O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Itaú vê PIB em 2%, com juro maior

Publicado em 11/03/2024 às 17:28

Alterado em 11/03/2024 às 17:28

O Departamento de Estudos e Pesquisa Macroeconômica do Itaú divulgou hoje sua revisão do “Cenário Macro” de março. Como já vinha adiantando, o banco elevou a projeção de aumento do PIB de 2024 de 1,8% para 2,0%, com o IPCA mantido em 3,6%, com alguma pressão em serviços, pelo consumo sustentado e recuperação do investimento. O banco espera ainda perspectiva mais positiva para as concessões de crédito (sobretudo para pessoa física e habitacional), já em curso nos dados divulgados pelo Banco Central. O PIB de 2025 também foi elevado de 1,8% para 2,0%, com o IPCA em 3,50%.

Mas a principal revisão do Itaú diz respeito ao cenário de juros. Com as dificuldades de redução dos juros pelo Federal Reserve (o BC dos Estados Unidos), o Itaú que esperava queda de 100 pontos base (a taxa atual flutua de 5,25% a 5,50% ao ano, agora, com o início da queda adiado de maio para junho, o total de cortes esperado foi limitado a 75 p.b. (que o Fed já acenara) e isso terá impacto no dólar, forçando o Copom a ser mais conservador.

Flexibilização monetária cerceada

O Itaú esperava que o ciclo de cortes de 0,50 p.b por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central até 9,00% este ano e 8,50% em 2025. Mas, o conservadorismo esperado pelo Fed deve limitar a queda de juros no Brasil. O Itaú espera agora que a taxa Selic termine o ano em 9,25% a.a. (ante 9,00%) e permaneça neste mesmo patamar ao longo de 2025. O Bradesco também espera 9,25%. O Santander foi mais ousado e previa 8,50%.

Embora o indicador diário de atividade (IDAT-atividade) do Itaú mostre a economia mais fraca em janeiro, com alguma estabilização em fevereiro, o banco segue esperando alguma recuperação dos gastos ao longo dos próximos meses devido ao aumento real do salário-mínimo concedido no início desse ano (que tende a ter efeito significativo sobre as vendas no varejo de março) e a resiliência do mercado de trabalho.

Diante das surpresas positivas de curto prazo e do crescimento mais elevado, o banco revisou a taxa de desemprego de 2024 e 2025 para 7,8% (de 8,0%). E diz que “os últimos dados de mercado de trabalho não mostram sinais de arrefecimento, com crescimento da população ocupada tanto formal quanto informal e aceleração dos salários em janeiro”.

Embora a atividade melhor reduza marginalmente o déficit primário, as incertezas fiscais continuam elevadas, adverte, considerando as dúvidas sobre a disposição do governo em contingenciar despesas e o efetivo impacto arrecadatório das medidas aprovadas em 2023. Com o PIB maior, o Itaú, que acredita “que os principais parâmetros do arcabouço serão mantidos para o orçamento do próximo ano, a despeito da pressão por aumento de gastos”, espera déficits primários de 0,7% (de 0,8%) e 0,9% (ante 1,0%) do PIB em 2024 e 2025.

Inflação diferente

O banco manteve a projeção de IPCA 2024 em 3,6%, mas com uma composição diferente – e menos benigna: “Incorporamos uma projeção de serviços subjacentes mais alta para o ano, pressionada pelo mercado de trabalho mais apertado e aceleração de salários. Para 2025, tendo em vista a desancoragem de expectativas longas e um mercado de trabalho ainda apertado”, o Itaú manteve a projeção em 3,5%.

“O Copom deve seguir a sua estratégia de corte de juros de 0,5 p.p. nas próximas reuniões. Mas, a evolução do cenário internacional (com redução do tamanho esperado do ciclo de corte de juros nos EUA), bem como a piora da dinâmica inflacionária doméstica na margem (com maior pressão em itens de serviços ligados ao desempenho do mercado de trabalho) devem limitar a queda de juros no Brasil”. O Itaú espera que a taxa Selic termine o ano em 9,25% a.a. (ante 9,00%) e permaneça neste mesmo patamar ao longo de 2025.

O banco manteve a projeção de taxa de câmbio em R$ 4,90 por dólar em 2024 e R$ 5,10 por dólar em 2025. O adiamento do início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos e redução do orçamento de cortes esse ano pressionariam a moeda, mas são compensados por uma queda mais limitada da Selic, que mantém o diferencial de juros praticamente inalterado.

Como o diferencial de juros sofre pouca alteração, o Itaí manteve o cenário de câmbio estável em torno dos patamares observados desde a segunda metade do ano passado. Alguns atenuantes locais ainda ajudam a moeda, principalmente o bom desempenho da balança comercial, apesar de alguns sinais de desaceleração na ponta, e prêmio de risco doméstico em nível baixo para o período pós pandemia.

Contas externas

O banco manteve “a projeção de balança comercial em US$ 85 bilhões em 2024 e US$ 70 bilhões em 2025. Os dados da balança seguem em patamar elevado, rodando próximo de US$ 100 bilhões no acumulado em 12 meses”, mas o Itaú vê “alguns sinais de perda de força na ponta, principalmente com aumento das importações, com destaque para parte de bens de capitais [o que é indicador de aumento de investimentos no país, sobretudo na indústria] e bens de consumo”.

A partir de maio desse ano, as exportações passarão a contar com o impulso da safra atual de soja. A projeção de conta corrente está em um déficit de US$ 14 bilhões (0,6% do PIB) em 2024 e US$ 23 bilhões (0,9% do PIB) em 2025.

E com o aumento da previsão do PIB, os indicadores de endividamento em relação ao PIB tiveram ligeira melhora. O que confirma a estratégia do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de melhorar a sustentabilidade dos gastos públicos com o maior crescimento da economia.

Entretanto a visão mais conservadora do Itaú sobre os juros joga um balde de água fria nas pretensões da Fazenda. O que deve gerar pressões sobre o Banco Central no Copom. A próxima reunião está marcada para os dias 19 e 20 de março, quando se espera uma definição de horizontes da política monetária pelo Copom.

OLM