O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Se todos os especuladores portassem um lampião...

Publicado em 14/06/2024 às 14:01

Alterado em 14/06/2024 às 14:01

O cinema italiano, sempre divertido, espalhou pelo mundo uma frase impagável: “Se todos os traídos do mundo portassem um lampião, mama mia, que iluminação”. Uso a ideia para falar que se os especuladores pelo mundo afora portassem uma placa de energia solar, a questão energética estaria solucionada. Esta semana que termina foi plena de especulação em todos os mercados financeiros (onde a especulação já é a regra do jogo), porém, extrapolando todos os limites normais.

Uma conjunção de fatos políticos, climáticos e econômicos se deram as mãos desde o final de maio e deixaram os mercados mais nervosos e especulativos do que habitualmente. O pano de fundo é o descompasso entre os ajustes das economias europeias no controle da inflação (o que já permitiu ao Banco Central Europeu a baixar os juros na zona do euro, pela primeira vez pós pandemia) e o Banco da Inglaterra a fazer o mesmo com a libra, com o ajuste do Federal Reserve nos Estados Unidos.

Como o Federal Reserve está ainda às voltas com uma inflação renitente nos EUA e retardou a baixa e a intensidade da queda dos juros americanos, o dólar vem se valorizando sobre as principais moedas do mundo e causando oscilações bruscas, devido à maior especulação, com ações, moedas, mercadorias e juros nos principais mercados globais.

G-20 reflete mudanças políticas
Há um fator político compondo o fundo do cenário: o ano de 2024 pode agravar a tendência recente de avanço das forças conservadoras no mundo. Os primeiros abalos vieram com as eleições na Índia (com vitória mais apertada do que previa o primeiro-ministro, Narendra Modi) e depois no México, que elegeu a primeira mulher para presidente – Cláudia Sheinbaum. Mas a eleição para o Parlamento Europeu, com avanço da extrema direita na França, levou o presidente François Macron a convocar eleições gerais.

Como o primeiro-ministro do Reino Unido, o Conservador Rishi Sunak, já fizera o mesmo (e as pesquisas apostam o candidato Trabalhista como favorito), o eixo político do mundo democrático tende a mudar de mãos. Sobretudo com o tira-teima entre o presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, com o ex-presidente, Donald Trump, que embora condenado, até aqui, pode concorrer em 5 de novembro. E tudo isso, de certa forma, se refletiu na reunião do G-7, na Itália, com participação dos líderes políticos das sete maiores economias do mundo e a presença de observadores como a Arábia Saudita, com posição chave no mundo do petróleo, ainda a commodity mais importante do mundo.

No Brasil, dólar volta a nível da semana anterior
Em semana tensa pela decisão do Federal Reserve sobre juros na quarta feira (ninguém esperava mudança, mas apenas sinais de quanto e quando ocorreria este ano) – que define o cenário para a reunião do Comitê de Política Monetária no próximo dia 19 de junho, tivemos a mais tensa semana do ano. O quadro foi agravado na Argentina pela queda-de-braço do governo Milei com a oposição nas ruas contra o pacote liberalizantes, aprovado, bem mais reduzido, após empate de 36 a 36 no Senado, decidido pelo voto de minerva da vice-presidente.

O dólar chegou a bater R$ 4,4297 no dia 12, no Brasil, mas refluiu no dia seguinte, na praça de Buenos Aires, com a não derrota de Milei, e a maré baixou também nos mercados brasileiros. Nesta sexta-feira, o dólar, que abriu o dia a R$ 5,35,71, chegou a cair a R$ 5,3565 e atingiu a máxima de R$ 5,3742, se sustentava a R$ 5,36 por volta das 13 horas. Na sexta-feira anterior fechara a R$ 5,3259.

O mercado segue dividido, com predominância dos que apostam que, diante das turbulências recentes a maioria do colegiado do Copom vai pedir “mesa” e manter a Selic em10,50% ano, e uma parte que ainda espera um ambiente mais calmo nos mercados globais e no doméstico para o Copom ainda fazer a última baixa de 0,25% para 10,25%. De qualquer forma, espera-se muita discussão no Copom. Será surpresa se vier uma decisão unânime.

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