O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

PIB cresce 0,8% e equilibra consumo e investimento

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Publicado em 04/06/2024 às 12:27

Alterado em 04/06/2024 às 12:30

Dentre as atividades industriais, houve queda nas atividades de Eletricidade e gás, água, esgoto Foto: Unsplah

A mudança favorável na conjuntura, com redução na taxa Selic, que estava em 13,75% no 1º trimestre de 2023 e caiu a 10,9% no 1º trimestre deste ano, aliada à melhora no mercado de trabalho (aumento da massa salarial real), pela redução da inflação (IPCA caiu de 5,3% para 4,3% na base anual no período) e os programas de transferência de renda, incluídos os precatórios, às famílias, que geraram expansão nominal de 8,5% nas operações de crédito às pessoas físicas, fizeram o Produto Interno Bruto (PIB) crescer 0,8% no 1º trimestre de 2024 contra o 4º trimestre de 2023, após dois trimestres de estagnação, revelou hoje o IBGE. Houve maior equilíbrio entre consumo (+1,5%) e investimento (+4,1%). A tragédia do Rio Grande do Sul deve reduzir o PIB do 2º trimestre e provocar alta maior no 3º trimestre. Para o ano, a previsão é de 2,0% a 2,4%. O Itaú prevê 2,3%.

No acumulado de 12 meses o PIB avançou 2,5%. Foi um desempenho melhor do que os 1,6% registrados pelos Estados Unidos e a média de 1% das economias dos principais países europeus. Entre as nações emergentes, o Brasil ficou mais uma vez abaixo do desempenho da Índia (7,2% nas informações preliminares do governo de Narendra Modi) e dos 5% da China. A Turquia também cresceu mais do que os 0,8% do Brasil no trimestre, alcançando 1,6%, mas amargou uma inflação de 75% em 12 meses.

Serviços lideram o PIB
Pela ótica da produção, o crescimento foi liderado pelos Serviços, que representavam 67,3% do PIB em 2023 e avançou 1,4%. Também houve alta de 11,4% na Agropecuária, enquanto a Indústria se manteve estável (-0,1%).

Dentre as atividades industriais, houve queda nas atividades de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-1,6%), Construção (-0,5%) e Indústrias Extrativas (-0,4%). Já a Indústria de Transformação (0,7%) teve desempenho positivo.

Nas atividades de Serviços houve crescimento em Comércio (3,0%), Informação e comunicação (2,1%), Outras atividades de serviços (1,6%), Atividades imobiliárias (1,0%) e Transporte, armazenagem e correio (0,5%). Por outro lado, houve estabilidade nas atividades de Intermediação financeira e seguros (0,0%) e Administração, saúde e educação pública (-0,1%).

Pela ótica da despesa, a Despesa de Consumo das Famílias (1,5%) e a Formação Bruta de Capital Fixo (4,1%) se expandiram, enquanto a Despesa de Consumo do Governo (0,0%) registrou estabilidade. O Itaú destacou que o bom desempenho foi causado pelo “consumo resiliente e a recuperação do investimento”. O que equilibra melhor a economia.

Quanto ao setor externo, as Exportações de Bens e Serviços tiveram variação positiva de 0,2%, enquanto as Importações de Bens e Serviços cresceram 6,5%.

Vale notar que a pauta das exportações foi liderada pelos produtos da Agropecuária, da Indústria Extrativa Mineral (petróleo e minérios, sobretudo de ferro), de Produtos alimentícios (açúcar e café) e Derivados de petróleo.

Já as importações foram influenciadas pelos Produtos químicos, pelas importações de Máquinas e aparelhos elétricos (indicando o retorno dos investimentos na indústria, comércio e infraestrutura), Produtos de metal e Veículos (com destaque para os elétricos e híbridos).

Frente ao 1º tri de 2023, PIB cresce 2,5%
No mesmo período, a taxa de investimento foi de 16,9% do PIB, abaixo dos 17,1% registrados no primeiro trimestre de 2023. Já a taxa de poupança foi de 16,2%, ante 17,5% no mesmo trimestre de 2023.

Em relação ao 1º trimestre de 2023, o PIB avançou 2,5%. A Indústria cresceu 2,8% e os Serviços avançaram 3,0% no período, enquanto a Agropecuária teve queda de 3,0%.

O IBGE destacou que o “crescimento na importação de bens de capital e o desempenho positivo da construção e do desenvolvimento de software suplantaram a queda na produção interna de bens de capital”, indicando apetite de investimento para a modernização do parque produtivo.

Decomposição do PIB mostra mais robustez
Uma das novidades do PIB deste ano é a volta à liderança dos setores de maior peso na composição do Produto Interno Bruto. A perda nas safras de grão deste ano, por causa do El Niño, que derrubou a safra de soja, esvaziou a importância da agropecuária (cresceu 22,9% no 1º trimestre de 2023 e agora 11,3%). O setor de serviços, que representa 67,3% do PIB (dados de 2023) e é o maior empregador do país, liderou o crescimento.

O comércio, que representa 12% do PIB, quase tanto quando a Indústria de Transformação (15,3), cresceu 3,0% no trimestre e 1% no acumulado de 12 meses. A indústria de Transformação reagiu, com expansão de 0,7% no trimestre, mas sem evitar queda de 0,6% em 12 meses. Comportamento inverso tiveram a Indústria Extrativa Mineral (queda de 0,4% no trimestre e liderança na expansão em 12 meses: 8,2%) e os Serviços Industriais de Utilidade Pública (água e esgoto, luz, gás e coleta de resíduos), que encolhera 1,6% no trimestre e tiveram crescimento de 5,9%.

Dos itens de grande peso na formação do PIB, apenas Atividades Financeiras , Serviços de Utilidade Pública, a Construção e a Indústria Extrativa tiveram performance pior que a média do PIB.

Na ótica das despesas, os gastos do governo foram contidos no 1º semestre, quando prevaleceram os gastos de consumo das famílias, sob o impulso da melhora do mercado do trabalho, a queda da inflação e a redução – ainda muito lenta – dos juros para os tomadores finais.