O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Os bancos centrais aguardam o Fed

Publicado em 07/06/2024 às 12:19

Alterado em 07/06/2024 às 12:19

Os bancos centrais de mercados desenvolvidos normalmente se movem de forma sincronizada, com o Federal Reserve dos Estados Unidos liderando o caminho. Mas, em um movimento raro, o Banco Central Europeu cortou sua taxa básica de juros antes do Fed. Isso tem implicações para os mercados e economias em todo o mundo, pela valorização do dólar, moeda de referência dos ativos negociados nos mercado de ações, moedas, juros e commodities.

Para os economistas do banco Goldman Sachs, os mercados estão atualmente precificando menos cortes para o Fed do que para o BCE, “o que parece razoável dadas as diferenças de crescimento entre os EUA e a zona do euro”, diz Peter Praet, que atuou como economista-chefe do BCE de 2011 a 2019, no Goldman Sachs Exchanges.

O economista-chefe e chefe de pesquisa do Goldman Sachs, Jan Hatzius, espera que a divergência permaneça limitada. "A economia dos EUA ainda é mais forte do que outras economias do G10, mas na margem isso é um pouco menos verdade agora do que há três meses", diz ele. "Então, tudo me parece que há algum espaço para divergência em termos do que as economias domésticas precisam, mas não uma quantidade enorme necessariamente."

O dólar mais forte
Por enquanto, a divergência nas taxas de juros deve manter o dólar mais forte por mais tempo. Hoje o dólar subiu contra o euro, o iene e o real. "Na medida em que os cortes europeus e do Reino Unido de que estamos falando já estão precificados pelo mercado, eles não terão um grande efeito quando acontecerem, a menos que sejam cortes maiores do que esperamos agora, ou haja mais cortes do que esperamos agora", diz Maurice Obstfeld, que atuou como economista-chefe do FMI de 2015 a 2018. "Mas também há a possibilidade de que a visão do mercado de quando o Fed cortará seja empurrada para o futuro em comparação com onde está agora. Isso contribuiria para um dólar mais forte também."

Por isso, os investidores (inclusive no Brasil) aguardam a reunião de política monetária do Fed no próximo dia 12, que antecede em uma semana as reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), dias 18 e 19 de junho. Dependendo do que o Fed decidir, o Copom promove mais uma queda de 0,25 ponto percentual na Selic para 10,25%. Ou encerra o ciclo, pedindo ‘mesa’, na atual taxa de 10,50% ao ano.

Ao elogiar crédito cooperativo, RCN critica SFN
Chegam a ser engraçadas as colocações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao elogiar as virtudes do cooperativismo em solenidade que comemorou os 35 anos do Sicoob Espírito Santo, no município capixaba de Pedra da Cebola. Seus elogios ao desempenho anticíclico do crédito cooperativo são uma crítica ao Sistema Financeiro Nacional e, no fundo, ao próprio BC, a quem cabe fiscalizar e normatizar o SFN e o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).

“Em crises econômicas, o crédito concedido pelas cooperativas tende a não sofrer retração. Em 2020, em meio à crise decorrente da pandemia, a carteira de crédito do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo aumentou 35%, mais que o dobro do crescimento alcançado pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN) como um todo, de 15,6%. Nos últimos anos, o sistema cooperativo tem crescido de forma contínua, em ritmo muito acima da média do restante do SFN”. [na pandemia, o Banco Central liberou trilhões em compulsórios e limites de alavancagens dos bancos, mas eles emprestaram menos de 35%]
“Em particular, o cooperativismo tem apresentado relevância crescente na oferta de crédito para as empresas de menor porte: nos últimos cinco anos, a participação das cooperativas no crédito para micro e pequenas empresas passou de 15% para 23%, e para médias empresas, de 6% para 12%. Destaco ainda a concessão de crédito não consignado, o financiamento aos micros e pequenos empreendedores e o crédito rural”, disse Campos Neto.

E qual o motivo do maior crescimento do crédito cooperativo? Suas taxas de juros mais moderadas, que resultam em menor inadimplência para o SNCC.

Os ganhos na importação
A balança comercial de maio teve saldo de US$ 8,5 bilhões, bem menor que os US$ 11 bilhões de maio do ano passado. A queda nas vendas de soja, devido à redução da colheita, afetada pelo El Niño, explica boa parte da redução do saldo, junto com as quedas nas cotações do petróleo e do minério de ferro. Mas a análise dos primeiros cinco meses mostra que o saldo de 2024 (US$ 35,9 bilhões) foi maior que o de igual período de US$ 2023 (US$ 34,5 bilhões) com avanço de 2,3% nas exportações, contra apenas 1,8% nas importações.

Petróleo compensa a soja
No acumulado de 2024 as vendas de soja (US$ 26,4 bilhões) ficaram US$ 5,2 bilhões abaixo de 2023. Mas o movimento de petróleo exportado (US$ 20,6 bilhões) e a redução de US$ 900 milhões nas importações de combustíveis (em parte pela nova política de preços da Petrobras, que entrou em vigor em maio de 2023) gerou um aumento de US$ 5,5 bilhões em petróleo e derivados.

O exame das demais contas de importação aumento de US$ 2 bilhões para US$ 4 bilhões em componentes eletrônicos (sobretudo Chips) e as importações de US$ 3,2 bilhões (+ US$ 100 milhões) em peças e partes de automóveis, mostra a retomada nos investimentos da indústria, do comércio e da infraestrutura. O que tende a melhorar a produtividade geral da economia.

As vendas de minério de ferro subiram para US$ 12,9 bilhões + US$ 1,6 bilhão), mesmo com preços mais baixos. E as vendas de açúcar somaram US$ 7,1 bilhões, um acréscimo de US$ 3,2 bilhões sobre o ano passado.

Do lado das importações continuaram as quedas em adubos e fertilizantes (US$ 4,1 bilhões – US$ 1,8 bilhão). O mercado ainda está estocado com as compras especulativas de 2022, quando estourou a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e os preços dispararam. Com a retomada das fábricas de fertilizantes da Petrobras, trata-se de um item que tende a reduzir impacto na importação.

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