chips). Nas importações, (alta de 21,4% em junho) foi mantida a queda em adubos e fertilizantes, após as compras especulativas, em 2022, quando a invasão da Ucrânia pela Rússia elevou preços e tumultuou o mercado, face ao bloqueio do mundo Ocidental à Rússia, grande fornecedora de hidrogenados.


OLM

 

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