O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Focus: queda do óleo reduz IPCA a 4,51%

Publicado em 11/12/2023 às 14:37

Alterado em 11/12/2023 às 14:37

A decisão da Petrobras de reduzir, 6ª feira, 7 de dezembro, o litro do diesel em 6,6% nas refinarias e de manter estável a gasolina e o GLP, que pesam na inflação, levou o mercado financeiro a reduzir a previsão do IPCA de dezembro de 0,46% para 0,45% e a 0,44% nas previsões dos últimos cinco dias úteis, na Pesquisa Focus, colhida até o dia 7 e divulgada hoje pelo Banco Central. Diante da estabilidade dos combustíveis que mais pesam na inflação, o IPCA de 2023 foi reduzido de 4,54% para 4,51% (nível mantido das respostas de 5 dias), abaixo, portanto, do teto da meta: 3,25%+1,50% de tolerância=4,75%.

Amanhã o IBGE divulga o IPCA de novembro, estimado pelo mercado em 0,29% (contra 0,24% em outubro). O Bradesco espera 0,26% e a LCA, 0,30%. Entretanto, como em novembro do ano passado o IPCA subiu 0,41%, a taxa em 12 meses declinaria dos 4,82% para 4,65%. As avaliações do mercado, que se completam com projeção da inflação de 2024 em 3,93 (3,92% depois do último reajuste da Petrobras).

Os indicadores da inflação levaram o Itaú a reduzir para 4,60% a sua estimativa do IPCA deste ano e prever que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que inicia dois dias de reuniões amanhã, reduza a taxa Selic em 0,50% para 11,75% e anuncie reduções da mesma magnitude para “as próximas reuniões” (31 de janeiro e 20 de março), quando a taxa cairia a 10,75%. O Itaú espera que a Selic feche em 9,25%, em 2024, e em 8,50% em 2025, como a mediana do mercado. A decisão do Fed, definindo maior estabilidade nos juros americanos, pode reforçar a confiança do Copom.

Banco Central na retranca

Os dados do IBGE se completam na 4ª feira com a Pesquisa Mensal de Serviços e na 5ª feira com a Pesquisa Mensal do Comércio, cujos indicadores já devem estar à disposição do Copom, mostrando que o garrote dos juros está asfixiando a economia, por ter o processo de redução dos juros só se iniciado em 2 de agosto, quando a Selic, contrariando as previsões do mercado e dividindo o próprio Copom, foi reduzida de 13,75% para 13,25% ao ano.

Depois do PIB d0 3º trimestre vir com leve variação positiva de 01% (o mercado temia queda de até 0,3%), devido a revisões de crescimento do 1º e 2º trimestres, o mercado elevou as projeções de crescimento do PIB deste ano de 2,84% para 2,92% (sendo de 2,94% a mediana dos últimos cinco dias). Com o carregamento de 2023 e expectativa de folga nos juros no 1º trimestre, o crescimento de 2024 subiu de 1,50% para 1,51 (1,52% nos últimos 5 dias).

Vale recordar que até junho o mercado esperava (seguindo os comunicados do Copom), que a Selic fecharia o ano em 12,25% (queda de apenas 1,50 ponto), 9,50% em 2024 e 9% em 2025. Em agosto, já com sinais de que as altas de juros nos Estados Unidos não teriam muito fôlego, pois a economia dava sinais de desaceleração forte, o mercado reduziu as previsões para 12%, 9,25% e 8,75%, respectivamente. Em setembro, caiu para 11,75%, 9% e 8,50%. A reunião de novembro manteve 11,75% em 2023, elevou para 9,25% em 2024 e para 8,75% em 2025. Já agora em dezembro, 11,75% em 2023; 9,25% em 2024 e a taxa esperada para 2025 se reduziu para 8,50% ao ano.

Alimentos e petróleo derrubam a inflação

O Banco Central sempre procura valorizar os impactos da política monetária como responsáveis. Mas em 2022 e em 2023 não foi a Selic que derrubou os preços. Em 2022, os cortes eleitoreiros dos impostos de combustíveis, energia elétrica e comunicações fizeram o IPCA descer de 12,13% nos 12 meses terminados em abril, encerrar o ano em 5,79% ainda acima do teto da meta de inflação – 4,75% - porque os alimentos subiram 11,74%.

Este ano, com queda de 0,70% até outubro, enquanto o IPCA acumulou 3,75% de alta, os alimentos e os combustíveis, com reajustes mais brandos desde maio, quando a Petrobras adotou nova política de preços, usando mais o óleo mais eleve do pré-sal em suas refinarias, que operaram até 96% da capacidade instalada, os preços, mesmo com a recomposição de impostos, subiram abaixo do esperado pelo Copom, que manteve a Selic muito elevada temendo o repique inflacionário. A maior taxa anual de 2023 foi o 5,77% de janeiro (já inferior ao 5,79% de dezembro de 2022). Assim, mesmo mantendo a Selic estável em 13,75% em sete meses do ano, o Copom promoveu brutal aumento de juros que determinou movimento ascendente dos juros bancários.

No caso do petróleo, o fracasso da tentativa da Opep de reduzir a produção para forçar a alta de preços, está ajudando a Petrobras a garantir mais estabilidade no mercado de combustíveis domésticos, o que seria impossível com a manutenção do sistema de Paridade de Preços Internacionais (PPI), adotado em 2017 e que fazia os preços do país acompanharem as cotações internacionais ajustadas pela taxa de câmbio. A Petrobras teve sangue frio e evitou altos e baixos nas últimas três semanas de fortes oscilações.

OLM