O OUTRO LADO DA MOEDA
De saída, RCN volta a ser minerva, duro
Publicado em 09/05/2024 às 16:00
Alterado em 09/05/2024 às 18:01
A decisão dividida do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), quando quatro diretores (todos indicados pelo governo Lula) argumentaram e votaram pela manutenção da queda de 0,50 ponto percentual na Selic (para 10,25%), enquanto quatro (indicados no governo Bolsonaro) pediam mais cautela, diante da trava do Federal Reserve de adiar a baixa dos juros nos Estado Unidos, fato que levou o presidente Roberto Campos Neto a exercer o voto de minerva e apoiar a ala que queria 0,25 p.p. para 10,50%.
A decisão frustrou o setor produtivo. A CNI eo Sebrae (que atende as pequenas e microempresas) viram na decisão um excesso de cautela do Banco Central. Mas a decisão agradou ao mercado financeiro. Entretanto, o paradoxo de ter havido uma queda de 1,53% no Ibovespa, com recuo nas principais ações, está ligado à necessidade de liquidação de contratos futuros, que previam juros menores, serem ajustados à nova curva dos juros desenhada pela Selic futura.
Mercado já reage à troca de Campos Neto
Já o nervosismo do mercado, que levou ao dólar subir 1,51% para R$ 5,17, diz respeito ao sentimento de que o Copom está rachado e a tendência futura é prevalecer uma alta menor ortodoxa e conservadora na fixação da política monetária, uma vez que o mandato de Campos Neto e de dois diretores que votaram pela cautela, encerram em 31 de dezembro.
Só na próxima terça-feira, com a divulgação da Ata do Copom, será possível avaliar o grau de divisão do Colegiado. Na próxima reunião do Copom, de 18 e 19 de junho, já estará circulando o nome do eventual substituto de Campos Neto. Até aqui, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que foi secretário executivo do Ministério da Fazenda e tem compromisso com o Arcabouço fiscal e a ideia de um crescimento mais forte da economia para melhorar o ambiente econômico, é o mais cotado.
Em 26 de junho o Conselho Monetário Nacional, presidido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e que tem a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, deve definir a meta de inflação para 2027. A deste ano até 2026 está em 3,00%+1,50% de tolerância. Portanto, a decisão de Campos Neto, pode marcar o canto do cisne de sua gestão.
Dados recentes mostram desaceleração
Os fatos posteriores vão dizer se a ala do Copom, que se impressionou com o cenário da inflação e da política monetária no mundo pintado na reunião de abril do Fundo Monetário Internacional, em Washington, não era pessimista demais. Hoje, os Estados Unidos divulgaram forte queda na criação de empregos em abril: 175 mil postos (bem menos que a média de 240 mil unidades entre março de 2023 e março último). No Reino Unido, o Banco da Inglaterra já fala em redução das taxas de juros para reativar a economia.
No Brasil, os indicadores do comércio mostraram forte queda em março, sobretudo nos segmentos dependentes do crédito. Há especulações sobre os impactos das perdas de safras no Rio Grande do Sul. Mas, o país, que tem altos saldos na balança comercial e recompôs a política de estoques reguladores (abandonada no governo Bolsonaro, que teve de importar até soja para fazer óleo em 2020, quando os preços do óleo subiram mais de 100% e o arroz subiu 77%), pode enfrentar os problemas sem temer surto inflacionário.
O choque de oferta não se combate com juro mais alto (que pune toda a economia e afeta os planos de investimento da indústria na transição energética), mas com ações pontuais da intervenção estatal. O Banco Central pode ter errado a mão, mas só o futuro dirá quem tinha razão.
Uma guinada de 180º
Em 2 de agosto de 2023, quando a taxa de 12 meses do IPCA tinha descido ao nível mais baixo em junho, desacelerando de 3,94% em maio para 3,16% (a taxa de -0,08% de junho, foi a última conhecida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central – Copom - e a de julho, de +0,12%, que elevou a taxa em 12 meses para 3,99% só foi divulgada pelo IBGE em 11 de agosto), os membros do Copom estavam divididos.
Metade do colegiado de oito diretores considerava que a baixa da inflação de alimentos, devido à supersafra de grãos, dava segurança para, enfim, baixar a Selic. Há um ano estacionada em 13,75%, a Selic podia cair 0,50 ponto percentual para 13,25%. Esta ala era liderada pelos novos diretores do BC que tomaram posse em junho: o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, que assumiu a diretoria de Política Monetária e Ailton Aquino, funcionário do BC, na diretoria de Fiscalização. A argumentação de Galípolo teve a adesão dos votos de Ana Carolina de Assis e de Otávio Dalmaso.
A ala conservadora queria baixar só 0,25 p.p. Temia o repique da inflação em 12 meses com a reoneração dos impostos cortados eleitoralmente no governo Bolsonaro, de julho a 31 de dezembro de 2022 sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações. Em julho de 2022, houve deflação de 0,68%. Mas, desde maio, a Petrobras arquivou o reajuste automático dos preços dos combustíveis pelo PPI (sistema de paridade de preços internacionais), que usava os preços externos e o câmbio para definir os preços domésticos.
O “abrasileiramento” dos preços foi promessa de campanha de Lula e a Petrobras passou a usar mais o petróleo mais leve do pré-sal para processar em uso mais acelerado nas suas refinarias (estas estavam metade à venda, das grandes, só a Landulpho Alves (BA) foi vendida. No repique, o IPCA em 12 meses subiu para 4,61% em agosto e atingiu 5,19% em agosto, e fechou o ano em 4,62%, dentro do teto da meta (3,25%+1,50% de tolerância=4,75%). Vale dizer que o BC cumpriu a meta com muitos erros de projeções.
As maiores taxas de 2023 em 12 meses foram em janeiro (5,77%) e fevereiro (5,60%), porque havia muitas apostas inflacionárias de que a reoneração dos impostos se daria em 1º de janeiro e o impacto da supersafra só veio em abril. Cabe notar que com o fim do mandato do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, em 28 de março, sua função foi acumulada pelo diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, da ala conservadora que relutou em baixar os juros em maio e junho de 2023 e só aceitava 0,25% em agosto.
Troca do balanço de juros
Guillen que errou todas as projeções do PIB de 2023 (previa 1% e deu 2,9) e previa 1,5% e depois 1,9% para este ano (agora o mercado prevê 2,5% a 3%), também errou as projeções de inflação (previa bem mais, avaliando mal o impacto benéfico da supersafra) e o saldo da balança comercial (para baixo), liderou a ala conservadora. Seu mandato expira em 31 de dezembro de 2025, junto com o de Renato de Brito Gomes, ambos da ala conservadora.
Na reunião de ontem a ala teve adesão da diretora Carolina de Assis e de Otávio Dalmaso, cujos mandatos vencem junto com o de Campos Neto, em 31 de dezembro de 2024. O Banco Central gosta de usar a expressão balanço de riscos (fiscais, inflacionários e externos, além do mercado de trabalho) para definir o horizonte da política monetária na busca da meta de inflação (18 meses adiante).
Com a renovação do colegiado, deve prevalecer um balanço de riscos menos ortodoxo. Não será surpresa se o novo presidente indicado vier a promover um remanejamento de funções dentro da diretoria. Carolina de Assis era diretora de Administração. Campos Neto, com a aprovação do nome de Paulo Pichetti para a área Internacional e de Rodrigo Teixeira para a de Cidadania, deslocou Carolina Assis para Cidadania e deixou Rodrigo Teixeira na Administração.
Paulo Pichetti, que foi diretor do Instituto Brasileiro de Economia da FGV e da Fipe, e está atuando na diretoria Internacional, é bem mais competente que Diogo Guillen para comandar a diretoria de Política Econômica.
BB volta a superar o Itaú
O Itaú Unibanco Holding é o maior banco privado do país, desde que se fundiu ao Unibanco, em novembro de 2008. Mas o Banco do Brasil vem reduzindo e até superando as margens de lucro do Itaú Unibanco nos últimos trimestres. No 1º trimestre deste ano, o Itaú revelou lucro líquido recorrente de R$ 9,771 bilhões. Excluindo os R$ 657 milhões de suas operações na América Latina, o ganho do Itaú fica em R$ 9,114 bilhões no Brasil.
Nessa conta, seria superado pelo lucro trimestral de R$ 9,300 bilhões do Banco do Brasil. Ocorre que o BB não indicou o efetivo impacto do Banco Patagônia, que controla na Argentina. No balanço das participações em negócios (50% do Banco Votorantim), o Patagônia gerou ganho de R$ 1,254 bilhão.