O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Itaú vê Selic em 10,50% até fim de 2025

Publicado em 10/06/2024 às 16:06

Alterado em 10/06/2024 às 16:06

A Pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central seguiu apresentando alta nas projeções de inflação e de juros da Selic. O IPCA de 2024 subiu de 3,88% para 3,90%, sendo que a mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis chegou a 3,93%; para 2025, a taxa subiu de 3,77% para 3,78%, e voltou a 3,77% nos últimos 5 dias. Já a Selic foi mantida em 10,25% em 2024 [o mercado aposta na última redução em 19 de junho) e subiu da mediana de 9,18% na semana anterior para 9,25%, nível mantido nos últimos cinco dias, A Selic ficou em 9,00% para 2027 e 2027.

Mas o Cenário de junho do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú, embora mantivesse as projeções de crescimento do PIB para 2024 e 2025 em 2,3% e 1,8%, respectivamente (aguardando para avaliar melhor os impactos das enchentes na região Sul) e a estimativa do IPCA de 2024 em 3,8% (“com risco altista em alimentação”) e em 3,7% para 2025 (com riscos também altistas) em “meio às expectativas de inflação crescentes (já parcialmente desancoradas), atividade econômica resiliente e maiores incertezas doméstica e externa” levou o Itaú a entender “que não há mais espaço para cortes adicionais de juros. Portanto, revisamos nossas projeções para a taxa Selic, de 10,25% a.a. para 10,50%, ao final de 2024 e 2025”

Risco fiscal elevado
O Itaú manteve também as projeções de déficit primário em 0,6% do PIB em 2024 e 0,9% do PIB em 2025, com a arrecadação mais forte compensando os gastos decorrentes das (claramente necessárias) medidas de auxílio ao Rio Grande do Sul”.

Entretanto, reconhece que “o risco fiscal segue elevado, diante da dificuldade em se obter uma trajetória persistente de convergência de resultados primários, do forte crescimento de despesas obrigatórias e dos limites para a expansão das receitas, o que implica a possibilidade de mudanças nos principais parâmetros do arcabouço aprovado no ano passado”.

Câmbio elevado
Apesar do dólar ter rompido a faixa dos R$ 5,30, chegando a ser cotado nesta segunda-feira acima de R$ 5,38, mas recuou por volta das 11 horas e estava sendo cotado às 13 hs a R$ 5,36 para venda (+0,36% frente a sexta-feira), o Itaí continua “projetando taxa de câmbio em R$ 5,15 por dólar em 2024 e R$ 5,25 por dólar em 2025. Os fundamentos externos (de dólar forte) e domésticos (aumento do prêmio de risco e piora significativa das contas externas) dificultam um cenário mais benigno para a moeda”, diz o banco.

Os riscos da inflação
Embora não tivesse alterado as projeções do IPCA em 2024 e 2025, o Itau reitera que “o balanço de risco segue assimétrico, com risco altista em alimentação (devido ao atraso na devolução dos choques de in natura e enchentes no sul do país) e serviços (mercado de trabalho apertado)”.

Meu comentário
A divulgação amanhã, da inflação do maio pelo IBGE (na Focus, a mediana do mercado prevê 0,40%, o Bradesco prevê 0,42%, com a taxa em 12 meses subindo para 3,90%, e o Santander espera 0,38%), pode acalmar o mercado se a pressão sobre os alimentos não se confirmar - a LCA Consultores está prevendo que o IGP-DI, após subir 0,87% em maio, cairá a 0,52% em junho (na composição dos IGPs, os preços dos alimentos no atacado têm peso alto e a previsão indica reversão da alta especulativa.

Quem sabe pela concretização da importação de arroz, indica que o mercado percebe que o governo estará atento a manobras especulativas com outros alimentos e produtos). O Santander prevê que o “índice de inflação deverá mostrar novamente uma leitura mais benigna com os principais núcleos de inflação em torno da meta de 3,0%”. Ou seja, nada está fugindo às previsões.

O que importa mesmo são os sinais do mercado americano, com a decisão do Federal Open Market Committee (FOMC) quarta-feira, 12 de junho. Embora não se espere mudança nos juros, após os fortes dados de mercado de trabalho (Payroll), o Santander considera importante ouvir os sinais emitidos pelo presidente do Federal Reserve Bank, Jerome Powell, posterior à decisão. Na quarta, antes da reunião, serão conhecidos os dados da inflação (CPI).

Para o Santander, os dados da produção industrial em abril “com comportamento misto e sinalização de que a economia está desacelerando” mostram que a combinação potencial de inflação bem-comportada e desaceleração econômica poderá influenciar a decisão na próxima reunião do Copom em 19 de junho”.
Ou seja, há espaço para nova queda da Selic, ao contrário do que prevê o Itaú, com o ciclo encerrando em 10,50% sem justificativas convincentes para tal.

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