O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Mercado reage ante o Fed pessimista

Publicado em 19/04/2024 às 14:43

Alterado em 19/04/2024 às 14:43

Ao longo da semana, as falas mais duras (“hawkish”) de muitos diretores do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos), assim como de seu presidente, Jerome Powell, marcaram, de vez, a virada de discurso da principal autoridade monetária global. Até março, o cenário do Fed previa três quedas de 0,25 ponto percentual (0,75% no total). Mas o agravamento da crise geopolítica e a resistência da queda da inflação nos EUA levaram os diretores do Fed a mudar de perspectiva.

Isso valorizou o dólar, afetando todos os mercados de ativos e commodities. E terá impacto na política monetária no Brasil, muito mais importante do que a mudança, para pior, das metas fiscais (já afetadas por níveis de juros maiores e desaceleração da economia global).

John Williams do Fed, presidente do Fed de Nova York, avaliou que o nível atual da “fed fund rate” é apropriado e levará o Fed a cumprir os seus mandatos de máximo emprego e estabilidade de preços. Ele entende que não há pressa para reduzir os juros ainda este ano. Para ele, pode nem haver queda, mas não está no cenário uma elevação dos juros.

Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, embora não descarte uma queda de 0,25 pontos este ano, entende que seja confortável manter a taxa básica de juros (entre 5,25% e 5,50%) pelo menos até o fim do ano. Para ele, a inflação se desacelerará, mas em ritmo provavelmente mais lento que o esperado.

Em vista da mudança da biruta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, passou a vislumbrar quatro cenários para a política monetária brasileira daqui em diante. Se o cenário melhorar, pode ser mantida a redução de 50 pontos-base da taxa Selic (para 10,25%) na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central em 7 e 8 de maio. Num 2º cenário, mantidas as incertezas, poderia haver corte de apenas 0,25 p.p. No 3º cenário negativo, haveria reprecificação da trajetória esperada da taxa de juros.

No pior dos cenários, com impacto mais permanente no dólar e na redução dos ingressos em dólares na economia brasileira (por enquanto, o cenário do balanço de pagamentos é bastante confortável, segundo Campos Neto), poderia haver alta geral de juros no mundo e no Brasil. Por sinal, houve alívio geral nos mercados com o ataque de Israel ao Irã, nesta 6ª feira, não mirando instalações nucleares.

Mercado reavalia Selic
A Pesquisa Focus, que o Banco Central encerra nesta 6ª feira e divulga na 3ª feira, deverá solidificar a nova visão do mercado financeiro para a trajetória da Selic e balizar o Copom em sua decisão em 8 de maio. Na última semana, a mediana apontou ligeira alta da Selic para 9,13%, mas as respostas dos últimos cinco dias úteis apontou salto para 9,75%. O mercado, em geral, está pessimista.

Há uma semana, o Itaú se antecipou à mudança da biruta e elevou todas as projeções de inflação, do déficit primário em relação ao PIB. Com as taxas de câmbio, pressionadas, o banco elevou a projeção da Selic de dezembro de 2024 de 9,25% para 9,75% ao ano. A taxa de 2025 também foi reajustada de 9,25% para 9,75%.

A LCA Consultores, na Carta LCA desta semana, manteve o corte de 50 pontos-base na reunião de maio e desaceleração no ritmo de redução para 25 pontos-base no Copom de 19 de junho. Porque, apesar das, a inflação corrente segue bem-comportada; e a atividade econômica doméstica parece inclinada a sofrer alguma moderação no curto prazo, na esteira (i) da diluição dos impactos do pagamento extraordinário de precatórios no 1º trimestre; e (ii) dos efeitos indiretos da contração do setor agropecuário.

Para a LCA, o Copom interromperá o ciclo de flexibilização monetária mais cedo, que a curva projetada para a taxa básica de juros (em vez de reduzir a Selic para 8,5% até meados de 2025, a consultoria passou a contemplar que o ciclo será interrompido quando a Selic chegar a 9,50% em setembro de 2024). A flexibilização seria interrompida com o juro básico ainda pouco acima do intervalo estimado de juro neutro

A Genial Investimentos também elevou as projeções, mas ainda continua a “enxergar um corte de juros de 50 pontos-base na reunião de maio, seguido de três cortes de 25 pontos-base nas reuniões de junho, julho e setembro, com a taxa Selic encerrando 2024 em 9,50% ao ano.

No último cenário do Bradesco (que é de 12 de abril e deve estar em fase de revisão), a Selic fecharia 2024 em 9,25% e em 8,50% no ano que vem. O Santander ainda não divulgou suas novas projeções.