O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Itaú muda cenário e prevê Selic em 10,25%

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Publicado em 18/05/2024 às 17:17

Alterado em 18/05/2024 às 17:17

Itaú Reprodução

Com o título “Mudando o plano de voo em meio à baixa visibilidade”, o Itaú apresentou, sexta-feira à noite, a revisão do cenário econômico de maio, já incorporando avaliações dos impactos econômicos das enchentes no Rio Grande do Sul. O dado mais importante é que com a trava na baixa de juros nos Estados Unidos, que pressiona a valorização do dólar em todo o mundo, o Itaú prevê agora só mais um corte na taxa Selic em 2024, para 10,25%, na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, dia 31 de julho.

O Itaú, além das terríveis consequências humanitárias das enchentes na região sul do país, estima possíveis consequências negativas sobre a atividade econômica e a inflação. Para o PIB, o efeito pode ser na ordem de -0,3 p.p. de crescimento em 2024, com impactos potenciais sobre a safra de soja e sobre a indústria (com alguma destruição de capacidade instalada).

Para a inflação, o efeito deve ser altista, com o choque de oferta impactando especialmente os preços de arroz e soja, itens que o estado é importante produtor (com riscos mais acentuados no caso do arroz que da soja, que conta com um quadro global de oferta mais confortável). Também pode haver pressão temporária em preços de outros alimentos in natura.

Do lado fiscal, a destruição causada pelas enchentes deve demandar necessários gastos extraordinários não sujeitos às regras fiscais. Nesse primeiro momento, será importante acompanhar o escopo, duração e valores envolvidos na ajuda ao estado.

Crescimento resiliente no 1º trimestre
“A atividade econômica segue robusta no início do ano. Nosso tracking do PIB aponta para alta de 0,7% na margem (2,3% na variação anual) no 1º trimestre de 2024. Os dados de março continuaram indicando que a economia começou o ano em ritmo forte. A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) surpreendeu o mercado pela terceira vez este ano, crescendo 5,7% na variação anual no conceito restrito versus expectativa de 5,2%. Além do pagamento de precatórios, o reajuste de benefícios sociais vinculados ao salário-mínimo e antecipações dos pagamentos do 13º para beneficiários do INSS impulsionaram o consumo das famílias neste início de ano”.

PIB cresce 2,3% em 2024 e 1,8% em 2025
Para 2024, o Itaú manteve a estimativa de crescimento de 2,3%, com consumo sustentado e recuperação do investimento. “Acreditamos que os meses de abril e maio devem continuar positivos com o consumo beneficiado pelo aumento da renda (dada a robustez do mercado de trabalho, pagamento extra de precatórios, antecipação dos precatórios regulares para março e aumento real do salário-mínimo). Soma-se a isso, a perspectiva positiva para as concessões de crédito. Por outro lado, as enchentes no Rio Grande do Sul impõem um risco baixista para a nossa projeção de PIB no ano”, diz a análise do banco.

“Para 2025, mantivemos a nossa projeção de desaceleração do crescimento do PIB para 1,8%. Parte dos fatores que impulsionaram a atividade este ano são pontuais e não devem se repetir no próximo ano. Além disso, a perspectiva de uma taxa de juros mais elevada no final do ciclo de afrouxamento tem impacto negativo no impulso monetário sobre o crescimento do ano que vem. Por fim, o mercado de trabalho tem se mantido vigoroso, corroborando nosso cenário de uma taxa de desemprego em patamar

As previsões de maio
“Mantivemos as nossas projeções de crescimento do PIB para 2024 e 2025 em 2,3% e 1,8%, respectivamente. Para o mercado de trabalho, os últimos dados continuam mostrando vigor, corroborando a nossa projeção de que a taxa de desemprego deve se manter em nível historicamente baixo, de 7,8% em 2024 e 8,0% em 2025”.

“Mantivemos as nossas projeções de déficit primário em 0,6% do PIB em 2024 e 0,9% do PIB em 2025, respectivamente. O risco fiscal segue elevado, diante da dificuldade em se obter uma trajetória persistente de convergência de resultados primários, entre resistências ao controle de despesas e os limites para a expansão das receitas, o que implica a possibilidade de mudanças nos principais parâmetros do arcabouço aprovado no ano passado”.

“Revisamos a nossa projeção de câmbio para R$ 5,15 por dólar (de R$ 5,00) em 2024 e R$ 5,25 por dólar (de R$ 5,20) em 2025, com cenário internacional mais desafiador (em razão do dólar forte, com a economia americana crescendo mais do que outros países e riscos geopolíticos) e risco fiscal elevado”.
“Revisamos nossa projeção de IPCA 2024 para 3,8% (de 3,7%), incorporando alimentos e bens industriais mais altos no ano. Para 2025, revisamos nossa projeção para 3,7% (de 3,6%), incorporando o efeito do câmbio em bens industriais. Para ambos os anos, os riscos seguem assimétricos de alta”.
Incertezas externas e internas

“O cenário global desafiador (com dólar forte) e as incertezas domésticas (com pressão em preços de serviços mais sensíveis ao desempenho do mercado de trabalho, aumento do risco fiscal e expectativas desancoradas) fizeram com que o Banco Central (BC) revisasse seu plano de voo, reduzindo o ritmo de flexibilização monetária na última reunião” (8 de maio).

“Considerando o firme compromisso declarado pela autoridade monetária em perseguir a meta de inflação, avaliamos que o espaço para cortes adicionais de juros está mais limitado e projetamos que a taxa Selic termine o ano em 10,25% a.a., permanecendo nesse patamar até o final de 2025 (ante 9,75%)”.

A mudança nos planos do Federal Reserve (que originalmente baixaria os juros nos EUA em 0,75 ponto percentual (a taxa atual varia entre 5,25% e 5,50% ao ano) a partir de maio, com mais possibilidade de uma única baixa em dezembro (se a inflação ceder, pode haver baixa em setembro, antes das eleições) levou o Itaú (e o Copom) a um aumento de meio ponto percentual e 1,25% acima da meta de 9,00% ao ano fixada pelo Itaú em fevereiro. A taxa final foi sendo elevada para 9,25% em março e 9,75% em abril, à medida que o Fed ficava mais duro para combater a inflação americana resiliente.