O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

LCA já vê IPCA em 4,7%; na meta

Publicado em 13/10/2023 às 15:02

Alterado em 13/10/2023 às 20:48

A boa surpresa da inflação abaixo do esperado em setembro (0,26%, contra os 0,33% previstos pelo mercado) pode se repetir em outubro. A LCA Consultores está prevendo alta de 0,29% no IPCA deste mês (bem abaixo dos 0,38% a 0,36% esperados pelo mercado na Pesquisa Focus desta semana). A soma de dois resultados inferiores às previsões do mercado levou a LCA Consultores a reduzir de 4,9% para 4,7% a projeção de alta do IPCA até dezembro. Ou seja, estaria dentro do teto da meta (3,25%+1,50%=4,75%).

O Itaú também foi surpreendido com a inflação menor do IPCA de setembro, divulgada pelo IBGE no dia 11, 4ª feira, (previa 0,32%) e reviu sua estimativa de inflação de deste ano, que estimara em 4,9% na revisão do cenário de 2023 publicada dia 9 de outubro (2ª feira), indicando hoje o índice de 4,6% para o IPCA deste ano “com viés” de baixa. O Santander já tinha reduzido a previsão no dia 8 para 4,7%, dentro do limite do teto da inflação.

O recorde da safra de grãos previsto pelo IBGE para 2022-24 (na estimativa de outubro, aumentou para 318 milhões de toneladas) garante, segundo a LCA, nova baixa dos Alimentos e Bebidas em outubro (-0,37% contra os 0,71% de setembro). Seria a 5ª baixa seguida dos alimentos desde junho, acumulando -3.085 no período.

Isso seria suficiente para aliviar o custo da alimentação, que tem maior peso no orçamento das famílias com renda até cinco salários-mínimos (R$ 6.600) do INPC do que nas famílias pesquisadas no IPCA (com renda até 40 SM-R$ 52.800). De janeiro a setembro, graças à baixa dos alimentos (-1,02% na alimentação em domicílio) o INPC subiu apenas 2,91%, contra 3,50% do IPCA.

A incógnita do petróleo

A escalada do conflito entre Israel e os vizinhos, a partir do revide aos ataques traiçoeiros dos terroristas do Hamas, grupo ligado ao Irã - que saiu d faixa de Gaza no sábado passado (dia sagrado para os judeus ortodoxos) e invadiu as fronteiras no Sul de Israel, fazendo reféns jovens judeus, não ortodoxos, que estavam numa “rave” ao ar livre, no deserto - pode ameaçar os preços do petróleo e seus derivados. Este seria um enorme risco para o mundo e o Brasil.

Os preços do barril do petróleo tipo Brent (do Mar do Norte) não tinham sofrido maiores alterações. Negando previsões alarmistas de alta acima de US$ 100, as cotações do mercado futuro vinham em queda. Mas, hoje, houve um salto e o barril para entrega em dezembro (próximo vencimento) superou a faixa dos US$ 89, cotado a US$ 89,19 por volta das 12hs (horário de Brasília), com alta de 3,71%. E os contratos futuros dos vencimentos de 2023 e 2025 também subiram, mas sempre abaixo do pico de dezembro e muito abaixo de US$ 100. A partir de fevereiro de 2025 as cotações estão aquém de US$ 80.

Se o Brasil e a Petrobras continuassem atrelados à Paridade de Preços Internacionais (PPI), com a correção quase automática dos preços domésticos dos combustíveis (sobretudo gasolina, diesel e GLP) às cotações internacionais, atualizadas pela taxa de câmbio, os reajustes teriam sido inevitáveis. E, junto com a volta da cobrança dos impostos federais e estaduais sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações, que o governo Bolsonaro, no desespero eleitoral, cortou drasticamente em fins de junho, gerando deflação de 1,32% de julho a setembro, a inflação ia disparar e não haveria baixa de alimentos capaz de neutralizar as pressões altistas.

O verde e amarelo positivo

Para derrubar a inflação, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, optou pelo corte dos impostos nos itens sob controle do Estado e que pesam muito na inflação oficial. O alvo principal era a gasolina que pesa 5% no IPCA, o item de maior impacto entre os 377 pesquisados pelo IBGE. Com os cortes de 2022, seus preços caíram 26,02% de janeiro a setembro (no mesmo período o óleo diesel, utilizado no transporte urbano e de mercadorias, subiu 18,14%).

Se houve alívio para os donos de carros, motos e “jets skys”, para as famílias de menor renda a despesa ficou pesada na alimentação, que subiu 11,64% de janeiro a setembro de 2022, mais do que o dobro da inflação acumulada no IPCA (4,09%). Não é de admirar que os eleitores de menor renda tenham assegurado a vitória de Lula.

Até setembro de 2022, o arroz subiu 10,29%, o feijão carioca, 24,85%, o óleo de soja, 5,13% (após o susto da alta de 100% em setembro de 2020, por excesso de exportação, sem estoques reguladores, quando o Brasil teve de importar soja em grão para extrair óleo, o governo Bolsonaro tratou de garantir um mínimo de estoques). Mas os óleos e gorduras subiram 7,81%, as carnes, 1,27%, o leite longa vida subiu 50,73%, a cebola, 63% e a batata-inglesa, 20%.

O Banco Central ficou preparado para o cenário de guerra à inflação em 2022 e 2023, com os juros em 13,75% ao ano, esperando a recomposição imediata dos impostos em 1º de janeiro. O governo Lula decidiu adiar e espaçar os reajustes antes mesmo do 8 de janeiro. Estava escaldado pelas arruaças promovidas em Brasília, em 12 de dezembro, quando o STE diplomou Lula e o vice Alkimin, antecipando a cerimônia marcada para o dia 19, pelos “kids pretos”. A ação destas tropas de elite do Exército visava implantar o caos e forçar a decretação do Estado de Garantia da Lei e da Ordem, com a intervenção das forças armadas. Enredo repetido em larga escala em janeiro.

Mas o governo Lula, bem-informado sobre as safras recordes de grãos, contava com a redução dos preços dos alimentos, com a intensificação das colheitas a partir de março. Ela só veio em junho (queda de 0,66% na alimentação) e já em maio o governo adotou a nova fórmula de reajuste dos combustíveis. Com uso mais intenso nas refinarias da Petrobras do petróleo mais leve extraído do pré-sal a custos baixíssimos (abaixo de US$ 28 por barril, incluindo fretes e participações governamentais), a estatal pode suportar preços mais estáveis, sem se sujeitar (e ao país, sobretudo) à gangorra das oscilações do mercado, que crescem em momentos de crise como a do Oriente Médio, quando os impactos da invasão da Rússia à Ucrânia tinham amainado.

O efeito gangorra

Diante da indexação efetiva e psicológica existente no Brasil, o efeito gangorra faz com que vários preços (sobretudo na área de serviços) sigam as oscilações do petróleo. O problema é que quando os preços sobem, eles não tornam a baixar nos demais itens influenciados psicologicamente, quando o barril cai de preço. Essa foi a dupla contribuição da supersafra e da política de preços da Petrobras, às quais o Banco Central e o mercado financeiro não deram fé.

Os preços estão caindo em 2023, com a gangorra abaixada. Se os combustíveis subiram com o retorno dos impostos, a alta da gasolina, de 16,18% até setembro no IPCA, não repôs a queda de 26,02% no IPCA de 2022 até setembro. O GLP, que tinha subido 7,99% em 2022, caiu 5,34% até setembro. Mais notável foi o comportamento dos alimentos, após subir 63% em 2022, o preço da cebola caiu 48% este ano; o leite longa vida tem baixa de 0,66%, o feijão rajado cai 19,3, compensando a alta de 10,29% do arroz, afetado pela seca no Rio Grande do Sul, no começo deste ano.

O mais notável é a queda das carnes (em parte pela retração de compras da China de maio a agosto): o quilo do acém caiu 12,61, o do contrafilé, 13,25% e o frango em pedaços, seguiu a tendência, com baixa de 12,61%. A promessa de campanha do presidente Lula, de “abrasileirar” os preços da Petrobras e de garantir aos eleitores um churrasco com picanha e cerveja, ficou mais palatável, com a queda de 13,52% no preço da picanha até setembro.

Se o Banco Central avaliasse melhor o cenários – o que pressupunha maior troca de informações com a equipe econômica – o que só se concretizou após a ida de Gabriel Galípolo, que era secretário-executivo do Ministério da Fazenda para a diretoria de Política Econômica do Banco Central – incluindo um almoço, há duas semanas, do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com o ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula, Roberto Campos teria entendido que os clamores do presidente da República pela antecipação da baixa dos juros, era um clamor nacional.

Se o BC tivesse antecipado a queda dos juros da Selic, os custos para o Tesouro, famílias e empresas teriam sido bem mais palatável.

Tags: