O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Itaú vê IPCA em 3,6% e Selic em 9% em 2024

Publicado em 20/12/2023 às 18:44

Alterado em 20/12/2023 às 18:44

Não só as agências de risco melhoram as perspectivas do Brasil. O Itaú, o maior banco privado do país, acaba de revisar, para melhor, as projeções macroeconômicas do Brasil de 2023, 2024 e 2025. Em dezembro de 2022, o Itaú previa que a inflação fecharia este ano em 5,6%, e o dólar em R$ 5,50, levando o Banco Central a só reduzir a taxa Selic para 12,50% no final do ano e produzindo aumento de apenas 0,9% no PIB e taxa de desemprego de 8,5%.

Na revisão do cenário de dezembro de 2023, o Itaú reduziu a última projeção do IPCA do ano de 4,6% para 4,5%, queda de mais 1,1 ponto percentual. Um dos fatores que contribuiu para esta revisão foi a baixa do dólar para R$ 4,90 (nível mantido para 2024, com R$ 5,10 para 2025. Os preços dos alimentos e a reoneração dos impostos em níveis inferiores a junho de 2022, quando o governo Bolsonaro cortou impostos federais e estaduais de combustíveis, energia elétrica e comunicações), criaram espaço à queda do IPCA e da Selic, que fecha em 11,75% este ano, mas reduziu de 9,5% para 9% a taxa de 2024.

Outro fator de freio nos preços é a existência de estoques elevados (um dos maiores foi de fertilizantes), porque o setor do agro, temendo desabastecimento após as retaliações à Rússia pela invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, fez muitas importações no ano passado (US$ 24,8 bilhões), mas este ano, com o excesso de estoques e queda de preços, os gastos com importações caíram mais de US$ 10 bilhões, para US$ 14,1 bilhões.

Mas o impulso produzido pela supersafra de grãos, além de reduzir a inflação, trouxe maior dinamismo ao Produto Interno Bruto, que vai crescer mais dois pontos, para 2,9% frente à projeção inicial de dezembro de 2022. E o Itaú está prevendo aumento de 1,8% para o PIB de 2024 e de 2025. Outro indicador que teve desempenho melhor que o esperado foi do mercado de trabalho. A taxa de desemprego deve fechar o ano em 8% (contra a previsão de 8,5%) e deve se manter nesse nível, na visão do Itaú em 2024 e 2025.

Contas fiscais a incógnita

O Itaú decidiu manter em zero, ao menos no curto prazo, a meta de resultado primário de 2024. Mas assinala que “os riscos fiscais continuam elevados, considerando a incerteza sobre a disposição do governo em contingenciar despesas e o efetivo impacto arrecadatório das medidas que estão sendo aprovadas este ano”.

O banco revisou para cima as expectativas de déficit primário de 2023 de 1,0% para 2,3% do PIB, mas reduziu o de 2024 de 1,2% para 0,8% do PIB, refletindo principalmente o deslocamento no tempo e a classificação integral como gasto primário do pagamento de precatórios e de receitas extraordinárias esperadas nesses anos. Para 2025, o Itaú espera déficit primário de 1,0% do PIB.

LCA vê IPCA de 4,2% e condicionantes à Selic

A LCA Consultores fez o movimento inverso ao do Itaú e está projetando na revisão do cenário de dezembro, com a expectativa de que a inflação em 2024 tenderá a correr mais perto do teto (4,50%) do que do centro da meta de inflação (3,0%), com elevação da taxa de 2024 de 4% para 4,2%. E, em função da elevação das alíquotas modais de ICMS, pôs essa previsão “em viés de alta”. Na seara fiscal, prevalece a expectativa de que a meta de déficit zero dificilmente será cumprida, mesmo com o avanço recente de matérias que visam garantir um bom reforço de arrecadação no ano que vem.

Nessas circunstâncias, é muito provável que a discussão sobre uma possível revisão das metas fiscais venha a ser “ressuscitada”, provavelmente ainda no 1º trimestre de 2024. Mas esse cenário confortável para a flexibilização monetária doméstica deverá começar a ser desafiado ainda nos primeiros meses de 2024, mesmo que o FED e outros bancos centrais comecem a reduzir os juros.

Para a consultoria, esse cenário fiscal e inflacionário desafiador deverá levar o Banco Central a desacelerar o ritmo de corte da Selic a partir da terceira reunião do Copom de 2024, agendada para 8 de maio”.

Entretanto, dois fatores podem operar na direção da distensão monetária. Primeiro, a possibilidade de que os ventos externos continuem a soprar favoravelmente - o que poderia manter o câmbio em apreciação, apesar das incertezas fiscais, contribuindo para amortecer pressões inflacionárias.

O segundo fator é o comportamento da atividade econômica doméstica. A LCA avalia que o período mais agudo do esfriamento econômico está ocorrendo nesta segunda metade de 2023, ao longo do qual o PIB deverá permanecer praticamente estagnado. Mas um eventual esfriamento mais agudo e/ou mais prolongado da atividade poderia levar o Banco Central a estender o ritmo atual de corte da Selic.

IBC-Br caiu em outubro

Confirmando a visão da LCA, o IBC-Br, o indicador de atividade do Banco Central que antecipa o comportamento do PIB (levantado pelo IBGE nas Contas Nacionais trimestrais) acusou queda de 0,06% em outubro, descontando efeitos sazonais e acumulou queda de 0,42% no trimestre agosto-setembro-outubro).