O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

BC-Br mostra economia melhor em 2024

Publicado em 18/03/2024 às 16:00

Alterado em 18/03/2024 às 17:20

Pelo menos o indicador antecedente do PIB do Banco Central, o IBC-Br de janeiro de 2024, divulgado hoje, com avanço de 0,60%, descontados os efeitos sazonais sobre dezembro de 2023, começou bem melhor do que no ano passado. Em janeiro de 2023, o IBC-Br teve queda de 0,04% frente a dezembro de 2024. Ao longo do 1º trimestre, com o PIB puxado pelo salto de 21% na agropecuária, enquanto a indústria teve queda de 0,1% o setor de serviços (67% do PIB) crescia 0,60%.

Este ano, a agropecuária deve ter ligeira queda (o que afeta pouco o PIB, pois pesam menos de 8%) mas, as atividades de serviços e industriais devem puxar o trem da economia, ampliando a geração de empregos e renda. Em janeiro a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE (uma fração do segmento) cresceu 0,7% e o volume de vendas do comércio (12% do PIB geral, e cerca de 20% do setor de serviços) aumentou 2,5% sobre dezembro.

Esses dados devem ser levados em conta, junto com as pesquisas do Caged, pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central que se reúne amanhã para deliberar na 4ª feira sobre a trajetória da política monetária. O mercado espera um novo corte de 0,50 ponto na Selic, para 11,25%, mas os temores de mudança de rumo na trajetória futura levaram a uma alta do dólar acima de R$ 5,02. Isto porque teme-se que o Federal Reserve que se reúne simultâneo ao Copom, altere o calendário de redução nos juros nos Estados Unidos, o que afeta o diferencial de juros entre o Brasil e o mercado americano.

A vaca mais cara do mundo Foto: reprodução

Uma vaca de R$ 21 milhões? Como pode?

Se você, caro leitor tem mais de 60 anos e algum conhecimento de pecuária deve saber que uma vaca, em termos normais, tem gestação de nove meses (as vacas de corte, da raça Nelore, têm gestação de 283 dias, já as pequenas vacas leiteiras da raça Jersey, têm o menor tempo de gestação: 279 dias). Em rebanho comum ela começa a produzir aos quatro anos e gera, no máximo, dois bezerros a cada três anos, em uma vida produtiva de 10 a 12 anos.

Entretanto, após 10 anos de idade, as vacas de corte produzem menos leite, o que resulta um bezerro (a) menos robusto. Em síntese: num rebanho de corte normal, uma vaca vai produzir ao longo de sua vida, quatro a cinco bezerros. Com sorte, produzindo fêmeas, a prole pode gerar 10 crias em 10 a 12 anos.

Como então uma vaca pode valer R$ 21 milhões e ser reconhecida hoje, 18 de março, no Guinness Book como a mais valiosa do mundo? Vale dar uma olhada na bela vaca Nelore Viatina-19 que pertence à Mara Móveis. Considerada a melhor selecionadora da raça Nelore no país, situada em Nova Iguaçu de Goiás a Mara Móveis vendeu ano passado em leilão em São Paulo 1/3 dos direitos da Viatina-19 por R$ 6,9 milhões a um criador paulista. A Mara Móveis ainda detém 2/3 do animal. Difícil entender?

Transplante de embrião gera 'ninhada'

A tecnologia do transplante de embrião explica o fato de que, há muitos anos, as vacas passaram a vale muito mais do que um touro reprodutor. Há 50 anos, o Bradesco, que era o maior banco privado do país até 2008, quando o Itaú se fundiu com o Unibanco, chegou a investir numa empresa que comercializava sêmen de touros bovinos. Mas o avanço da tecnologia veterinária com o casamento da genética com a injeção de hormônios nas fêmeas de alto valor para ativar a ovulação e multiplicação do material genético de forma rápida do que o convencional. Em seguida ocorre a fertilização “in vitro” em laboratório.

O passo seguinte é a transferência de embriões na propriedade ou até para fazendas distantes, pela facilidade de transporte e comercialização de embriões congelados, e sua implantação em fêmeas “barriga de aluguel”, de menor carga genética. Assim, a vaca-mãe, que produziria no máximo uma cria por ano, com todas as condições de trato e alimentação especial, acaba produzindo uma “ninhada” de 10 crias por ano.

Mais do que o milagre da multiplicação sem gestação e parto, o criador forma um plantel homogêneo, com alta carga genética, que vai fazer a diferença ao fim do regime de confinamento quando for pesado na balança para ir para o abate no frigorífico. Por isso há até cotas de investimento em vacas. No passado, um jornal carioca chegou a pôr em dúvida a alta valorização das vacas de um conhecido político do Rio de Janeiro, insinuando lavagem de dinheiro. Até poderia ser, mas o fato é que tecnologia faz vaca ter ninhadas.

Picanha garantida?

Graças à tecnologia na veterinária e no manejo de pastagens e da alimentação, o Brasil produziu 9 milhões de toneladas de carne (sem considerar o abate clandestino) e exportou 25% do total, gerando US$ 10,8 bilhões. Além da tecnologia, que encurtou o tempo de abate e aumentou a quantidade de carne por animal, o presidente Lula está cumprindo a promessa de que o “brasileiro ia voltar a fazer churrasco de picanha com uma cervejinha”.

É porque as carnes mais exportadas para a China, Estados Unidos e Europa, são de dianteiro. Por questões religiosas e tradição, muitos países evitam o consumo das carnes traseiras, por estarem próximas dor órgãos sexuais dos animais. Picanha, alcatra, filé-mignon e contra-filé, estão no traseiro. Por isso os supermercados fazem ofertas de carnes a baixo preço. Mas há o risco de que novas aberturas de mercado na China e na Ásia mudem o mix.