O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

PIB sobe 0,1% e fica acima de 3% no ano

Publicado em 05/12/2023 às 12:33

Alterado em 05/12/2023 às 12:33

Revisões feitas pelo IBGE nas Contas Nacionais, elevaram o PIB de 2022 de 2,9% para 3%. No 1º e 2º trimestres deste ano, houve altas na agropecuária e serviços e queda na indústria, mas a taxa em 12 meses subiu, respectivamente, de 4,0% para 4,2% e de 3,4% para 3,5%. No 3º trimestre de 2023 (julho a setembro) contrariando as previsões, o PIB variou positivamente em 0,1% e manteve a taxa de crescimento anual acima de 3%, com 3,2% no acumulado sobre o mesmo período de 2022 e de 3,1% em quatro trimestres.

Depois de ser surpreendido pelo resultado, o Departamento de Estudos Macroeconômicos do Itaú (que previa queda de 0,2%), assinalou "alguns sinais de desaceleração da economia, com a variação trimestral do PIB ex-agro atingindo 0,3% no 3º trimestre, vindo de 0,7% e 1,0% no 1º e 2º trimestres,
respectivamente. Para o 4º trimestre, a estimativa preliminar so Itaú indica uma desaceleração, com o PIB ex-agro próximo da estabilidade. Assim, o banco mantém "a projeção de 2,9% para o crescimento do PIB nesse ano".

Pela ótica da Produção, após crescer (dado já revisado) 22,9% no 1º trimestre e 20,9% no 2º, a Agropecuária encolheu 3,3% no 3º trimestre de 2023. Mas o avanço de 0,6% na Indústria (na revisão do IBGE a taxa caiu para 1,5% no 1º trimestre e para 1% no 2º) e de 0,6% nos Serviços (que representam 67% do PIB e já tinham tido avanços mais expressivos no 1º e 2º trimestre, respectivamente, 3,3% e 2,7%) garantiram o PIB no terreno positivo este ano.

Pela ótica da demanda, o PIB do 3º trimestre foi puxado pelo aumento de 1,1% nas despesas das famílias (representavam 63,1% do PIB em 2022) e a expansão de 3,0% nas exportações (que representavam 19,6% da demanda do PIB em 2022). O avanço de 0,5% nos gastos/investimentos do governo (18,4% do PIB) completa o quadro positivo. As importações de bens e serviços (incluindo bens de capital) recuaram 2,1% e influíram na queda de 2,5% na Formação Bruta de Capital Fixo, que abarca investimentos em máquinas e a expansão das construções do parque produtivo (em todos os setores).

O contraste contra o 3º tri de 2022

O maior contraste na economia se deu em relação ao 3º trimestre de 2022. O governo Bolsonaro estava aplicando medidas eleitoreiras que iam dos cortes de impostos federais e estaduais em combustíveis, energia elétrica e comunicações, à farta distribuição de recursos aos eleitores. Também estava sendo plantada a safra de grãos que gerou grande impulso no PIB deste ano, impulsionou as exportações e ajudou a derrubar a inflação.

O IPCA acumulava 8,6% nos 12 meses encerrados em setembro de 2022 (antes dos cortes dos impostos, que derrubou os preços da gasolina, o IPCA atingira 12,7% em abril) e caiu para 4,6% em setembro de 2023. Houve sensível melhora no mercado de trabalho, como mostra a PNAD Contínua, com queda de 8,7% para 7,7% na taxa de desocupação.

A taxa Selic experimentou recuos em agosto e 20 de setembro, descendo dos 13,75% de setembro de 2022 para 12,75% em setembro último (no momento está em 12,25%, devendo cair a 11,75% no próximo dia 13). Os empréstimos a taxas livres do Sistema Financeiro Nacional cresceram 10% no período, aumentando o endividamento das famílias com juros elevadíssimos. Medidas governamentais de reajuste e pagamento adicional no programa de transferência de renda às famílias fizeram o consumo das famílias avançar 3,3% frente ao 3º trimestre do ano passado.

Os destaques trimestrais

Na Agropecuária - o crescimento trimestral de 8,8% foi puxado pelo avanço de 19,5% na produção de milho (plantado imediatamente após a colheita da soja, encerrada praticamente no 1º trimestre), pelo aumento de 13,1% na cana de açúcar (há forte demanda mundial pela seca que atingiu a Índia e outros países da Ásia) e o aumento de 12,5% na colheita de algodão (outra lavoura que sucede a soja, em regime de rodízio). O café cresceu 6,9%, mas houve queda de 7,3% na produção de laranja e de 8,1% no trigo, com os problemas climáticos no Rio Grande do Sul.

Na Indústria – o crescimento de 1,0% no 3º trimestre frente a igual período de 2022 foi puxado pela alta de 7,2% na Indústria extrativa mineral, com destaque para o crescimento da extração de petróleo e gás. Os serviços de utilidade pública cresceram pela alta de 7,3% na produção de energia elétrica. Mas a Indústria de Transformação, que representa a maior parte do PIB industrial teve contração de 1,5%. Estiveram em queda a produção de Máquinas e equipamentos, de Produtos químicos, da Indústria automotiva, na Metalurgia e das Máquinas e aparelhos elétricos.

Em compensação, os setores ligados à indústria de óleo e gás (sobretudo a produção de derivados de petróleo) bem como a transformação das safras agrícolas cresceram. A movimentação das safras gerou mais encomendas à indústria de caminhões e carrocerias.

Outra queda expressiva na Indústria foi na Construção (-4,5), com redução da ocupação na construção, na produção dos insumos típicos da construção e na venda de materiais de construção (sobretudo pelo desestímulo dos altos juntos nas compras de material de construção pelas famílias, já endividadas e os riscos dos juros altos para empreendedores imobiliários).

Nos Serviços – No setor que tem maior peso na formação do PIB, a variação trimestral foi de 1,8% e o segmento que mais cresceu foi o de Intermediação financeira e seguros (+7,0%), com os avanços liderados pelos seguros, seguido por Atividades imobiliárias (+3,6%), com aumento da procura de domicílios. O ramo de Informação e comunicação avançou 1,6%, mesmo índice de Transporte, armazenagem e correio. Outras atividades de serviços cresceram 1,1%. Afetado pelas altas taxas de juros o Comércio (atacadista e varejista) cresceu apenas 0,7%. Os serviços Administrativos, saúde e educação públicas e seguridade social (áreas de governo) cresceram 0,4%

Demanda de investimento encolhe

Enquanto os gastos de consumo das Famílias, importante motor do PIB, pela ótica da demanda avançavam 3,3% sobre o 3º trimestre de 2022, um indicador importante para assegurar a continuidade do crescimento econômico, com aumento da produtividade que contribuiu para estabilizar a inflação, a chamada Taxa de Investimento da Economia, expressa pela Formação Bruta do Capital Fixo, que envolve novas construções físicas para o comércio, indústria e serviços de utilidade pública, encolheu preocupantes 6,8% na base de comparação. Segundo o IBGE, houve queda na produção interna de bens de capital, decréscimo na Construção e redução na importação de bens de capital. Ou seja, está se formando uma tempestade perfeita.

No acumulado do ano 3,2%

No acumulado do ano, a Agropecuária, com avanço de 18,1% sobre igual período do ano passado, liderou os resultados da produção. A Indústria cresceu 1,2% e o setor de Serviços teve expansão de 2,6%.

Pela ótica da demanda, as Despesas de Consumo das Famílias avançaram 3,4%; as Despesas de Consumo do Governo cresceram 1,2%; a FBCF encolheu 2,5%; as Exportações de Bens e Serviços avançaram 9,8% e as Importações de Bens e Serviços recuaram 1,3%

Queda na taxa de investimento preocupa

Antes de conhecer os dados do PIB, o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, chamou a atenção hoje, no boletim diário da gestora de negócios, para a queda na taxa de investimento, lembrando que “após um período de crescimento entre 2017 e 2022, quando a taxa de investimento passou de 14,3% para 19,6% do PIB, a partir do último trimestre de 2022 esta trajetória tem mostrado forte reversão.

Ele assinala que a entrada de investimentos estrangeiros diretos no país (IDP), também mostra forte desaceleração. Em outubro, o total de IDP atingiu US$ 3,3 bilhões, abaixo das expectativas dos investidores (US$ 4,50 bilhões) e uma queda de 43% comparado ao mesmo mês de 2022 (US$ 5,8 bilhões). De janeiro a outubro de 2023 entraram no país US$ 44,9 bilhões de IDP, uma queda de 40% frente ao mesmo período de 2022.

Ele elenca entre as causas “prováveis” para a queda “o projetado aumento da carga tributária necessário para financiar os aumentos de gastos planejados pelo governo, as incertezas geradas pelas propostas de reversão de algumas das principais reformas implementadas nos últimos seis anos, como a trabalhista, previdência, autonomia do Banco Central, marco regulatório do saneamento e a discussão da reforma tributária”.

Para José Márcio Camargo, é importante entender as causas desta redução da taxa de investimento e desenhar políticas que revertam esta trajetória, para evitar queda da taxa de crescimento do produto potencial no futuro.