O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

IPCA: após 0,56% em dezembro, LCA vê baixa este mês

Publicado em 12/01/2024 às 16:01

Alterado em 12/01/2024 às 16:02

Após o susto da taxa de 0,56% em dezembro, causado pela subida de 1,1% no item Alimentos e Bebidas, que estava negativo até novembro e terminou o ano com alta de 1,03%, bem abaixo da variação do IPCA, de 4,62%, o mercado financeiro está reagindo de forma desencontrada ante as perspectivas da inflação no começo do ano, quando há pressão do novo salário-mínimo e das mensalidades escolares.

Perspectivas que podem afetar o ritmo de queda da Selic, atualmente em 11,75% ao ano.
Enquanto a LCA Consultores prevê desaceleração do IPCA para 0,40% em janeiro, com ajuda dos descontos das liquidações em vestuário e artigos de residência, o Bradesco, apesar de surpresas sazonais, manteve a projeção do IPCA de 3,6% em 2024.

Já o Itaú na atualização do cenário econômico de janeiro, prevê que a Selic pode fechar 2024 abaixo de 9% e 8,50% em 2025, com eventual aceleração pelo Banco Central em duas hipóteses: 1 – se o dólar (estimado em R$ 4,90, com IPCA de 3,5% para 2025), cair para R$ 4,75; 2 – se mesmo com o dólar em R$ 4,90, houver recuo da projeção do IPCA de 2025 e 2026 para 3,3%.

A Genial Investimentos tem um tom mais pessimista. Considera que energia elétrica e alimentos tendem a repicar este ano, por efeito do El Nino. Conjugado à tendência recente do Federal Reserve de impor cautela no início da redução dos juros nos Estados Unidos, isso pode impedir a aceleração do timo de redução na Selic, estimado em 0,50 ponto percentual para 11,25% em 31 de janeiro e para 10,75% em 20 de março.

Descontos na inflação
Ao fazer uma projeção do IPCA-15 (que o IBGE coleta de 16 de dezembro a 15 de janeiro) e do IPCA cheio (até o dia 30), a LCA previu aceleração de 0,40% em dezembro para 0,50% no IPCA-15 de janeiro e desaceleração de 0,56% em dezembro para 0,40% no IPCA de janeiro. Descontos de produtos que precisar girar estoques no comércio teriam influência baixista. A LCA segue mantendo a projeção do IPCA de 2024 em 4,2%.

Maiores influências no IPCA
Os dados de 2023, com a forte baixa da alimentação em domicílio, aliviou a renda das famílias que ganham até cinco salários-mínimos (R$ 7.060) bem mais do que são abrangidos pelo IPCA (R$ 56.480), que ganham até 40 SM. O peso dos alimentos é bem maior no INPC do que no IPCA, onde o item Transportes (alta de 7,14%) foi influenciado pela alta da gasolina (12,09%) e pelas passagens aéreas (47,24%), as Despesas com Saúde e Cuidados Pessoais subiram 6,58%, influenciados pela alta de 11,52% nos planos de saúde. Outro grande contraste foi em educação. Enquanto os mais pobres buscam a escola pública, as famílias mais ricas tiveram alta média de 8,24% nas mensalidades escolares.

Uma comparação com 2021 mostra o grande alívio da Alimentação e Bebidas no IPCA, com seu peso (de 23,92% em 2021 para 21,00% no ano passado) quase igualando o de Transportes (20,94%, contra 20,69% em 2021). Habitação pesou com 15,36%, menos que os 16,00% em 2021. Já os gastos com Saúde e Cuidados Pessoais subiram de 12,39% em 2021 para 13,33% no ano passado. As turbulências pós Covid lembram os impactos dos reajustes de combustíveis, câmbio e energia elétrica em 2015.