O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Cheias do RS afetam IPCA-25 e Selic-26

Publicado em 13/05/2024 às 13:55

Alterado em 13/05/2024 às 13:55

O mercado financeiro e os agentes econômicos aguardam a divulgação amanhã da Ata do Copom, para entender o grau de divergência (4 X 4) no Comitê de Política Monetária do Banco Central, arbitrado pelo voto de minerva do presidente Roberto Campos Neto por queda de apenas 0,25 ponto percentual na Selic para 10,50% ao ano. Mas a pesquisa Focus, encerrada 6ª feira e divulgada hoje pelo BC, ainda sem avaliações precisas dos estragos dos desastres climáticos do Rio Grande do Sul, que prosseguem, já mostra elevações da inflação para 2025, com impacto na alta da Selic até 2026.

Na mediana da Focus, o mercado elevou a projeção do IPCA de 2024 de 3,71% (há um mês) para 3,72% na semana anterior, 3,76% na semana passada e para 3,74% nas respostas dos últimos cinco dias úteis. Já a inflação de 2025, que terá perda de parte da produção gaúcha nas regiões afetadas, teve mais forte variação: de 3,56% há um mês, para 3,64% na semana anterior, 3,66% na mediana da semana passada, para 3,75% nas respostas dos últimos cinco dias úteis.

LCA vê pressão em Transportes

A LCA Consultores, está mais pessimista. Ela reviu suas projeções elevando para 3,70% a previsão do IPCA deste ano e para 4,00% a taxa de inflação de 2025. Esse movimento altista especulativo, na sua visão, não deve impactar os preços dos alimentos na inflação de maio. Após registrar alta de 0,21% no IPCA-15 de abril e 0,38% no índice cheio do mês, a consultoria estima alta de 0,49% no IPCA-15 de maio e de 0,35% no índice cheio (a mediana da Pesquisa Focus está prevendo 0,30% e 0,33% (últimos 5 dias).

Mas a Alimentação e bebidas terá desaceleração: depois dos 0,61% no IPCA-15 de abril e de 0,70% no mês cheio, a LCA espera 0,64% na alta do IPCA-15 e 0,43% no IPCA de maio. Os preços da Habitação terão alta de apenas 0,09% (pelo impacto da redução das tarifas residenciais), mas, em função de rescaldos dos aumentos dos remédios no fim de março, saúde e cuidados pessoais, já pressionado pela cota-parte mensal dos reajustes dos planos de saúde, deve subiu 0,45%, um pouco acima dos o,43% do Vestuário (em tempos de nova estação).

O grande impacto, segundo a LCA, viria na aceleração de Transportes (0,14% no IPCA de abril, 0,92% no IPCA-15 e 0,69% no IPCA cheio) “na esteira da alta que coletamos para passagem aérea (+8,0%), bem como pelas pressões remanescentes da relevante alta de etanol e seus desdobramentos na gasolina. Para os preços monitorados, ela projeta alta de 0,44%.

O que muda com os juros

Nas projeções anteriores do mercado financeiro nas Pesquisas Focus, a taxa Selic fecharia dezembro de 2024 em 9% e em 8,50% em 2025. Na visão do mercado, até duas semanas anteriores, a Selic estaria em 10,25% atualmente (e não em 10,50%) e na reunião de 18 e 19 de junho cairia para 9,75%, com duas quedas de 0,50 ponto percentual. Depois da decisão do Copom na semana passada, o mercado reviu a projeção para 10,25% em junho.

Esse aumento de meio ponto percentual até meados de junho forçou uma revisão geral de todos os contratos futuros de ações, moedas, commodities e títulos, que antes contavam com uma curva de juros mais suave. E a grande expectativa nas entrelinhas da Ata do Copom é decifrar até quando irá o processo de baixa. Muito depende de o Federal Reserve anunciar quando moveria para baixo os “fed funds” e para que nível em 2024 e 2025. O Banco da Inglaterra já indicou movimento de baixa na próxima reunião. Pelo calendário original, o Fed iniciaria em maio baixa de 0,25% (0,75% no ano).

A cautela do Fed, que julga ser necessário prolongar o aperto monetário para a inflação ceder nos Estados Unidos, levou o Copom a maior cautela. O mercado reagiu renegociando contratos futuros com juros mais altos. E o ajuste atingiu até 2026. A previsão anterior era de que a Selic fecharia em 8,50% a.a., como em 2025. Mas a taxa de 2025 foi elevada para 9,00% e a de 2026, também, com avaliações de que os estragos no RS terão reflexos na inflação futura.

O que o mercado quer decifrar, na Ata amanhã, é se o horizonte de queda termina em junho ou se prolonga com novas quedas de 0,25 ponto percentual nas reuniões do Copom em 30 e 21 de julho e de 17 e 18 de setembro. O Itaú já advertiu que não há chance nula de a queda da Selic parar em julho, com a última baixa para 10,00%.

Serviços dirá tamanho do PIB

O mercado aguarda também amanhã a divulgação da Pesquisa Mensal de Serviços de maio pelo IBGE. Ele vai indicar o tamanho da expansão do PIB no primeiro trimestre. O Bradesco está prevendo alta de 0,50% no volume de serviços em março, a LCA, 3% e a mediana do mercado, 2%. A LCA prevê para o IBC-Br de março que o Banco Central divulga na quarta-feira estabilidade (0.0%).

Mas o Itaú está otimista e prevê avanço de 2,5% no PIB do 1º trimestre. Tudo ia bem, havia previsão de queda do dólar e dos juros e não tinha surgido o cataclisma climático do Rio Grande do Sul, que atingirá em cheio o 2º trimestre.