O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

GILBERTO MENEZES CÔRTES - [email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Biruta vira; Itaú vê Selic em 9,75%

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Publicado em 12/04/2024 às 18:12

Itaú Reprodução

A biruta da economia virou, com o cenário global mais desafiador pelo aumento das tensões entre Israel e Irã provocando alta do petróleo, do ouro e do dólar. Diante da provável meia trava no processo de baixa de juros nos Estados Unidos, o Itaú anunciou nesta sexta-feira a revisão do cenário econômico para o Brasil em 2024 e 2025.

O banco elevou a estimativa de crescimento do PIB de 2,0% para 2,3% em 2024, com base em crescimento mais robusto no primeiro semestre, com rimo forte dos setores de varejo e serviços em janeiro e fevereiro. Mas elevou a inflação e os juros, estimando o nível final da taxa Selic em 9,75% este ano (antes 9,25%), o que reduzirá a alta do PIB de 2025 de 2,0% para 1,8%.

O Itaú acredita que a surpresa do 1º semestre pode estar relacionada ao pagamento extra de precatórios que estavam represados desde a chamada PEC dos Precatórios (EC 113/21) e foram liberados pelo governo federal no fim de 2023. A antecipação do pagamento dos precatórios regulares para março e o aumento real do salário-mínimo no início deste ano devem continuar impulsionando o consumo nos próximos meses, diz o Itaú.

Pressão no câmbio e inflação
O Itaú revisou a projeção do câmbio para R$ 5,00 por dólar em 2024 (de R$ 4,90) e R$ 5,20 por dólar em 2025 (de R$ 5,10). O aumento de incertezas, especialmente no cenário internacional com o novo adiamento do início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, pressiona a moeda (ainda que este efeito seja parcialmente compensado por uma taxa Selic mais alta).

Em função disso, o banco ajustou para cima o IPCA de 2024 – de 3,6% para 3,7%, com uma projeção de serviços subjacentes maior para o ano, pressionada pelo mercado de trabalho mais apertado e aceleração de salários. Para 2025, a projeção também foi revista, com alta de 3,5% para 3,6%, tendo em vista o cenário de expectativas de inflação longas desancoradas e mercado de trabalho ainda apertado.

Com o mercado de trabalho “resiliente no curto prazo, em linha com nosso cenário de uma taxa de desemprego em 2024 de 7,8%, patamar historicamente baixo. Os últimos dados não mostraram sinais de arrefecimento, com expansão de salários”.

A arrecadação tem se mostrado mais forte no início de ano, mas os riscos fiscais, a médio prazo, continuam elevados, considerando a dificuldade em se obter uma trajetória de convergência de resultados primários e a possibilidade de mudanças, bastante precoces, nos parâmetros do arcabouço aprovado no ano passado. O banco espera déficits primários de 0,6% (antes 0,7%) e 0,9% do PIB em 2024 e 2025.

PIB forte a curto prazo
“Nosso indicador diário de atividade (IDAT-Atividade) é consistente com nossa expectativa de desempenho positivo da economia em março”. Para 2025, o banco reduziu o crescimento do PIB de 2,0% para 1,8%. A revisão do PIB em 2024 reflete mais surpresas de curto prazo e fatores pontuais mais concentrados no início do ano, que não devem se repetir em 2025.

Além disso, a perspectiva de uma taxa de juros mais elevada no final do ciclo de afrouxamento intensifica o impacto negativo do impulso monetário sobre o crescimento no próximo ano. Por fim, o mercado de trabalho segue resiliente no curto prazo, em linha com nosso cenário de uma taxa de desemprego em 2024 de 7,8%, patamar historicamente baixo.

Cenário desafiador eleva Selic
Um cenário global mais desafiador, com desinflação mais lenta, adiamento e redução do orçamento dos cortes de juros em economias desenvolvidas e incertezas domésticas (com maior pressão em preços de serviços mais sensíveis ao desempenho do mercado de trabalho e expectativas desancoradas) limitarão de forma mais intensa os cortes de juros.

“Projetamos, neste momento, que a taxa Selic termine o ano em 9,75% a.a. (ante 9,25%), com desaceleração no ritmo de cortes a partir de junho, e que permaneça neste mesmo patamar ao longo de 2025”, assinala o Itaú.

Bradesco põe PIB em viés de alta
Ao analisar a semana, o Bradesco destacou que a ”inflação deu sinais melhores, mas cenário externo limita melhora local”. Para o Depec Bradesco, os dados de atividade estão confirmando um cenário de crescimento robusto neste ano. As vendas no varejo voltaram a crescer e a surpreender positivamente em fevereiro, puxadas especialmente pelos segmentos mais influenciados pelo crédito. De fato, além da renda do trabalho, o crédito deve ser um fator adicional de sustentação do consumo neste ano.

O volume de serviços, por sua vez, caiu em fevereiro e devolveu o bom resultado de janeiro. Mas esse dado é bastante influenciado por transportes e armazenagem da safra, que é menor neste ano. Os serviços prestados às famílias voltaram a crescer, reforçando cenário positivo para o consumo das famílias. Como destacado em nosso último cenário mensal, há viés de alta para nossa projeção de 2,0% para o PIB deste ano.

A inflação desacelerou mais do que o esperado no mês passado. Com alta de 0,16%, a inflação surpreendeu para baixo de forma disseminada, inclusive nas medidas subjacentes. No acumulado de 12 meses, a inflação recuou de 4,5% em fevereiro para 3,9%. Os núcleos voltaram a desacelerar na margem, em virtude do bom comportamento dos bens industriais. Os serviços subjacentes subiram 0,45% na margem, mantendo-se em 5,7% na média de três meses ajustada sazonalmente e anualizada. Nessa mesma métrica, a média dos núcleos passou de 4% para 3,6%.

“Nosso cenário de 3,4% para o IPCA de 2024 parece equilibrado. Do lado altista, notamos os preços de petróleo e o câmbio mais elevados. A dinâmica dos preços de bens pode ser mais baixista, em um contexto internacional ainda desinflacionário para esses produtos. Os indicadores de custos e repasse da nossa Pesquisa Empresarial sugerem que há uma assimetria baixista importante nesse grupo”, sustenta o Bradesco.