O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

IPCA de 0,26% pode fechar o ano na meta

Publicado em 11/10/2023 às 19:28

. OLM

Pelo 4º mês seguido, com o impacto da supersafra de grãos, o índice de Alimentos e Bebidas ficou negativo em -0,71%, com baixa de 1,02% na Alimentação em Domicílio e neutralizou (com -0,15% no IPCA de setembro) parte do aumento de 1,40% no item Transporte que impactou em 0,29% a inflação do mês, puxada pela alta de gasolina (2,80%), subitem com a maior contribuição individual (0,14 p.p.) no IPCA. Os combustíveis subiram (2,70%), com altas no óleo diesel (10,11%) e no GNV (0,66%), enquanto o etanol caiu 0,62%.

Como em setembro de 2022, a taxa fora negativa em 0,29%, pela redução de impostos federais e estaduais sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações, e agora se completou a recomposição dos impostos, houve um efeito gangorra no IPCA, que atingiu 3,50% no ano e 5,19% em 12 meses (o pico do ano). Um dado importante foi que o índice de difusão (percentuais dos itens em alta) ficou em 43% (53% em agosto), no menor índice de 2023.

Se as projeções do mercado para os próximos meses estiverem certas (em setembro, esperava-se 0,33%), há chances – se a alimentação ajudar – de a inflação, estimada em 4,82¨% nas previsões dos últimos cinco dias úteis na última pesquisa Focus ficar dentro do teto da meta: 3,35%+1,50%=4,75%, pois o IPCA de setembro já ficou 0,7 ponto percentual abaixo do previsto.

Isto pode ser possível, já que até agora, apesar do agravamento do conflito entre o Hamas e Israel, com os ataques do Hezbollah, no Sul do Líbano, a cotação do petróleo do tipo Brent no mercado futuro para entrega em dezembro caiu mais 1,51% hoje, para US$ 86,30. Sem pressões externas, a Petrobras tem como estabilizar os preços dos combustíveis, pois o custo de extração do pré-sal, que é menos de 1/3 do Brent, não é afetado. Os reajustes seriam quase automáticos se o PPI tivesse sido mantido. O que geraria uma escalada na inflação.

Safra neutraliza impostos em combustíveis

O impacto da safra ameniza o item de maior despesa das famílias (21,11% no IPCA, que mede os gastos das famílias com renda até 40 salários-mínimos). Como as famílias de maior renda têm carro ou motos, os combustíveis influem no item Transporte, que vem em 2º lugar nas despesas do IPCA, com peso de 20,68%, seguido da Habitação (onde entra a energia elétrica e combustíveis domésticos) com peso de 15,33%.

Além da recomposição de impostos, houve pressão de reajustes anuais, sobretudo em energia elétrica (8,41% no ano), mas queda de 5,34% no gás de cozinha e gás natural. Em Transporte, a alta de 5,79% de janeiro a setembro é liderada pelo aumento de 16,18% na gasolina. Mas o óleo diesel, que pressiona os fretes de transportes de mercadorias e as passagens urbanas, teve queda de 7,11% no ano. Dois grandes fatores de pressão nos orçamentos estão sofrendo influência da indexação: os gastos em Educação acumulam alta de 7,90%, enquanto os gastos com Saúde e Cuidados pessoais aumentaram 5,79%, puxados pelos reajustes de 0,01% nos Planos de Saúde e de 5,42% em remédios.

Entretanto, tratando apenas da inflação corrente, sem levar em conta impactos de reajustes passados, os indicadores são benéficos: em setembro, 43% dos 377 itens pesquisados subiram, menos que os 53% de agosto, sendo que 41% dos itens alimentícios subiram, menos que os 43% de agosto. Já entre os itens não alimentícios apenas 44% subiram, uma redução expressiva frente aos 61% de agosto.

Lula X Bolsonaro

Uma análise política comparando a inflação dos primeiros nove meses do último ano da gestão Bolsonaro com os primeiros nove meses de Lula mostra uma sensível diferença.

No ano passado, para agradar o andar de cima, onde se concentra o eleitorado de maior renda, Bolsonaro reduziu, com deflação de 1,32% entre julho e setembro, os impostos dos combustíveis (à frente a gasolina), da energia elétrica e das comunicações e o IPCA acumulou 4,09%.

Já Lula, aproveitou a baixa dos alimentos, que aliviou o bolso dos mais pobres, como se pode medir no caso do INPC, que acompanha as despesas de quem ganha até cinco salários-mínimos, onde o peso da alimentação é maior, e o índice acumulado no ano ficou em apenas 2,90%, para conter os reajustes do diesel, que impacta o transporte urbano e de mercadorias e o GLP no bolso do andar de baixo.

Bolsonaro alivia o andar de cima; Lula o andar de baixo

OLM

 

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