O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Fed adia baixa de juro e ajuda Copom

Publicado em 02/05/2024 às 12:59

Alterado em 02/05/2024 às 13:00

O Federal Open Market Committee (Fomc) manteve ontem inalterada a taxa básica de juros nos Estados Unidos no intervalo entre 5,25% e 5,50%. O presidente do Fed Jerome Powell sinalizou na coletiva de imprensa após a reunião que o processo de cortes não deve ter início em breve (junho), e reforçou que o patamar atual de aperto monetário é adequado para reduzir a inflação, mas minimizou a possibilidade de o Fed voltar a elevar a taxa básica.

A decisão trouxe alívio imediato nos mercados futuros de juros (que recuaram), moedas e ativos (ações e commodities) e deu mais tranquilidade ao Comitê de Política Monetária do Banco Central, que se reúne nos dias 7 e 8 de maio, de manter a trajetória de baixa de 0,50 ponto percentual na taxa Selic (de 10,75% para 10,25% ao ano). Na leitura do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, o Fed deve baixar os juros em dezembro deste ano para o intervalo entre 5,00% e 5,25% e entre 3,50% e 3,75% no final de 2025.

Investimento estrangeiro banca contas externas
O resultado das contas externas de março divulgados esta 5ª feira pelo Banco Central, mostrou que, embora a redução de US$ 4,2 bilhões no saldo da balança comercial no mês de março (US$ 5,1 bilhões, contra US$ 9,3 bilhões em março de 2023), devido à queda das exportações de soja e milho, atingidos pelo El Niño, tenha sido menor que o aumento do déficit no balanço de pagamentos em transações correntes (balança comercial + serviços e renda de capital e trabalho) – chegou a -US$ 4,576 bilhões em março, contra saldo de US$ 698 milhões em março de 2023 (piora da US$ 5,274 bilhões), outros dados das contas externas tiveram bom comportamento.

O déficit na conta de viagens recuou US$ 111 milhões frente a março de 2023 e recuou US$ 213 milhões no trimestre, com contenção nas despesas e pequeno avanço nas receitas. Não compensou a piora nos gastos da conta financeira, pelo aumento dos juros (US$ 2,231 bilhões, contra US$ 1,994 bilhão em março de 2023) e das remessas de lucros e dividendos (US$ 3,782 bilhões contra US$ 3,613 bilhões em março de 2023).

Mas o ingresso líquido de US$ 9,591 bilhões de investimentos diretos estrangeiros no país em março de 2024, contra US$ 7,345 bilhões em março de 2023, compensou em parte. De janeiro a março houve ingresso líquido de US$ 23,345 bilhões, um aumento de mais de US$ 2,3 bilhões frente aos US$ 21,044 bilhões em igual período de 2023. Em 12 meses a conta saltou para US$ 66,5 bilhões (US$ 64,5 bilhões em fevereiro).

Moody's melhora ‘rating’ do Brasil
E o ingresso de investimentos estrangeiros pode continuar forte depois que a agência classificadora de risco elevou para positiva as perspectivas da classificação de crédito soberana Ba2. A agência justificou com a expectativa de um crescimento superior nos próximos anos comparado ao período anterior à pandemia, devido às reformas econômicas promovidas por vários governos.

O outro fator é o cenário de consolidação fiscal gradual ao longo dos próximos anos. O aumento da receita fiscal será relevante no processo, dada a dinâmica do arcabouço fiscal. A agência considera que a melhora dos números fiscais, junto com o maior crescimento, permitirá estabilizar a Dívida Pública Federal.
A vice-presidente da Moody's para risco soberano, Samar Maziad, reconheceu que o cenário é desafiador pois são necessárias medidas para conter despesas neste ano, já que as receitas aprovadas pelo Congresso ficaram aquém do planejado. E o cumprimento da meta fiscal de 2025 pede novas medidas.

Bradesco volta a recuperar lucros

O Bradesco revelou hoje, antes da abertura dos mercados, o resultado do 1º trimestre, com a volta da recuperação dos lucros, que somaram R$ 4,211 bilhões. Isto representa um crescimento de 46,3% frente ao 4º trimestre de 2023 e queda de 1,6% em relação ao mesmo período de 2023, quando, apesar de lançar pesadas perdas em dezembro de 2022, o banco ainda não fizera as devidas provisões para as perdas da Americanas.

Como em dezembro de 2022, enquanto fazia provisões para a Americanas e outros créditos inadimplentes, o conglomerado Bradesco teve de se amparar no lucro da Bradesco Seguros (100% controlada) para reforçar o resultado ao longo de 2023 (no 4º trimestre, a seguradora respondeu por 86% do lucro). Com menores provisões: R$ 7,811 bilhões no 1º trimestre deste ano, contra R$ 10,524 bilhões (-25,8%) no fim de 2023 e R$ 9,517 bilhões no 1º trimestre de 2023), apesar de manter R$ 51,643 bilhões em Provisões para Devedores Duvidosos, a conta encolheu R$ 8,553 bilhões ante o pico de junho de 2023.

A inadimplência caiu em pessoas físicas do pico de 6,7% de operações com mais de 90 dias de atraso em meados de 2023 para 5,9% em dezembro e 5,9% em março. No segmento das pequenas e microempresas, as taxas estavam em 7,0% em junho, chegaram a 7,2% em setembro, recuaram para 6,8% em dezembro e caíram a 6,4% em março. Nas grandes empresas o índice de atraso está estável em 0,6% (pode melhorar com a renegociação extrajudicial da dívida das Casas Bahia em abril). A inadimplência total estava em 4,8% em março, uma queda frente aos indicadores de 2023 (5,1% em março, 5,7% em junho, 5,6% em setembro e 5,1% em dezembro).


OLM.