O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Com juro alto, dólar sobe em todo o mundo

Publicado em 18/06/2024 às 17:18

Alterado em 18/06/2024 às 17:18

Desde que o Federal Reserve arquivou seu orçamento que previa três reduções de 0,25 ponto percentual nos juros básicos americanos este ano, a partir de maio, somando 0,75% no ano, o que faria o juro americano cair de 5,25% a 5,50% ao ano para 4,50% a 4,75%, o dólar não parou de subir em todo o mundo. E obrigou os bancos centrais de todo o mundo a reavaliar sua estratégia, como o brasileiro, que pode findar o ciclo de baixa da Selic amanhã, em 10,50%, diante da forte especulação no mercado doméstico, justamente apostando no dólar para forçar o Banco Central a manter os juros altos.

Pelo diferencial de juros, antes do ligeiro recuo ontem, o dólar estava forte contra o euro (que teve baixa de 0,25 p.p. no juro pelo Banco Central Europeu), contra o iene e, como não podia deixar de ser, contra quatro países emergentes: Turquia, México, Colômbia e Brasil, sem falar na Argentina, a moeda mais especulada do mundo.

Com as maxidesvalorizações dos governos Fernandez e Milei, o dólar subiu 263% em 12 meses na Argentina e 2,17% nos últimos 30 dias, com resistência maior que o peso mexicano, que, um mês após a eleição de Claudia Sheibaum, viu o dólar subir 11,04%. O peso argentino também está com melhor desempenho que o peso colombiano (alta de 7,20% do dólar em um mês), que o real (alta de 5,88% do dólar nos últimos 30 dias) e 11,36% em 12 meses.

A lira turca, embora tenha o 2º pior desempenho em 12 meses (alta de 38% do dólar), viu o dólar subir só 1,23% em 30 dias, podendo ser comparado à alta de 1,41% do dólar frente ao iene ou da alta de 1,19% também nos últimos 30 dias frente ao Euro. Nos últimos 30 dias apenas a libra esterlina (+0,07%), o Franco suíço (+2,88%) e o dólar australiano e o dólar da Nova Zelândia superaram o dólar norte-americano.

Só que ontem, para complicar a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), o dólar começou a perder força nos mercados de todo o mundo com novos indicadores de desaceleração da economia americana que podem antecipar para setembro o corte de juros nos EUA. E agora Copom e as pitonisas do mercado que chegaram a dizer ontem que “o país estava à deriva”. Hoje, acompanhando o refluxo do dólar no mundo, a cotação do dólar voltou a cair 0,30% contra o real baixando a R$ 5,4039, às 12:30, depois de ter aberto a R$ 5,43,72, depois de atingir a máxima de R$ 5,4426 na 2ª feira.

Quando a especulação fala mais alto
Dizem que ciúme de economista é tão sério quanto o de marido e mulher. O presidente Lula, pode não entender dos meandros do mercado financeiro, mas, que é PhD em política e tem grande intuição, há muito tem o ex-ministro Delfim Neto como um de seus conselheiros em economia. Com seus 94 anos bem vividos nas mais diversas e adversas situações, Delfim é o economista mais longevo do país. Lula tem outros conselheiros e nem sempre segue o que Delfim diz. Mas, ao tê-lo como eventual aliado, poupa o governo da pesada artilharia de um Delfim na oposição.

Na falta de poucos economistas com vivência política na gestão pública, os jornalistas ouvem mais os chamados “economistas do mercado”. Vale dizer, de pessoas que aconselham as instituições financeiras à qual pertencem, num evidente conflito de interesses dos pareceres, que podem estar a serviço de uma operação estruturada da instituição. No momento todos apostam contra o real. Ontem, as vésperas da reunião do Copom, alguns se excederam.

Transcrevo, a seguir a postagem, feita às 15:16:49, no auge da especulação com o dólar, pelo economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo. Camargo, que ajudou o governo Temer em alguns projetos, como a reforma trabalhista e a desoneração de impostos de alguns setores (que custaram bilhões em renúncia fiscal, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad tenta abreviar, para reequilibrar as finanças, é crítico ferrenho do governo Lula e está no direito.

Mas, creio, que ontem errou a mão ao postar “Um país à deriva”. Confiram:

“Os sinais de deterioração do cenário da economia brasileira se intensificaram rapidamente nas últimas semanas. O processo teve início com o envio ao Congresso da Medida Provisória (MP) 1202, que acabava com o programa de apoio ao setor de eventos (PERSE) e reonerava a folha de pagamentos de 17 setores e das prefeituras das cidades pequenas e médias já em 2024, que foi considerado uma afronta pelos parlamentares. O Legislativo reagiu de forma dura, forçando o Executivo a substituir a MP por projetos de lei nos quais o fim do PERSE e a desoneração das folhas de pagamentos fossem feitas paulatinamente, com início em 2025”.

“A reação à MP 1227, que proibia a utilização de créditos de PIS/COFINS para pagar outros impostos, gerou forte reação entre os empresários e fez com que o presidente do Congresso a devolvesse para o executivo, sem colocá-la em votação”.

“Estes episódios mostram a mudança no equilíbrio de poder entre o Legislativo e o Executivo, em favor do Legislativo, que parece ainda não ter sido assimilada pelo governo”.

“Neste interim, o presidente da Petrobras foi demitido, as metas de superavit primário para 2025/2027 foram afrouxadas, a reunião do Copom decidiu reduzir a SELIC em 0,25 pontos de porcentagem, com placar dividido, com quatro votos a favor de queda maior, de – 0,5 p.p., dados pelos membros do Copom indicados pelo governo atual e a tragédia do Rio Grande do Sul tornou o cenário fiscal ainda mais desafiador. Em menos de um mês, o Dólar mostrou desvalorização próxima a 10%”.[na verdade o dólar subiu pouco mais de 6% em um mês, com taxa anualizada de 11,36%].

“Com metas fiscais pouco críveis, arcabouço fiscal questionado e expectativas para a inflação desancoradas, nossas estimativas mostram que a taxa neutra de juros da economia brasileira, a taxa que mantém a inflação constante, atingiu 5,8% ao ano. Com a inflação próxima a 4,0% ao ano, para manter a política monetária contracionista e levar a inflação para a meta, a SELIC precisará permanecer em dois dígitos. O atual ciclo de queda se encerrou na última reunião do Copom, em 10,50% ao ano”.

“Finalmente, o leilão da CONAB destinado à compra de arroz importado foi cancelado por indícios de corrupção e o Secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura demitido”.

“Sem âncoras fiscal e monetária, sem poder para implementar as políticas de aumento de impostos para cobrir o déficit público e um Executivo politicamente fraco, a percepção dos investidores é que o país está à deriva”.

Haddad mãos de tesoura
Com o aumento de mais de R$ 200 bilhões, em dois anos, nas despesas com juros nos próximos 12 meses, pela reversão dos planos de queda da Selic (deveria fechar o ano em 9%, mas deve fechar em 10,50% e cada ponto a mais da Selic, que deveria ser de 8,50% em dezembro de 2025, custa R$ 51 bilhões em juros ao Tesouro Nacional), o governo está examinando cortes de subsídios bilionários e pagamentos indevidos.

Estão sob o crivo da junta orçamentária, chefiada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, os cadastros de aposentados do INSS, do seguro-desemprego, do Bolsa Família e do Benefícios de Prestação Continuada, nos quais, pessoas que não preenchem os requisitos ou já faleceram, continuam com benefícios creditados. Mas os mais pesados subsídios são incentivos fiscais, como os da Zona Franca de Manaus e da desoneração de impostos e obrigações trabalhistas.

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