O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Banco do Canadá inicia queda dos juros

Publicado em 05/06/2024 às 17:04

Alterado em 05/06/2024 às 17:04

O Banco Central do Canadá iniciou esta 4ª feira, a temporada de baixa dos juros entre os países do G-7 (as sete maiores economias do mundo). O Banco do Canadá tinha iniciado o aumento de juros em 2022, até o nível de 5,00% ao ano, e hoje reduziu a sua taxa overnight em 25 pontos base, para 4,75% ao ano. Amanhã, o Banco Central Europeu deve repetir o movimento e baixar os juros do euro em 0,25 ponto percentual.

Os economistas dos Estados Unidos e dos países europeus e o Japão, acreditam que o pior momento da inflação já passou, ainda que haja dúvidas nos EUA sobre quando e quanto o Federal Reserve afrouxará o controle monetário. Por isso, o comunicado do BCE é aguardado com grande expectativa, pois pode influir na decisão do Fed no próximo dia 12. Não se espera alteração no nível dos “fed funds”, entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas o Federal Open Market Committee (FOMC) pode adiantar o cenário à frente. No mercado americano aposta-se que o Fed afrouxe a política em setembro.

Os movimentos dos bancos centrais devem influenciar fortemente a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que se reúne no dia 19 de junho. A Selic está em 10,50% e a maioria do mercado acredita que haverá a última redução a 10,25%. Uma parte (incluindo parte do Copom) considera que já não haverá mudança. E se o Fed anunciar que o controle da inflação está dando certo, com desaceleração geral nos EUA?

Muita gente se alarmou com a súbita valorização do dólar (uma reação iniciada com a desvalorização de mais de 5% no peso mexicano após a eleição de Cláudia Sheinbaum), sem fazer ligação para o nervosismo geral dos mercados futuros com a ampliação dos controles propostos pela Securities Exchange Comission (SEC) sobre as operações de hedge. A proposta foi adiada e os mercados se acalmaram. Agora, esperam a queda dos juros.

Há espaço para nova queda da Selic?
Ao comentar o resultado do Produto Interno Bruto, que cresceu 0,8% no 1º semestre, num ambiente de melhora do emprego, do consumo e sobretudo do investimento, em meio à desaceleração da inflação em 12 meses, que fechou em 4,62% em dezembro e estava em 3,69% em abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, perguntou – com toda a razão – por que o “mercado [e o Banco Central, vale dizer os economistas com visão monetarista] considera que o bom desempenho da economia e do emprego ameaça a inflação?”.

É só garantir condições para o aumento da oferta (de produtos agrícolas, como ocorreu em 2023, sem interferências do El Niño, na atual safra) e a continuidade da política de preços da Petrobras, em substituição ao famigerado PPI (sistema de Paridade de Preços Internacionais). Numa economia indexada como a brasileira, quando um grupo de preços-chave como o do petróleo e seus derivados e o gás seguem as cotações internacionais e mais as oscilações do câmbio, o país importa uma inflação de uma crise geopolítica internacional. Para se livrar de seus efeitos nefastos, o Banco Central puxa o freio dos juros e derruba a economia e o emprego. Um tremendo contrassenso.

Binômio Alimentos e Petróleo
Os anos recentes têm mostrado que a política de jogar na retranca (praticada pelo Banco Central desde a gestão de Ilan Goldfajn, quase sempre deu errado para combater a inflação. Trouxe mais desemprego e recessão. Os anos em que a inflação arrefeceu e ficou dentro do teto da meta foram de supersafras.

Agora, como a nova política de preços da Petrobras, que passou a usar mais o petróleo mais leve do pré-sal em suas refinarias, que operam a plena carga (em contraponto ao PPI que favorecia a cara importação e desestimulava o uso do parque do refino – que estava à venda, como seria o caso da Petrobras se Bolsonaro fosse reeleito) o país tira partido de dois trunfos inigualáveis: a superoferta de alimentos, que o transformou no maior exportador do mundo, e a auto suficiência em uma matéria-prima como o petróleo.

Ambos bem administradas e dosados funcionam como uma compensação – do ponto de vista da competitividade da economia brasileira – à alta carga tributária (em processo radical de revisão pela Reforma Tributária). A outra ponta que está solta, dada a teimosia ortodoxa do Banco Central, é o nível dos juros reais (descontado a inflação) do Brasil, com um mercado financeiro que precisa ser forçado (e o BC nada faz) para acompanhar a redução da Selic.

A desconfiança do mercado
O grande time do Santos da era Pelé-Coutinho tinha como máxima, “a melhor defesa é o ataque”. É claro que o Santos também tinha uma boa e dinâmica defesa. Mas a arma para inibir os adversários era o seu ataque poderoso. O Flamengo de Jorge Jesus era bem armado na defesa, tinha bons laterais e ensinou os atacantes e o meio de campo a marcar sob pressão e retomar rapidamente a bola. Depois de fracassos no modo retranqueiro (típico do futebol gaúcho e que fracassou duas vezes na seleção, Tite se rendeu ao ataque e o Flamengo aplicou duas goleadas seguidas, A fragilidade do Vasco não é “prova dos nove”, mas serve para atemorizar futuros rivais.

Vejam o que escreveu o economista Yihao Lin, da Genial Investimentos, ao analisar o desempenho do PIB. Chamo a atenção para a ênfase no ‘apesar’:

“Cabe destacar que, apesar da base de comparação já bastante elevada, o setor segue apresentando um bom desempenho, sugerindo que a atividade econômica segue resiliente, beneficiando-se do mercado de trabalho de aquecido e da expansão das políticas fiscais implementadas pelo governo nos últimos trimestres. A taxa de investimento como proporção do PIB saiu de 16,1% no quarto trimestre de 2023 para 16,9% no primeiro trimestre de 2024. Apesar da recuperação neste início de ano, a taxa de investimento ficou abaixo dos 17,1% registrados no mesmo período do ano anterior e ficou estável em 16,5% na média móvel de quatro trimestres findos nos três primeiros meses de 2024. Na nossa avaliação, a recuperação do investimento no início de 2024 refletiu a perspectiva que era mais positiva no período em relação a extenso do ciclo de afrouxamento monetário e a base de comparação mais baixa devido às quedas acumulados no ano passado. Dessa forma, avaliamos que essa recuperação deve ser interpretada com uma certa cautela, em linha com a deterioração do cenário, sobretudo da elevação das incertezas políticas/econômicas nos últimos meses”.

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