O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Tudo ao mesmo tempo agora

Publicado em 15/04/2024 às 14:28

Alterado em 15/04/2024 às 14:28

Ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia: tempestade em copo d'água Agência Brasil

Reviravolta total no cenário econômico mundial. Como consequência do agravamento das escaramuças entre Irã e Israel, que em retaliação ao ataque à embaixada iraniana na Síria, bombardeou diretamente o território israelense com três centenas de bombas, lançadas por mísseis ou por drones, quase todos abatidos pelos sistemas de defesa antiaérea, houve revisões, para cima, nas projeções de juros nos Estados Unidos.

Como os mercados de ações, moedas, commodities e títulos de renda fixa concentram mais operações a futuro do que à vista (na prática, o mercado à vista serve para dar liquidez às operações de compra e venda, quando as perspectivas mudam. Com cenário de queda mais lenta e em nível acima do previsto há dois meses, houve forte movimento de renegociação de contratos. Enquanto ações e ativos caíam, em reação ao cenário de juros mais elevados, o dólar valorizou, mas não se sustentou na casa de R$ 5,20, como chegou no começo da manhã.

Mas as cotações das commodities não se sustentaram – sobretudo no caso do contratos de petróleo para entrega em junho, que cederam mais de 1,42% hoje, ficando abaixo dos US$ 90, a US$ 89,17, depois que a reunião do gabinete de guerra de Israel seguiu as pressões dos países aliados (que dão apoio bélico, logístico e financeiro) a não escalar o conflito para não prejudicar mais a economia mundial. Até porque o cenário de juros elevados já esfriou as taxas de crescimento.

Mísseis do Irã atingem até OGU 2025
No Brasil, a perspectiva de que o diferencial de juros locais com os Estados Unidos vá se estreitar, diminuindo a atratividade do passeio de dólares no Brasil (de investidores estrangeiros que, na maior parte, são fundos de pessoas físicas ou empresas brasileiras registrados em paraísos fiscais no exterior) provocou revisões nas apostas do nível final da taxa Selic em dezembro de 2024: a última pesquisa Focus situava a taxa em 9,00%, mas o Itaú divulgou, 6ª feira, a revisão da meta de 9,25% para 9,75%. O

Bradesco aponta 9,25% com viés de alta. O Santander ainda não reviu a projeção de 9%.
Nesta, 2ª feira, 15 de abril, dia previsto para o governo enviar ao Congresso sua proposta de diretrizes orçamentárias (PLDO), a escalada das escaramuças do Oriente Médio e o cenário de juros mais alto (que afeta o crescimento e a arrecadação) levaram o governo a alterar a meta de superávit fiscal primário (receita menos despesas, sem considerar os juros da dívida) de 0,5% do PIB, para 0,25%. Esta mudança já fora prevista semana passada pela economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, que foi secretária do Tesouro no governo Temes, “”dada a dificuldade em atingir um elevado nível nas receitas”.

Vescovi previa que “a mudança não deverá afetar substancialmente o humor dos mercados, uma vez que ainda há uma busca por uma consolidação fiscal gradual. Além do PLDO 2025, esperamos que o governo envie ao Congresso as leis complementares para regulamentar a reforma tributária, que deve se tornar foco do Legislativo nas próximas semanas”. A escalada no Oriente Médio e a mudança das previsões sobre os juros nos EUA podem desacelerar mais do que o previsto a economia mundial. A queda das cotações do barril de petróleo do tipo Brent foi sintomática, mas refletiu o alívio pela decisão cautelosa de Israel.

Silveira quer aparecer em tudo
Depois de tentar mostrar autoridade sobre a Petrobras, gerando uma tempestade em copo d’água que derrubou as ações da empresa, em torno de premissas falsas sobre a distribuição de dividendos, o feitiço virou contra o feiticeiro e uma liminar que acolheu ação de investidores suspendendo a eleição do secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério das Minas e Energia, Pietro Adamo Mendes, para a presidência do conselho de Administração da Petrobras.

Sem conseguir a demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, bolou uma providência para tentar mostrar serviço com a crise geopolítica do Oriente Médio. Criou um grupo de trabalho para avaliar o mercado de combustíveis e se há necessidade de aumentar ou não os preços. Trata-se, na prática, uma tentativa de atender ao lobby dos importadores e distribuidores de combustíveis que se queixam da defasagem de preços dos combustíveis em relação às cotações internacionais.

Abrasileiramento dos preços segura a inflação
Desde que, em maio do ano passado, cumprindo a promessa de campanha do presidente Lula de “abrasileirar os preços dos combustíveis, com o abandono do sistema de paridades de preços internacionais (PPI), adotado no governo Temer, com uso mais intenso do petróleo (mais leve do pré-sal) e o uso mais intenso das refinarias (que estavam metade à venda) o governo Lula tornou a política de preços mais estável, a Petrobras - que extrai o petróleo do pré-sal a US$ 30 por barril - tem mais jogo de cintura para resistir às oscilações bruscas do mercado espaçando os reajustes.

Como o Brasil tem uma economia fortemente indexada, se houvesse o sobe e desce de reajustes (que, como os juros, sobem pelo elevador e demoram a descer pela escada quando há baixa), os preços gerais da economia estariam contaminados, mas, não voltariam atrás. E, para tentar debelar o surto inflacionário, o Banco Central manteria os juros altos e derrubaria toda a economia e o emprego.

Búzios na casa do bilhão de barris
Por sinal, a Petrobras, em consórcio com as empresas CNOOC, CNODC e PPSA, alcançou uma nova marca: o campo de Búzios chegou a 1 bilhão de barris de óleo (bbl) produzidos. O número foi atingido dia 31 de março, e soma a produção das cinco unidades em operação no maior campo do mundo em águas ultraprofundas, os FPSOs P-74, P-75, P-76, P-77 e Almirante Barroso.

Segundo o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Joelson Mendes, os números tendem a crescer ainda mais. Com novos sistemas de produção que serão instalados nos próximos anos, a capacidade do campo será elevada para a casa dos 2 milhões de barris de óleo por dia até 2030. Em junho do ano passado, Búzios já havia acumulado 1 bilhão de barris de óleo equivalente, mas considerando óleo em barris somado à produção de gás, convertida para barris equivalentes de óleo (boe). Agora foi só petróleo.