O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Especulação impede queda da Selic

Publicado em 17/06/2024 às 17:46

Alterado em 17/06/2024 às 17:46

Na semana em que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) se reúne (dias 18 e 19 de junho) a volatilidade reina pela 3ª semana nos mercados. O dólar segue fortalecido contra todas as moedas (exceção da libra esterlina e do dólar australiano). A maior alta é ante o real, com o câmbio rondando os R$ 5,42 por volta do meio-dia, apesar das projeções da Pesquisa Focus, divulgada pelo BC, apontarem o câmbio em dezembro a R$ 5,15.

Há muita especulação no mercado, nem sempre corroborada pelos dados econômicos. A Pesquisa Focus apontou forte elevação da inflação, medida pelo IPCA, em 2024 (de 3,90% para 3,96%, taxa mantida nas projeções dos últimos cinco dias úteis) e 2025 (de 3,78% para 3,80%, sendo de 3,83% a mediana das projeções dos últimos cinco dias úteis). Isso levou o mercado a cravar que o Copom encerra o ciclo de baixa da Selic nos atuais 10,50%, “em decisão unânime”, segundo o Itaú, e em 9,50% em 2025.

FGV vê baixa em preços industriais
Entretanto, a última pesquisa de preços da FGV, o IGP-10, divulgada nesta 2ª feira, apontou um fato curioso: a alta dos preços caiu dos 1,08% de maio para 0,83% em junho, embora tivesse havido pressão nos preços dos alimentos “in natura” (batata-inglesa, carne bovina e leite), levando a uma alta de 0,87% para 1,11% nos produtos agropecuários no atacado (no varejo o salto da Alimentação foi de 0,53% para 0,97%.

O impacto foi neutralizado pela forte desaceleração dos preços dos produtos industriais no atacado (após alta de 1,50% em maio, desaceleraram para 0,80% até 10 de junho [nos IGPs, os preços no atacado têm peso de 60% e os preços ao consumidor de 30%, com a construção civil completando os 100%]. Os preços dos combustíveis e produtos de petróleo ajudaram a neutralizar a pressão inflacionária a ser transferida para o consumidor no varejo, pois o item Transporte desacelerou de 0,64% para 0,37%.

Focus vê Administrados abaixo do IPCA
Nas projeções do mercado financeiro na Focus um dado inédito corrobora o levantamento da FGV: pela 1ª vez em muitos anos, a mediana do mercado aponta uma variação dos preços administrados para 2024 (3,95%) abaixo da expectativa em relação ao IPCA (3,96%). Para 2025, a Focus prevê alta de 3,80% para o IPCA e 3,84% para os preços administrados, relação mantida nas respostas dos últimos cinco dias: 3,83% e 3,90%, respectivamente.

Isso significa dizer que rompido o componente especulativo que cerca a taxa de câmbio (pelo estreitamento da margem de remuneração das aplicações em real X o dólar, já que o Federal Reserve retardou a baixa dos juros nos Estados Unidos) e a alta temporária dos preços agrícolas, se o governo anunciar medidas para reforço do quadro fiscal, a bolha especulativa pode esvaziar.

Entretanto, se o Copom adotar a cautela de encerrar a baixa dos juros este ano, vai elevar os gastos com juros no giro da dívida interna e engolir todo o eventual esforço de economia das despesas públicas. Nos Estados Unidos o debate sobre os crescentes custos da dívida pública, que supera os 127% do PIB, é tema abordado pelo “New York Times”: ao atingir US$ 34,62 trilhões em abril, a dívida aumentou US$ 3,16 trilhões em 12 meses.

É melhor não contar ao NYT a situação brasileira. Pode provocar nova alta do dólar (desvalorização do real) e levar o Banco Central a elevar mais os juros, piorando tudo, pois juros altos comprimem o PIB e a arrecadação, gerando mais despesas a descoberto.

Monitor do PIB vê avanço de investimentos
A FGV também divulgou hoje o Monitor do PIB em abril, com queda de 0,10$ frente a março. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 5,5% no trimestre móvel findo abril, puxado principalmente pelo consumo de serviços e de produtos não duráveis; ambos cresceram 4,9% no trimestre móvel findo em abril, quando todos os produtos tiveram desempenho positivo.

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) cresceu 4,8% no trimestre móvel findo em abril. Todos os componentes da FBCF contribuíram positivamente para esse crescimento, com máquinas e equipamentos crescendo 5,5%, construção 3,5% e outros 7,2%.

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