O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Mundo espera que Ata do Fed defina juros

Publicado em 22/05/2024 às 16:54

Após conversas com alguns diretores do Banco Central (da ala mais conservadora), economistas do mercado financeiro apresentam análises de que, diante das incertezas sobre a decisão do Federal Reserve Bank sobre o futuro dos juros nos Estados Unidos, que influenciam o dólar e a economia mundial, sobretudo os preços dos ativos expressos em dólar, pode nem haver mais espaço para a última queda da taxa Selic, atualmente em 10,50%.

A situação mostra, que apesar de todas as teorias e modelos macroeconômicos, o maior peso nas decisões econômicas depende do que decidir o Federal Open Market Committee – FOMC). A última reunião do FOMC, de 1º de maio, que manteve as taxas de juros entre 5,25% e 5,50% ao ano, terá a íntegra da Ata com as informações trocadas entre seus membros divulgada logo mais às 15 horas.

Por isso, o mercado financeiro em todo o mundo – e aqui não poderia ser diferente – aguarda as sinalizações do FOMC, o órgão que inspirou o Comitê de Política Monetária do Banco Central e elabora a política monetária dos Estados Unidos. Pelo tom da última declaração, o Fed só faria uma única redução de juros este ano, na base de 0,25%, em dezembro. Sinais recentes podem abreviar o início da queda para setembro. Toda a atenção na Ata.

Uma divisão entre Euro e Dólar
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, afirmou ontem que um corte na taxa de juros é provável no próximo mês, com a desaceleração relevante da variação dos preços. Ela expressou confiança de que a inflação está sob controle, com previsões para os próximos anos que se aproxima muito da meta, se não atingindo-a. Esta sinalização já foi amplamente sinalizada. A taxa de depósito, que está no nível recorde de 4% desde o outono passado, deve ser reduzida em 0,25 ponto percentual. Os investidores também esperam mais dois ajustes dessa magnitude em setembro e dezembro de 2024. Mas os membros do Conselho Governativo do BCE têm evitado em se comprometer em com um a trajetória para as taxas.

Em entrevista terça-feira, o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, pediu cautela após uma provável primeira redução, ao destacar que "a incerteza ainda é alta." Ele enfatizou que, mesmo que as taxas sejam reduzidas pela primeira vez em junho, isso não significa necessariamente cortes adicionais nas reuniões subsequentes. "Não estamos no piloto automático”, advertiu.

Já nos Estados Unidos, mais diretores do Fed reiteraram a necessidade de manter os juros altos por mais tempo. Christopher Waller, membro do “board” do Fed, comentou que os dados mais recentes do CPI foram um sinal tranquilizador de que a inflação não está em aceleração. Também destacou que o enfraquecimento das vendas no varejo em abril e a moderação da demanda no mercado de trabalho sugerem que a política monetária é apropriada para exercer pressão descendente sobre a inflação. A evolução da economia parece estar mais próxima do que o Comitê esperava, segundo Waller.

No entanto, na ausência de um enfraquecimento significativo do mercado de trabalho, é preciso aguardar mais alguns meses de bons dados de inflação, possivelmente entre três e cinco meses, antes de os diretores do FED se sentir em confortáveis em apoiar um afrouxamento da política monetária.

Raphael Bostic, do Fed de Atlanta, comentou sobre a taxa neutra de juros. Ele acredita que existem justificativas para que o juro neutro tenha aumentado nos últimos anos. Segundo Bostic, o Fed planeja tratar dessa questão nos próximos meses. Além disso, ele afirmou que no último trimestre do ano, será possível reduzir a taxa básica de juros.

O vice-presidente de Supervisão do Fed, Michael Barr, reiterou que os membros do FOMC precisam manter as taxas de juros estáveis por mais tempo do que se pensava anteriormente para conseguir reduzir completamente a inflação. "Precisamos permanecer onde estamos por mais tempo do que pensávamos anteriormente, e acho que estamos em uma boa posição para fazer isso," disse Barr na terça-feira.

Ele afirmou que a política monetária é restritiva e está impactando a economia. "Precisamos ver mais evidências de progresso contínuo na inflação para estarmos em uma posição onde possamos considerar ajustar a taxa de política," declarou. Ele também mencionou que os riscos relacionados às taxas de juros continuarão a ser uma preocupação para alguns bancos e precisam ser geridos de forma prudente.

LCA já vê um corte ou nenhum na Selic
Essa incerteza no mundo levou a LCA Consultores a atualizar seu cenário e mudar mais uma vez para cima suas projeções para o nível de juros terminal da taxa Selic. Em abril (antes do Fed alterar seu calendário de três cortes de 0,25% para apenas um), a consultoria passou a avaliar que o atual ciclo de flexibilização monetária seria interrompido com a Selic em 9,5% ao ano, e não mais em 8,5% ao ano. Na semana passada, a LCA ajustou novamente a projeção para a Selic, para incorporar apenas mais um corte, de 25 pontos-base, na reunião agendada para 19 de junho, para 10,25% ao ano -depois mantida nesse patamar por um período prolongado, ao menos até meados de 2025.

Entretanto, diante dos fatos recentes (descompressão parcial do dólar, mas pressões adicionais na inflação e nos gastos públicos para o socorro ao Rio Grande do Sul), agravados pelos ruídos de comunicação dentro do Copom, a consultoria adverte que “essa perspectiva de corte adicional da Selic em junho está condicionada a uma acomodação de riscos. Ou seja, que o alívio no ambiente externo se consolide com a divulgação dos resultados vindouros da inflação nos EUA; e, sobretudo, que a deterioração recente das expectativas para a inflação doméstica seja contida”.

E lança sentença preocupante: “As chances de que o ciclo de flexibilização seja encerrado sem cortes adicionais da Selic parecem ter se elevado”.