O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Alimentos sobem quase 3 vezes mais no Sul

Publicado em 11/06/2024 às 16:37

Alterado em 11/06/2024 às 16:37

. OLM

Se não bastassem as mortes e estragos das enchentes no Rio Grande do Sul desde o fim de abril até o fim de maio, a desorganização dos mercados gerou uma forte especulação em cima da escassez de alguns alimentos, como o arroz e a batata inglesa. Com isso, a inflação em Porto Alegre foi quase o dobro da média do país: o IPCA (que mede as despesas das famílias com renda até 40 salários-mínimos (R$ 56.480) subiu 0,46% no país e 0,87% em Porto Alegre; já o INPC (mede as despesas das famílias com renda até cinco salários-mínimos - R$ 7.060) subiu 0,46% no país e 0,95% na capital gaúcha.

Nos meses de abril e maio, enquanto o IPCA subiu 0,84% na média nacional, que inclui os preços de Porto Alegre, coletados pelo IBGE, a alta na capital gaúcha da inflação oficial foi quase o dobro, de 1,51%. Pior situação foi dos gaúchos com renda até cinco salários-mínimos (INPC): a alta em Porto Alegre acumulou 1,67%, o dobro do aumento nacional de 0,83%. Os Alimentos e Bebidas subiram 1,32% em dois meses no país e 3,49%, quase três vezes mais em Porto Alegre.

O IBGE explica que “a situação de calamidade pública na região metropolitana de Porto Alegre, área de abrangência da pesquisa” levou o instituto, que fez a coleta em todo o Brasil entre os dias 1º e 29 de maio, a intensificar a coleta de preços na modalidade remota (via telefone fixo/celular ou internet), que teve representatividade de 65% da amostragem, bem acima dos 20% habituais.

Arroz subiu 5,59% em Porto Alegre
Um dos produtos que foram alvo de especulação foi justamente o arroz – motivo de polêmica porque o governo decidiu fazer leilão de importação, para evitar que a alta no estado que produz 65% do arroz nacional contaminasse outras praças. Ele subiu 1,47% na média nacional, influenciado pela alta de 5,59% em Porto Alegre e de 5,09% em Belo Horizonte.

Os Alimentos e Bebidas tiveram o maior impacto no IPCA (0,13 ponto percentual) ao subirem 0,62% no país, com alta de 2,63% em Porto Alegre. O leite longa vida subiu 5,36% no país e 7,69% em Porto Alegre. Outro grande impacto foi a alta local de 23,94% no preço da batata-inglesa, contra 20,61% na média nacional. De uma maneira geral, talvez pela influência do sistema de coleta, os produtos subiram bem mais em Porto Alegre do que no país.

O pão francês subiu 1,49% em PA, contra 0,20% na média nacional, já com influência da alta no Sul. Um dos poucos produtos que subiram menos no Sul foi a erva-mate (3,77%, contra 3,79% no país). O contrafilé subiu 1,30% no Sul e teve queda de 0,57% no país. O quilo do músculo ficou 3,64% mais caro para os gaúchos, contra alta de 0,42% na média nacional. A carne de porco subiu 2,95%, contra 0,25% na média nacional

O sabão em pó subiu 3,46%, contra queda de 0,77% na média nacional em maio. A gasolina aumentou 0,45% na média nacional e 1,80% em Porto Alegre. O botijão de 13 ks de GLP aumentou 1,04% na média nacional e 7,39% na capital gaúcha. Artigos de cama, mesa e banho aumentara 1,28% para os porto-alegrenses, mas caíram 0,39% na média nacional, que inclui os gaúchos.


OLM

Dados de serviços seguem comportados
Os números da inflação de maio (0,46%, como previram a LCA Consultores e o Itaú, mas acima dos 0,42% da média do mercado) mostraram aceleração em relação aos 0,38% de abril, sob influência das altas de 0,62% dos Alimentos e Bebidas. No IPCA a alta acumulou 2,27%, com aceleração na taxa em 12 meses dos 3,69% de abril para 3,93%. Como em junho de 2023 o IPCA teve deflação de -0,08% e o mercado espera números positivos, com diferencial positivo ainda em julho, a taxa em 12 meses tende a passar de 4,00% de junho a agosto. Mas tanto Bradesco, como Itaú esperam o IPCA em 3,8% este ano.

Na visão do Itaú, a surpresa altista veio de alimentação no domicílio e alguns serviços, compensada por surpresa baixista em gasolina. Os núcleos de inflação de serviços subjacentes vieram acima das expectativas puxados por conserto de automóvel, lanche e serviços de estética, enquanto industriais subjacentes vieram abaixo do esperado, puxados por móveis e roupas.

Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, os serviços subjacentes aceleraram de 4,9% para 5,1%, enquanto o núcleo de industriais subjacentes acelerou de 0,1% para 0,5% (de 0,1%). Mas a média dos núcleos ficou estável em 3,2%. Para o Itaú, embora os serviços subjacentes tenham voltado a acelerar, seguem abaixo do patamar do início do ano). Os serviços ligados a mão de obra não tiveram melhora na margem, mas o banco espera alguma reaceleração desse grupo ao longo do ano refletindo mercado de trabalho apertado.

Para o Bradesco, a alta em 12 meses 5,09% em serviços (4,8% em três meses), que “tem sido acompanhada pelo Banco Central, está mais próxima a 5,0% nos últimos 3 meses”. O banco chamou a atenção para o bom comportamento dos bens industrializados, que “surpreenderam para baixo, com alta menor em vestuário e higiene pessoal. Dessa forma, o núcleo não viesado registrou alta de 3,25% nos últimos 3 meses, continuando trajetória de desaceleração”.

O Bradesco considera que a pressão na alimentação “deve continuar mais pressionada no curto prazo”. O banco espera que “o IPCA encerre o ano com alta de 3,8%, projeção que já incorpora um aumento de preços de alimentos decorrente das perdas no RS. Os núcleos devem ficar abaixo dessa taxa. Para o próximo ano, a política monetária em patamar restritivo deve levar a inflação para mais próximo da meta.”

Deixe seu comentário