O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Bradesco e Santander mais otimistas

Publicado em 16/02/2024 às 15:58

Alterado em 16/02/2024 às 15:58

Embora tenham sido os dois bancos mais afetados em seus lucros pela onda de inadimplência, que exigiu forte aumento das provisões para devedores duvidosos e os piores resultados em lucros no sistema bancário brasileiro em 2023, Bradesco e Santander estão mais otimistas com o desempenho da economia este ano do que no começo de janeiro.

No Santander, a economista-chefe, Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro Nacional no governo Temer, que tinha uma visão bem conservadora, reviu para baixo as projeções de inflação de 2024 (de 3,9% para 3,4%, pela queda na alimentação e nos bens industriais, além de alta menor nos preços administrados) e manteve a de 2025 em 4,0%.

Entretanto, acreditando numa redução dos juros nos Estados Unidos a partir de maio (sobretudo após indicadores mais fracos na indústria e no comércio, ela reduziu de 9,50% para 8,50% a meta de redução da taxa Selic (atualmente em 11,25% ao ano) para dezembro deste ano. Isto viria com “mais quatro cortes de 0,50 p.p., seguidos de três cortes adicionais de 0,25 p.p”.

Copom mãos de tesoura

O Santander chama a atenção para a projeção de “reduções da taxa Selic em todas as reuniões do Copom em 2024”. A mudança de ritmo será uma resposta necessária ao fechamento do diferencial de taxas de juros entre os EUA e o Brasil, o que aumenta o risco de inflação através do canal de uma possível desvalorização cambial. Para o Santander, “haverá mais espaço para cortes na taxa Selic à medida que as economias desenvolvidas avancem no seu ciclo de flexibilização”.

No câmbio, o Santander reduziu a taxa de dezembro de 2024 de R% 5,25 para R$ 5,00. Para o ano que vem, com os saldos da balança comercial apreciando o real frente ao dólar (o que tem efeito deflacionário) a estimativa foi reduzida de R$ 5,30 para R% 5,05 em dezembro de 2025.

Nesta batida, o Santander segue projetando cortes da Selic em 2025, mas com “com quatro reduções adicionais de 0,25 p.p., resultando em uma taxa Selic de 7,50% ao final deste ciclo de flexibilização monetária”, em 7,50% ao ano.

Alívio nos indicadores de dívida

Mas o dado mais notável é que o déficit primário foi mantido em 0,8% do PIB para 2024 e para 2025. No entanto, com a redução dos juros (que tende a estimular o consumo e os investimentos), o PIB de 2024 foi elevado de 1,2% para 1,5% e o de 2025, de 1,5% para 2%.

A aritmética do maior denominador e da redução exponencial dos juros faz a Dívida Bruta do Governo Geral encolher de 80% para 77% em 2024 (menos 3 pontos de percentagem), enquanto a projeção para 2025 caiu de 83% para 79,7%, uma redução de 3,3 pontos percentuais.

Bradesco vê ganhos na balança

Já o Bradesco, mais conservador na projeção da taxa Selic que o mercado: prevê 9,25% em dezembro de 2024, contra 9% da mediana do mercado na Pesquisa Focus; e 8,5% no ano que vem), está prevendo 3,6% na inflação deste ano e de 3,2% em 2025. Um dos fatores da crença na baixa da inflação é a valorização do real frente ao dólar, que pode valer R$ 4,70 este ano.

O economista Rafael Murrer, do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco publicou ontem cenário prospectivo da balança comercial. Com aumentos esperados da produção de petróleo e da produtividade do setor agropecuário, ele projeta a manutenção da balança comercial em nível próximo ao do ano passado.

O Bradesco espera que “a balança comercial no Balanço de Pagamentos seja de US$ 74,5 bilhões”, contemplando “mais uma queda de preços de commodities agrícolas e um leve ajuste baixista nas cotações de petróleo”. A safra de soja deve ser menor do que em 2023, mas ainda em níveis elevados, e haveria um aumento expressivo do volume produzido de petróleo, que deve superar os 4 milhões de barris/dia este ano, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), contra a média de 3,4 milhões em 2023). Já as importações devem seguir em ritmo similar ao ano passado, ligeiramente mais elevadas.

O novo patamar da balança comercial, projeta que o déficit em conta corrente oscile ao redor de 1,0% do PIB neste e nos próximos anos. (muito baixo em termos históricos). Desde 2000, a média do nosso saldo em conta corrente é de -1,9% do PIB. Excluídos os anos de superávit, a média vai para -2,7%. Sendo assim, o cenário de contas externas seguirá bastante favorável.

O impacto será inevitável na apreciação cambial ao longo deste ano, assim como ocorrido em 2023. No modelo de aferição do Bradesco. Considerando ainda os investimentos estrangeiros diretos no país, “os resultados sugerem um câmbio ao redor de R$/US$ 4,70, quando adotamos as nossas projeções para 2024 de preços de commodities, PIB, saldo em conta corrente e expectativa de inflação a partir do patamar nominal atual. Nosso cenário é de apreciação cambial ao longo do ano, até atingir R$/US$ 4,70 em dezembro”.

O Bradesco espera que o real permaneça mais depreciado no primeiro semestre. Pelo ambiente internacional, acreditamos que existam vetores para que o dólar permaneça forte, seja por riscos geopolíticas ou pela manutenção dos juros nos Estados Unidos, com o Fed iniciando o ciclo de cortes apenas em junho. Somado a isso, a redução da taxa Selic continuará reduzindo o diferencial de juros contra os Fed Funds no curto prazo.

No cenário doméstico, o principal vetor de volatilidade segue sendo a dinâmica fiscal, com a definição da meta de primário e a aprovação das leis complementares para a reforma tributária no radar.