O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Copom, presta atenção nos Serviços!

Publicado em 13/12/2023 às 12:36

Alterado em 13/12/2023 às 12:36

O tombo de 0,6% no volume de negócios em outubro frente a setembro, na Pesquisa Mensal de Serviços, divulgada esta 4ª feira pelo IBGE, deve alertar o Copom. Foi a 3ª queda seguida, acumulando perda de 2,3% de agosto a outubro. Na série sem ajuste sazonal, frente a outubro de 2022, o volume de serviços recuou 0,4%. De janeiro a outubro a expansão é de 3,1%, mas o acumulado em 12 meses mostra desaceleração, ao cair de 4,4% em setembro para 3,6% em outubro de 2023, o menor nível desde julho de 2021 (2,9%). Os serviços são o setor mais importante e que mais ocupa na economia.

Apesar de se manter 10,2% acima do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia), o indicador da PMS está 3,2% abaixo de dezembro de 2022 (pico da série histórica). E o tombo (encerrado o efeito da movimentação da supersafra de grãos), está associado ao garrote dos juros altos da economia. Por isso, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, na reunião de logo mais à tarde que define os rumos da política monetária, quando terá a última composição mais ortodoxa e conservadora - (os mandatos dos diretores Fernanda Guardado, da área Internacional, e Maurício Moura, de Cidadania, terminam em 31 de dezembro) -, deveria fazer uma autocrítica de seus erros. O Fed e o Banco Central Europeu, que também se reúnem hoje, já pausaram a escalada dos juros e devem anunciar diretrizes para baixá-los em 2024.

Esta coluna cansou de advertir dos erros de avaliação do Banco Central, desde o ano passado. O Copom demorou a subir os juros em 2022, ano eleitoral. Foi atropelado pelos impactos inflacionários em combustíveis, produtos petroquímicos, fertilizantes e alimentos após a Rússia invadir a Ucrânia, em fevereiro, com consequências na escalada do dólar. Quando reagiu era tarde. A inflação chegou a 12,13% em abril e ameaçou a reeleição do presidente Bolsonaro. O Copom seguiu elevando a Selic até 13,75% em 3 de agosto.

Em junho, o ministro da Economia, Paulo Guedes, rasgou a cartilha liberal, ignorou os esforços vãos do Copom para baixar a inflação, e fez a mais drástica intervenção na economia no Plano Real: cortou impostos federais e estaduais de combustíveis, sobretudo a gasolina, de maior peso no IPCA, energia elétrica residencial e comunicações. A inflação foi negativa de julho a setembro e fechou o ano em 5,79%. Estourou o teto da meta (de 5%), mas não impediu a derrota de Bolsonaro para Lula. E os juros já esfriavam o PIB.

Um enorme erro de cálculo

Acreditando na reoneração imediata dos impostos em 1º de janeiro (a redução valia até 31 de dezembro), o que geraria forte repique na inflação, o Copom manteve a Selic em 13,75% na virada do ano. Antes da tentativa de golpe de 8 de janeiro, o governo Lula, temendo consequências políticas, adiou a reoneração para março, e de forma escalonada. Sem trocar informações com o governo e exacerbando o exercício de sua independência perante o Executivo, o Banco Central manteve o freio de mão puxado dos juros.

A inflação em 12 meses cedeu em todos os meses abaixo do nível de dezembro do ano passado. E as baixas se acentuaram de abril em diante com a entrada da supersafra de grãos no mercado. Em maio, a Petrobras cumpriu a promessa da campanha de Lula, de “abrasileirar” os preços dos combustíveis (com uso mais intenso do petróleo mais leve do pré-sal nas refinarias da Petrobras, em substituição ao PPI, que atrelava os preços domésticos aos do mercado internacional – com Bolsonaro reeleito, a privatização da estatal estaria na mesa). Isso comprimiu ainda mais os preços, já sob a reoneração.

De junho a setembro os preços dos Alimentos e Bebidas estiveram em queda, proporcionando aumento de renda real aos mais pobres. Com o forte crescimento da safra e sua movimentação, o segmento de serviços e a indústria alimentícia tiveram grande expansão no 1º semestre. Mas a teimosia do Copom (que teve a primeira troca em julho) só iniciou a baixa da Selic para 13,25% ao ano em 2 de agosto.

Como a inflação do IPCA acumulada em 12 meses tinha descido a 3,16% em junho, o Banco Central, temendo que de julho a setembro (devido à comparação com a queda de 1,32% nesse período em 2022) haveria forte repique na taxa anual, manteve os juros da Selic inalterados. Isso, quando a Petrobras já punha em prática a nova política de preços, fez a taxa de juro real (descontada a inflação) disparar para mais de 10%. Se o piso do mercado financeiro, que é a taxa Selic está acima de 10%, imagina os juros bancários.

Esse movimento explica a forte contração no setor de serviços da PMS e será confirmada amanhã na Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, bem como dos investimentos. Só em agosto, uma nova visão no Copom (pelo para-brisa, em lugar do retrovisor) alertou para o forte esfriamento da economia adiante. Um Copom dividido (metade dos oito diretores ainda insistia em reduzir só 0,25 ponto percentual) acabou avançando para 0,50% com o voto de minerva do presidente Roberto Campos Neto.

Mas era tarde para evitar a desaceleração no 2º semestre. Só não houve recessão no 3º trimestre por questões estatísticas, com variação ínfima de 0,1%. No setor de serviços, o maior crescimento foi das atividades financeiras e de seguros. O setor real, não ligado à exportação, afundou. Agora, as apostas são de forte queda da economia em 2024 (não haverá a bonança na safra de grãos, afetada pelo fenômeno El Niño). Por isso, o governo e a sociedade estão clamando por uma sinalização mais forte de baixa dos juros.

Há forte resistência de quatro membros do Copom de sinalizar baixa futura superior aos 0,50% já previstos. Mas em janeiro, o Comitê terá Paulo Pichetti na diretoria Internacional, e Rodrigo Silveira, em Cidadania. Ambos propensos, como Gabriel Galípolo, de Política Monetária, e Aílton Aquino, de Fiscalização, a uma visão mais ousada. Por isso, o setor real da economia anseia para que o Banco Central, com as projeções futuras do IPCA dentro do teto, sinalize que promoverá uma queda mais forte em 31 de janeiro, para reanimar o PIB.

Entretanto, a LCA Consultores, que tem visão dos economistas mais arejados, segue avaliando que “o ritmo de corte de 50 pontos-base será mantido por mais três reuniões (incluindo a desta semana); para depois cair para 25 pontos-base a partir da reunião de 9 de maio de 2024, fechando o ano em 9,25%.

Leilões em petróleo e energia medem confiança

A definição do horizonte dos juros é um fator importante para aguçar o apetite do setor privado (nacional e internacional) pelas ofertas (esta 4ª feira) nos leilões de petróleo da ANP e em linhas de transmissão de energia que o governo (Aneel) realiza na próxima 6ª feira, investimentos de R$ 21,7 bilhões.

No leilão de regime de concessão promovido pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que arrecadou R$ 4,34 milhões, sem ágio, nesta manhã, os destaques foram a Petrobras e a Shell. O consórcio formado por Petrobras (50%), Shell Brasil (30%) e CNOCC Petroleum (20%) arrematou o bloco P-M-1797 por R$ 2,17 milhões. Já o consórcio formado por Petrobras (70%) e Shell (30%) arrematou o bloco P-M-1799 pelo mesmo valor. O investimento previsto na área é de R$ 50 milhões.

Também foram leiloados blocos em dez setores da Bacia de Pelotas (RS), com seis dos quais não tiveram ofertas. O bônus acumulado na rodada até agora é de R$ 205,848 milhões. A Bacia tem 165 blocos em leilão.

No regime de concessão dentro da Oferta Permanente, 87 empresas estavam aptas a participar, mas só 21 apresentaram declarações de interesse e garantias de oferta para os 33 setores, que reúnem 602 blocos.

Na Argentina, apertem os cintos

O presidente Javier Milei mal desembrulhou seu programa econômico (a dolarização virá depois), mas os cortes de subsídios e a anunciada desvalorização do peso - que provocou alta de 7,50% no Dólar Blue (o paralelo), para 1.150, subida ainda mais drástica (41,83%) do dólar oficial, que subiu para 833,36 pesos - devem disparar a inflação como advertiu na posse.

Hoje o país saberá qual foi a última taxa de inflação (novembro) deixada pelo ministro da Economia, Sérgio Massa, derrotado por Milei. Em outubro os preços ao consumidor subiram 8,3%. As expectativas do mercado são de uma taxa de 12%. Mas o alerta de Milei foi para os argentinos se prepararem para uma taxa de mensal de dois dígitos nos primeiros meses de governo.

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