O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

BCE reduz juros; mercado prevê Selic em 10,25%

Publicado em 03/06/2024 às 17:15

Alterado em 04/06/2024 às 11:40

Amanhã, o Banco Central Europeu deve dar início à baixa de juros do Euro, atualmente em 4,50% ao ano, para 4,25%, o que será um teste para o Fed. O Banco da Inglaterra já está em processo de redução dos juros. As estimativas para o BCE é de que a taxa de juros possa cair até 3,75% em 2025. Mas o relatório semanal Focus, divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central, mostrou novo aumento das expectativas de inflação e juros. O mercado prevê que a taxa Selic terá a última redução em 2024, a 10,25%, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 19 de junho.

Isto ocorreria mesmo depois dos últimos dados de desaceleração da inflação nos Estados Unidos indicarem, para os economistas americanos, que o Federal Reserve Bank poderia anunciar, na sua reunião de 12 de junho, o início da queda dos juros em setembro, dois meses antes da eleição de 5 de novembro. A taxa nos EUA está entre 4,35% e 4,50% ao ano.

Para 2024, a mediana das expectativas dos analistas para o IPCA passou de 3,86% para 3,88% (com as previsões dos últimos cinco dias úteis alcançando 3,90%) , enquanto, para 2025, houve alta de 3,75% para 3,78% (3,78% nos últimos 5 dias). Para 2026, novo horizonte da política monetária, a projeção subiu de 3,58% para 3,60%.

Ciclo de juros e a meta
Em função das projeções maiores de inflação, houve ajuste quanto ao fim do ciclo dos juros. A mediana da taxa Selic subiu de 10,00% para 10,25%, indicando que o mercado não espera mais reduções este ano. Há cinco semanas, esse valor estava em 9,50%. Para 2025, a mediana da projeção subiu de 9,00% para 9,18%, mas, nas projeções dos últimos cinco dias úteis, voltou a ser de 9,0%, nível mantido para 2026 – novo horizonte da política monetária – e para 2027.

Apesar dos ruídos quanto a uma possível elevação da meta da inflação de 2027, desmentida pelo governo, na reunião do Conselho Monetário Nacional de 26 de junho (de 2024 a 2026 a meta é de 3,00% com tolerância de 1,50% para cima ou para baixo), o mercado não alterou as expectativas para a inflação de 2027, que ficou estável em 2027, numa indicação de que os movimentos do Fed têm mais impactos no Brasil do que as oscilações da economia doméstica.

PIB cresce puxado por Serviços
O IBGE informa amanhã o resultado das Contas Nacionais do 1º trimestre. Sem sofrer os impactos climáticos do Rio Grande do Sul (a 5ª economia regional do país, com peso de 6,5% no PIB nacional), as estimativas do mercado variam de um crescimento trimestral de 0,5% (previsão da LCA Consultores) a um avanço de 0,8% (projeção do Bradesco e do Santander.

A grande diferença do desempenho em relação ao 1º trimestre de 2023, quando a agropecuária teve expansão de 22,9%, é que agora, impactada pelo fenômeno El Niño, que reduziu a safra de grãos (a soja é colhida no 1º trimestre), a agropecuária deve encolher 2,2% na avaliação do Santander.

Puxado pela expansão do consumo das famílias (as estimativas são superiores a 4,2%, em parte impulsionado pelo pagamento de mais de R$ 90 bilhões de precatórios atrasados desde o calote do governo Bolsonaro, em fins de 2021), o setor de Serviços (que pesa cerca de 67% no PIB, contra menos de 8% da agropecuária) deve crescer de 2,7% a 2,9% (nas estimativas do Santander), contra 1,9% no mesmo período do ano passado.

O setor industrial também teve grande impulso nos primeiros meses do ano, com aumento de investimentos gerados pelos planos de modernização da indústria. Um dos impactos disso é o esperado crescimento de 4,6% (previsão do Santander) na Formação Bruta de Capital Fixo, que indica forte inversão na taxa de investimento dos setores industriais, de infraestrutura e comercio (no último trimestre de 2023, houve queda de 4,4% na FBKF.

Outro impacto que confirma o aumento das compras internacionais de bens de capital e máquinas e equipamentos, será apresentada pelo aumento de 4% a 4,5% nas importações. Já as exportações terão crescimento próximo de zero devido às perdas da safra de soja.