O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Focus vê IPCA 1% menor até maio

Publicado em 19/03/2024 às 15:38

Alterado em 19/03/2024 às 15:38

No primeiro dia de reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que decide amanhã nova baixa de 0,50 ponto percentual na taxa Selic para 10,75% e anuncia a trajetória da política monetária, a Pesquisa Focus divulgada nesta 3ª feira pelo Banco Central traz boas notícias no horizonte inflacionário. Pelas previsões de 153 de instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, o IPCA deve cair quase um ponto até maior, acumulando 1,98%, contra 2,95% em igual período de 2023.

As previsões para o IPCA de março (0,22% a 0,20%, nas respostas dos últimos cinco dias úteis), de abril (0,31% a 0,30%, idem) e de maio (0,21% nas duas bases de previsão) apontam uma queda de quase um ponto frente aos primeiros cinco meses de 2023. Apesar dos sustos com a alta da alimentação desde o fim do ano e do dólar nesta semana, em todas as métricas a taxa acumulada do IPCA segue declinante.

Por isso, o mercado, temeroso com o soluço do dólar (que impacta bens importados e transacionáveis com o exterior) e a pressão nos alimentos promoveu na mediana de 152 respostas até 6ª feira, 15 de março, leve alta na projeção do IPCA em dezembro: de 3,77% para 3,79%. Entretanto, nas análises mais recentes, a mediana de 147 respostas nos últimos cinco dias úteis reduziu a projeção para 3,70%. A alta do dólar elevou as projeções dos preços administrados de 4,07% para 4,16%, com mediana de 4,20% nos últimos cinco dias úteis.

O mercado manteve a projeção de alta de 1,80% no PIB deste ano e de 9% na taxa Selic em dezembro. Para 2025, a previsão é de um IPCA de 3,52% (3,55% nos últimos cinco dias), um crescimento de 2,00% no PIB e a Selic em 8,50% em dezembro.

Os poços sem fundos da Braskem

É realmente impressionante e assusta qualquer pretendente à compra do controle da maior petroquímica da América Latina, o montante dos prejuízos já gerados pela exploração de salgema pela Braskem, em Maceió (AL). No balanço do 4º trimestre da companhia, controlada 50,1% pela Novonor (grupo Odebrecht) e com participação minoritária (47%) da Petrobras, houve prejuízo de US$ 317 milhões, ou R$ 1,6 bilhão. O ano de 2023 fechou com prejuízo líquido de US$ 935 milhões, ou R$ 4,6 bilhões.

Mas só as provisões para cobrir as indenizações com o afundamento dos poços de extração de salgema às margens da Lagoa de Mundaú custaram R$ 997 milhões no 4º trimestre, ampliando as perdas da Braskem Idesa (México). No ano, as provisões no Brasil somaram R$ 1,441 bilhão. Entretanto, muitas indenizações, acordadas em meados de 2023, com a prefeitura de Maceió já estavam em curso, somando desembolsos de R$ 3,826 bilhões. Deduzidas provisões já feitas, houve impacto de R$ 5,240 bilhões no caixa da Braskem.

Até dezembro já foram pagos R$ 15,5 bilhões. Acontece que depois do colapso, em 10 de dezembro de 2023, da cavidade 18, um dos 35 poços em observação e com atividades suspensas desde 2019, choveram ações de indenizações sobre a companhia. Uma delas selou, em janeiro, indenização de três salários-mínimos a 1870 pescadores que atuavam na lagoa, somando R$ 7,520 milhões.

Briga política

Apesar de a empresa garantir que após o colapso do poço 18, as inspeções indicaram que não serão necessárias medidas adicionais de preenchimento com areia daquela cavidade, sendo considerada no grupo das “de preenchimento natural”, o plano de fechamento de suas 35 frentes de lavra segue normalmente. Mas, sempre poderá haver surpresas, sobretudo nas placas tectônicas da política de Alagoas após a instalação CPI no Senado, liderada pelo senador Renan Calheiros, inimigo político do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

A prefeitura de Maceió é comandada por João Henrique Câmara. Eleito pelo PSB, ele é aliado e protegido político de Arthur Lira. Mas o governo do estado, comandado por Paulo Dantas (MDB), eleito em 2022, é aliado dos Calheiros. É evidente que a campanha para a prefeitura de Maceió vai explorar a adesão precipitada da prefeitura a um acordo com a Braskem em meados de 2023.

Instigado pelos Calheiros, Dantas acionou o Ministério Público Estadual a reabrir acordos bilionários contra a Braskem. Outra ação foi retomada pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), pelos danos causados pela interrupção da linha que cortava a região desocupada depois que residências, edifícios residenciais, comércios, escolas e clínicas foram condenadas pela defesa civil. A CBTU, que é subordinada ao Ministério dos Transportes, comandado pelo ex-governador Renan Filho (MDB-AL), cobra R$ 1,46 bilhão. As duas partes têm prazo até junho para chegarem a um acordo.