O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

IPCA-15, de 0,21%:'aqui, tudo bem'

Publicado em 26/10/2023 às 16:45

Alterado em 26/10/2023 às 16:58

Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, dias 31 de outubro e 1º de novembro, o mercado financeiro e os agentes econômicos operam de olho nos cenários externo (guerra, petróleo e juros do Federal Reserve, que se reúne nos mesmos dias do Copom) e doméstico. As surpresas e as rápidas mudanças levaram o Bradesco, 2º maior banco privado soo país criar, em 15 de outubro, ao lado do seu “Boletim Diário”, com análises de indicadores da véspera, o “Primeira Reação”, uma análise quase “online” de fatos da mesma manhã. O Itaú já tinha esse serviço de análises imediatas.

Hoje, o tema do “Primeira Reação” foi o IPCA-15 de outubro, que apresentou alta de 0,21%, segundo o IBGE. Vale dizer que como a pesquisa dos preços se limitou ao período de 15 de setembro a 13 de outubro, não captou o efeito da redução (a partir de 21 de outubro) de 4,1% no litro da gasolina nas refinarias da Petrobras, que aumentou, na mesma data, em 6,6% o litro do óleo diesel.

'Desinflação consistente'

A LCA Consultores estava esperando alta de 0,23% (após 0,35% em setembro). Mas o Bradesco trabalhava com um aumento bem menor, de 0,16% e o Itaú, ainda menor, de 0,14%. A mediana do mercado era de 0,20%. O importante é que a taxa em 12 meses ficou com alta de 5,05%, contra 5% no IPCA-15 de setembro. Apesar da menor velocidade das baixas dos preços da alimentação em domicílio (de -1,25% em setembro para -0,52%) e da pequena alta em serviços (de 0,53% para 0,63%), os núcleos de inflação mostraram comportamento moderado, ficando abaixo das projeções.

Como estamos em clima de guerra no Oriente Médio, veio à lembrança os minaretes das cidades dominadas pelos árabes na idade média, quanto de tempos em tempos, os arautos bradavam a hora, convocavam para as rezas islâmicas e em seguida diziam “Até aqui tudo bem”. Às vezes, meia hora depois, o posto era atacado. Nos tempos da internet, a rapidez da informação é fundamental. Assim, o brado do Bradesco foi “Desinflação consistente”.

O Bradesco e o Itaú assinalaram que a maior pressão de alta veio das voláteis passagens aéreas, que subiram 23,71%, um aumento de mais 5 pontos sobre setembro, que pressionou a inflação dos Serviços (0,63%). O Bradesco observou que a inflação subjacente, acompanhada pelo Banco Central, apresentou desaceleração adicional, com alta de 0,14%. Os bens Industriais ficaram praticamente estáveis na margem, ainda com deflação de bens duráveis e com a moderação de bens e serviços subjacentes, o núcleo EX3 (mais sensível ao ciclo) desacelerou de 3,4% para 2,9% na variação trimestral anualizada.

Os preços Administrados desaceleraram em função das quedas de gasolina e energia elétrica. A redução dos preços da gasolina nas refinarias, vai ter impacto no IPCA fechado de outubro, no IPCA-15 e IPCA cheio de novembro. A média dos núcleos desacelerou de 0,27% para 0,23%. Na média de 3 meses dessazonalizada e anualizada, a média dos núcleos está rodando no patamar de 3,8%. Para o Bradesco, a leitura do dado “é qualitativamente positiva e coloca um viés baixista para a nossa projeção de 4,8% para 2023”.

Itaú vê maior desinflação

Para o Itaú, os itens que repetem a variação do IPCA-15 para o IPCA fechado do mês (passagem aérea, cursos, aluguel e condomínio, mão de obra, empregado doméstico, entre outros) vieram 5 bps acima da sua projeção. Mas na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, serviços subjacentes desaceleraram para 3,8% (de 4,1%), enquanto o núcleo de industriais subjacentes desacelerou para 1,4% (de 1,9%). Na mesma métrica, a média dos núcleos oscilou para 3,9% (de 3,6%).

Assim, o Itaú considera que a inflação de núcleos, tanto serviços quanto industriais, “veio melhor do que a nossa projeção, reforçando uma sequência de dados de inflação com abertura benigna”. O Itaú destaca que a média trimestral do IPCA-EX3, núcleos de serviços e bens subjacentes, “desacelerou para 2,8%, contra 3,3% em setembro e 6,3% em junho desse ano. A métrica de difusão, tanto para o índice cheio quanto para o núcleo do IPCA-EX3, continuou mostrando queda adicional, sinalizando maior desinflação adiante”.

Tributação de fundos reforça receita

A Câmara aprovou ontem a proposta que altera a tributação de fundos offshore e exclusivos. A medida, que agora também precisa passar no Senado, é parte importante da estratégia de reforço da arrecadação do governo para cumprir a meta de déficit zero para 2024. O Itaú estima um aumento da arrecadação de impostos em torno de R$ 33 bilhões (com a tributação dos fundos exclusivos) e de R$ 7 bilhões com a tributação de fundos offshore.

Mas as últimas mudanças podem alterar os cálculos. As incertezas estão ligadas à volatilidade dos mercados (que inflam ou reduzem os patrimônios), e às próprias decisões dos investidores.

Reforma tributária avança

Paralelamente, no Senado, o relator da reforma tributária revelou suas recomendações, após aprovação na Câmara dos Deputados no 1º semestre. O tema segue em discussão na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Após aprovação na comissão, a proposta seguirá para o plenário do Senado. Eventuais mudanças eventualmente feitas pelo Senado também precisarão ser aprovadas pela Câmara dos Deputados.

Entre as principais modificações propostas está o aumento do Fundo de Desenvolvimento Regional da reforma de 40 bilhões para R$ 60 bilhões, a serem financiados pelo governo federal. O relator propôs ainda um limite para a carga fiscal total sobre o consumo, estabelecendo um limite máximo de taxa de IVA de referência com base na receita média de 2012 a 2021, calculada em proporção do Produto Interno Bruto (PIB). O texto amplia a lista de setores com exceções, ou seja, alíquota reduzida de ICMS ou regime tributário diferenciado, ainda a ser determinado.

A pressa de Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não quer perder tempo para imprimir orientação pró-ativa ao Comitê de Política Monetária do Banco Central, que terá dois de seus oito diretores com mandato encerrados em 31 de dezembro, respectivamente, Fernanda Guardado, da área Internacional, e Maurício Moura, da Cidadania. Como o Congresso entra em recesso no dia 22 de dezembro (na semana anterior ao Natal) e só volta a operar em 1º de fevereiro, Haddad gostaria de submeter os dois nomes em novembro, para haver tempo para a sabatina na comissão de Economia e aprovação em Plenário.

Assim, ambos já poderiam participar da 1ª reunião do Copom em 2024, dias 30 e 31 de janeiro, quando o colegiado teria quatro nomes indicados pelo governo Lula e mais comprometidos com uma política de crescimento (que fortalece o arcabouço fiscal). O 1º nome que circula é o de Rodrigo Alves Teixeira, que já integra a equipe de Haddad para a diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do Banco Central. Para a área Internacional, circulam nomes de ex-diretores da área do BC e de um ex-executivo do UBS.

Na avaliação da equipe de Haddad a postura ultra defensiva do Copom, agravada pela demora na troca dos dois mandatos que expiraram em fevereiro (Política Monetária e Fiscalização), que só se consumaram em julho, com Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo da Fazenda, e Aílton Aquino, respectivamente, fizeram o Banco Central esticar além do necessário o torniquete da política monetária, deixando a Selic em 13,75% ao ano até 2 de agosto, quando todos os sinais apontavam a queda da inflação, pela baixa dos alimentos e da trajetória mais suave dos preços dos combustíveis, estão custando a forte desaceleração do PIB no 3º trimestre.

Tags: