O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Focus: maioria vê Selic em 9,75%

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Publicado em 23/04/2024 às 14:07

Alterado em 23/04/2024 às 14:07

A mudança dos juros nos EUA valoriza o dólar Valter Campanato/Agência Brasil

A mudança na biruta dos juros nos Estados Unidos, com o Fed postergando o início da baixa dos juros (5,25% a 5,5%) e até ameaçando altas até o fim do ano, alterou completamente o cenário do mercado financeiro brasileiro e se refletiu na Pesquisa Focus, encerrada 6ª feira e divulgada hoje pelo Banco Central. A previsão da taxa Selic que alcançara a mediana de 9,13% ao ano na Focus de 12 de abril subiu para a mediana de 9,50% de 145 respostas.

O salto foi ainda maior na mediana dos últimos cinco dias úteis, com 9,75% em 103 respostas, indicando que a maioria do mercado vê forte piora no cenário da Selic, que subiu de 8,50% para 9%, em 2025. A mudança dos juros nos EUA valoriza o dólar. A previsão de dezembro de 2024 passou de R$ 4,97 para R$ 5,00 (R$ 5,01 na mediana dos últimos cinco dias úteis) e a de 2025, de R$ 5,00 para R$ 5,05.

Isso afetou um pouco a previsão da inflação deste ano: o IPCA avançou de 3,71% na semana anterior para 3,73%, mas o impacto maior foi para 2025: o IPCA subiu de 3,56% para 3,60% e para 3,64% nas previsões dos últimos cinco dias úteis. O mercado reajustou para cima a previsão do crescimento do PIB este ano – de 1,95% para 2,02% - e manteve em 20% a previsão de 2025, apesar da elevação do piso dos juros do mercado este ano e no próximo.

Déficit e arrecadação
Na semana em que o próprio governo reconheceu a piora nas projeções do déficit primário (receitas menos despesas, sem contar o peso dos juros – que vai aumentar em relação ao cenário mais otimista e tende a desacelerar a economia), o mercado pouco alterou a previsão sobre o déficit primário frente ao PIB. A previsão para 2024 continuou em -0,70% do PIB e a de 2025 em -0,60%. O Itaú que revira a previsão da Selic para 9,75% em 12 de abril, prevê déficit de 0,63% este ano e de 0,70% em 2025.

Em meio a discussões complexas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o Congresso, para evitar que a Câmara e o Senado aprovem pautas bombas que estourem mais o Orçamento de 2024 e 2025, o governo divulgou a boa arrecadação de março: R$ 190,11 bilhões, com crescimento real (descontado a inflação) de 7,72%.

No 1º trimestre do ano a arrecadação somou R$ 657,769 bilhões, com aumento real de 8,36% sobre igual período do ano passado. Vale nototar que dois fatores influíram na maior arrecadação: 1- a reoneração de impostos federais (e estaduais, como o ICMS) sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações toma por comparação uma base deprimida em 2023, ainda com pouca reoneração; 2 – as novas tributações sobre fundos bilionários exclusivos e fundos “off-shore” tiveram reflexos agora e tendem a se reduzir de maio em diante. Portanto não dá para confiar do bom desempenho daqui para a frente.