O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Copom: uma decisão singular

Publicado em 21/03/2024 às 15:36

Alterado em 21/03/2024 às 15:36

Esta coluna avisou ontem. Ninguém tinha dúvidas quanto a nova queda de 0,50 pontos na taxa Selic, que, por decisão unânime, o Comitê de Política Monetária reduziu para 10,75% ao ano. O que se questionava era se o Copom manteria a projeção de novas quedas de igual magnitude “nas próximas reuniões”, ou, por cautela, diante da maior incerteza do cenário interno (desaceleração mais lenta de alimentos e pressão altista nos serviços) e externo (a desinflação nos Estados Unidos está mais complexa), restringiria a nova queda apenas à próxima reunião, de 8 de maio.

O comitê optou por encurtar a sua prescrição futura em meio a mais incertezas, sinalizando outro movimento de 50 p.b. na próxima reunião, usando o singular, enquanto a prescrição de ritmo de 50 p.b. vinha se estendendo para duas reuniões desde o início do ciclo. Apesar da cautela, o Copom afirmou ainda que seu cenário não mudou substancialmente e manteve sua projeção de inflação para 2025 (principal ponto do horizonte relevante) em 3,2%. Isso sugere, pelo menos no momento, uma taxa terminal inalterada.

Para o Itaú, por enquanto a taxa Selic segue colocada em 9,25% ao ano até o final de 2024. Já a LCA, que previa o encurtamento do horizonte do Copom, considera que a mudança no comunicado “sugere que as chances de que o Copom venha a desacelerar o ritmo de corte da Selic a partir de meados do ano, como projetamos em nosso cenário base, foram reforçadas”.

À espera da Ata e do RTI

Diante do cenário de incertezas doméstica e internacional – embora o Fed tenha anunciado que manterá três quedas dos “fed funds”, somando uma redução de 0,75 ponto percentual da atual faixa de 5,25-5,50% ao ano – o mercado está aguardando maiores informações da Ata do Copom, que será publicada na próxima 3ª feira, 26, e do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que o Banco Central divulgará 5ª feira, 28, com entrevista dos diretores.

Para André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, ao sinalizar redução de 0,50 p.p, “apenas para a próxima reunião”, o Copom abriu espaço para reduzir o corte de juros para -0,25% na reunião que acontecerá entre 18 e 19 de junho”. Espera-se que em maio ou nesta reunião de junho o Fed defina o orçamento da redução de juros com o respectivo calendário.

André Meirelles alertou que diante do aumento da incerteza, parte do mercado “já precifica uma Selic de 9,75% ao final de 2024”. O Itaú continua prevendo 9,25%, assim como o Bradesco e a LCA Consultores. Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe Warren Investimentos, contudo, como “as projeções de inflação no cenário de referência para 2024 e 2025 permaneceram em 3,5% e 3,2%, respectivamente, “reforça que há ainda um bom caminho a ser percorrido em termos de flexibilização monetária”.

Ajuste nos mercados futuros

Como era previsível, os mercados de ativos financeiros – de ações a moedas e commodities, passado por títulos de renda pós ou préfixados, e até as criptomoedas – foram afetados pelo encurtamento do cenário de baixa dos juros. Os contratos de juros futuros foram reajustados para acima. E os contratos de ativos de renda variável, que estavam projetando duas baixas seguidas de 0,50 ponto na Selic foram refeitos. Assim, o Ibovespa que abriu a 129.125, pontos e subiu a 129.555,91 pontos, começou a cair depois das 10 horas até a mínima de 128.381,26 pontos por volta das 11:30. Uma queda de 0,56% diante da abertura e de 0,90% frente à máxima da manhã.

Setor produtivo reage

Em nota, a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) manifestou seu apoio à decisão do Banco Central, considerando a redução dos juros “medida crucial para estimular os investimentos e fomentar o crescimento econômico do país, ao mesmo tempo em que mantém a inflação sob controle”. Para a entidade, que tem como superintendente Fernando Pimentel, a continuidade da redução dos juros “é fundamental para impulsionar a economia, tornando o ambiente mais propício para investimentos produtivos. Com custos de financiamento mais baixos, as empresas têm maior incentivo para expandir suas operações, gerar empregos e contribuir para o desenvolvimento sustentável do setor têxtil e de confecção”.

Já o coordenador de Acesso a Crédito e Investimentos do Sebrae, Giovanni Beviláqua, a taxa média repassada aos pequenos empreendedores é baseada na Selic e, por isso, há a necessidade de uma redução mais acelerada. “Se o mercado está prevendo uma Selic de um dígito, em torno de 9% somente no final do ano, a taxa média de juros para os pequenos negócios também deve ser reduzida para cerca de 30% ao fim do ano. O valor ainda é muito elevado”, adverte.

Para possibilitar um melhor cenário de acesso a crédito pelos pequenos negócios, o Sebrae e o governo federal estão empenhados em lançar, em breve, um programa que dará condições de garantia para alavancar R 30 bilhões em crédito para os empresários – o maior valor nos últimos 28 anos – o que tende a reduzir a taxa de juros para as linhas de crédito com essas garantias.