O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Focus 24-25: IPCA 3,84-3,70; Selic:10-9%

Publicado em 20/05/2024 às 17:18

Alterado em 20/05/2024 às 17:18

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Duas semanas após o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduzir o ritmo de queda da Selic de 0,50%, como anunciado na reunião de março, a 0,25%, para 10,50%, e as primeiras avaliações do impacto econômico da tragédia climática do Rio Grande do Sul, as águas não baixaram o suficiente em Porto Alegre e nas margens do Guaíba, mas o mercado financeiro já enxerga na Pesquisa Focus novo cenário para 2024-2025 e até 2027.

Há um mês o mercado previa IPCA de 3,73% este ano, que foi subindo para 3,80% na mediana das respostas da 6ª feira passada e para 3,84% nas respostas dos últimos dias úteis; para 2025, o IPCA avançou de 3,60% há um mês, para 3,74% na mediana na semana passada, com recuo para 3,70% na visão dos últimos cinco dias; para 2026 e 2027 as projeções ficaram em 3,50%.

Alta na Selic até 2027
A expectativa de que a batalha contra a inflação nos Estados Unidos (e no mundo) será mais duradoura, e pode ter interferência política no Federal Reserve (apesar de sua independência) - se Donald Trump vencer o presidente Joe Biden -, levou o mercado a encurtar o ciclo da queda da Selic este ano para 10% ao ano (com uma queda de 0,25% em 19 de junho e outra em 31 de julho – em fevereiro previa fechar o ano em 9,00%); manter as projeções de 9,00% em 2025 e 2026 e elevar a taxa de 2027 de 8,63% para 9,00%.

Entretanto as pressões altistas na inflação terão fôlego curto de imediato: a previsão do mercado para o IPCA de maio saltou de 0,25% há um mês para 0,33 na semana passada e para 0,34% nas respostas dos últimos cinco dias úteis; para junho, a taxa avançou de 0,17%, há um mês, para 0,18% na semana passada e voltou a 0,17% nas previsões dos últimos cinco dias. Para julho, a taxa ficou estável em 0,15% de um mês atrás e baixou a 0,13% nas respostas dos últimos cinco dias úteis. O mercado não viu fantasmas no IPCA.

Além da inflação ter pressões altistas em alimentos e na cadeia produtiva dependente do suprimento gaúcho, o mercado ajustou a taxa do dólar ao novo cenário dos juros mais elevados nos EUA: o dólar de dezembro de 2024, há um mês estimado em R$ 5,00, avançou para R$ 5,04. com ligeiro recuo nas respostas dos últimos cinco dias, para R$ 5,02, com os sinais de arrefecimento da inflação nos EUA. Para 2025, o mercado elevou para R$ 5,05.

Impacto nas contas fiscais
Outro impacto foi nas contas fiscais, já em reavaliação após o reconhecimento do Ministério da Fazenda de que as metas de 2024 e 2025 eram inexequíveis. E o cenário sobre as projeções do déficit primário do setor público (receitas menos despesas, excluídas os juros da dívida, ficou mais difícil com os elevados gastos para reerguer a sociedade gaúcha.

Há um mês, o déficit primário deste ano era estimado em 0,70% do PIB, caiu para 0,63% na semana anterior à tragédia e subiu para 0,70% na mediana da semana passada e para 0,73% nas previsões dos últimos cinco dias úteis; para 2025, o salto foi de 0,60% há um mês para 0,63% na mediana da semana passada e para 0,69% nos últimos cinco dias úteis. Para 2026 ficou estável em 0,50% e caiu para 0,30% em 2027.


As razões de Campos Neto
Segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no Copom, os debates seguem um padrão: cada diretor expõe sua visão, cenário e riscos. Não é necessário que um diretor consulte outro sobre os temas que abordará em eventos públicos. Na última reunião, vários diretores admitiram ter dúvidas [sobre manter a baixa de 0,50% na Selic ou recuar 0,25%], segundo Campos.

A ênfase é na análise técnica e não em convencer os colegas, afirmou. O presidente acredita que independente da votação, se a decisão é técnica e se a comunicação é feita com qualidade e transparência, o mercado entende. Sobre encerrar o mandato com as projeções de inflação dentro da meta, disse que seu objetivo “é fazer o máximo para alcançar esse resultado, embora garantir tal feito seja desafiador”, ressaltando a importância de perseguir a meta.

Indagado sobre sua disposição ante as críticas caso o Banco Central opte por interromper os cortes, Campos respondeu que seguirá o que considera correto e se empenhará em explicar as razões por trás da decisão. Ele destacou que as escolhas são feitas com as informações disponíveis no momento.

Para ele, a melhor maneira de promover o crescimento sustentável sem gerar desigualdades é manter a inflação baixa, princípio que, segundo ele, já foi comprovado. [concordo plenamente, mas, com juros reais muito altos, não há estímulo ao consumo e ao investimento, garantia maior da estabilidade futura].