O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

IPCA de 0,38%: Itaú vê desaceleração

Publicado em 10/05/2024 às 14:58

Alterado em 10/05/2024 às 14:58

Ao analisar, o IPCA de 0,38% em abril (0,16% em março) – previsão da LCA Consultores, pouco acima dos 0,37% previstos pelo Itaú, e acima das expectativas do mercado (0,35%), acumulando em 12 meses, alta de 3,69%, contra 3,93% em março -, o Itaú e o Bradesco destacaram a “pequena surpresa altista em gasolina” [subiu 1,50%, influenciada pela alta de 4,56% do etanol que entra em 27% na gasolina comum], movimento “compensado por surpresa baixista em industriais (produtos farmacêuticos)”.

O Itaú destacou que nos núcleos de inflação, os serviços subjacentes e os preços industriais subjacentes vieram próximos do esperado. Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, os serviços subjacentes desaceleraram de 5,8% para 4,8%, enquanto o núcleo de industriais subjacentes desacelerou de 2,0% para 0,0%. Na mesma métrica, a média dos núcleos desacelerou de 3,5% para 3,0%.

No primeiro índice após a decisão do Copom de reduzir o ritmo de baixa da Selic de 0,50% para 0,25%, o Itaú viu o resultado com “qualitativo benigno”. Segundo o banco, a média móvel de 3 meses dos serviços subjacentes recuou (passado o reajuste de serviços bancários no início do ano), assim como dos industriais subjacentes (passado o choque altista de janeiro).

O índice de difusão subiu de 56% em março para 57% em abril. A pesquisa foi feita entre os dias 29 de março e 30 de abril, ainda sem refletir no varejo as altas especulativas no atacado com alimentos no atacado, devido à tragédia climática no Rio Grande do Sul, o total de produtos alimentícios em alta caiu de 61% em março para 52%. O arroz teve queda de 3,37% em Porto Alegre em abril, segundo o IBGE. Em sentido inverso, os produtos industriais em alta passaram de 53% em março para 60% em abril.

Os 5 vilões da inflação

Mais da metade (0,21 p.p. ou 55%) da alta de 0,38% no IPCA, que mede as despesas das famílias com renda até 40 salários-mínimos (R$ 56.480) foi causado pelos aumentos combinados de cinco produtos: a alta de 1,50% na gasolina pesou 0,08 p.p., seguido pela alta de 14,09% do tomate que impactou em 0,04 p.p. Outros três itens pesaram igualmente 0,03 p.p. no IPCA: a cebola com alta de 15,63%; o mamão, com alta de 22,76%; e os produtos farmacêuticos, que subiram 2,84% (o reajuste autorizado de até 4,50% em 31 de março deve ainda impactar o mês de maio). No acumulado do ano, o vilão entre os alimentos segue sendo a cenoura, com alta de 55,12%.

O café da manhã ficou mais caro com as altas de 3,08% no pó de café em abril (acumulando 5,26% no ano) e aumento de 1,47% no leite longa vida (alta de 8,56% nos quatro primeiros meses do ano). O mamão papaia, com alta de 22,76% em abril acumula 25,16% no ano. Em compensação a manga baixou 6,34% em abril, enquanto a banana prata e a d’água recuavam 4,19% [cartel?]. Ainda assim, a banana prata acumula alta de 21,30% no ano.

Churrasco a salvo, mesa em risco

Com nova queda de 0,97% nos preços médios das carnes - a alcatra baixou 2,01% em abril, o contrafilé ficou 1,64% mais em conta, segundo o IBGE, e a picanha caiu mais ainda: 4,20% e quilo do filé-mignon baixou 4,83%. Como as carnes pesam 2,4045% no IPCA, para famílias com renda até R$ 56.480, o churrasco pode ter voltado a ser hábito mensal ou nos fins de semana. Já o quilo do acém corte ao alcance das famílias de menor renda caiu apenas 0,38% em abril e o quilo do músculo baixou 0,28%. A costela baixou 1,37%. No entanto, o peito subiu 1,15% e a pá encareceu 0,55%.

No acumulado do ano as carnes caíram 2,39% segundo o IBGE, mas há um aparente paradoxo: a baixa tem sido mais acentuada nas carnes nobres (mais caras por quilo), como a picanha (-4,52%), a alcatra (-3,05%), o contrafilé (-3,79%) e o filé mignon (-5,62%) do que nos artigos mais ao alcance das famílias que ganham até cinco salários-mínimos (R$ 7.060): o acém baixou só 1,15%, o peito (-0,05%), o músculo (-1,56%) e a pá (-0,55%).

A explicação está ligada à recente característica das carnes exportadas. Por influência religiosa, judeus e muçulmanos só consomem as carnes bovinas e de carneiros da parte dianteira (as chamadas carnes de 2ª). Os chineses, que são hoje os maiores importadores de carne bovina do Brasil (maior exportador mundial), também fazem restrição à carne mais suculenta do traseiro dos animais (do umbigo para trás), por estarem próximas aos órgãos sexuais.

O resultado é que os grandes frigoríficos fazem ofertas periódicas às redes de supermercados das carnes consumidas nas mesas mais ricas. Os mais pobres ficam disputando um mercado mais estreito pela demanda das exportações. A genética dos rebanhos bovinos passou a privilegiar, via cruzamentos de gado zebu (à frente o Nelore, mais rústico nos pastos com raças europeias), animais de grande caixa dianteira e que podem ir mais cedo ao abate (24 a 30 meses, exigidos pelos importadores) com engorda final em enormes currais de confinamento das regiões agrícolas aproveitando soja, milho e silagem de capim da região Centro-Oeste.

Por isso, saibam os médicos de dieta, a carne tem sido uma boa surpresa nos índices inflacionários, compensando altas de frutas, legumes e verduras.