O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

O OUTRO LADO DA MOEDA

Galípolo muda o BC ou é devorado

Publicado em 09/10/2023 às 13:52

Alterado em 09/10/2023 às 13:52

Logo mais, às 14 horas, em live no YouTube, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que era secretário-executivo do Ministério da Fazenda e foi um dos dois novos diretores indicados pelo governo Lula para compor o Comitê de Política Monetária (Copom), integrado pelos oito diretores da autoridade monetária e mais o presidente, Roberto Campos Neto, inaugura uma nova forma de comunicação do Banco Central com a sociedade.

“LiveBC explica o que é Política Monetária e como o combate à inflação é importante para sua vida” é o título que chama para a apresentação no site do Banco Central, que completa:

“Inflação, câmbio, crescimento: como equilibrar cada variável e por que isso é importante na sua vida. Entenda como o BC trabalha para manter o poder de compra do seu dinheiro. Saiba mais detalhes na próxima segunda-feira (09), às 14h, na LiveBC, no Canal do BC no YouTube”.

Será uma ótima oportunidade para os agentes econômicos e a sociedade como um todo avaliarem se a ida de Galípolo e de Ailton Aquino (para a diretoria de Fiscalização) já está mudando a maneira de pensar do Banco Central ou apenas os métodos de comunicação com a sociedade é que ficaram mais claros ao trocarem o Coponês pelo economês mais compreensível.

A rigor, a se levar em conta a recente palestra de Galípolo na semana passada, em São Paulo, os dilemas diários que afligem os membros do Copom, com pressões domésticas e da área externa, tornam sempre mais cautelosa a ação das autoridades monetárias.

Tomem-se os fatos da semana passada para cá, que começaram com pressões de alta dos juros nos Estados Unidos, que podem levar o mundo a forte desaceleração/estagnação em 2024 e culminaram sábado com os ataques do Hamas a Israel , exponenciando a guerra permanente na faixa de Gaza a enclaves de Israel em territórios palestinos ou sírios, ameaçando uma escalada dos países árabes contra Israel e desdobramentos no preço do petróleo.

Tudo é motivo para o Copom redobrar a cautela. A última Pesquisa Focus, com respostas até a última 6ª feira e divulgação hoje pelo Banco Central só captou os temores com a alta dos juros nos EUA e eventual alteração no dólar. Pelo sim, pelo não, os mercados de risco em todo o mundo caíram hoje pela pressão vendedora. Espera-se que Galípolo oferece um Norte mais claro.

Até 6ª, mercado confiante

Os dados da Pesquisa Focus mostraram estabilidade nas projeções de inflação para 2023 (4,86%, sendo que as respostas dos últimos cinco dias úteis apontavam para 4,82%, quase no teto da meta de inflação – 3,25%+1,50%=4,75%) e para 2024 (3,88%, sendo de 3,86% as apostas dos últimos cinco dias, dentro do teto da meta – 3%+1,50%=4,50%). O PIB de 2023 foi estimado em 2,92 (2,90% nos últimos cinco dias) e em 1,50% para 2024.

A Pesquisa não sofreu impacto das versões que começam a circular no mercado de que, diante das turbulências no horizonte, o Banco Central mude os planos de reduzir em 0,50 ponto percentual a taxa Selic em 1º de novembro e em 13 de dezembro. A Focus seguiu apontando a Selic em 11,75% em dezembro (queda de dois pontos desde 2 de agosto) e em 9% para dezembro de 2024.

Para o IPCA, as previsões são estáveis nos próximos três meses. Para a taxa de setembro, que o IBGE divulga na 4ª feira, a mediana do mercado espera alta de 0,35% (0,33% nos últimos cinco dias úteis). É uma alta frente aos 0,23% de agosto, indicando o fim dos efeitos benéficos da baixa dos alimentos. O Bradesco espera 0,32% e a LCA Consultores, 0,33%.

Como setembro de 2022 foi o último mês de deflação (-0,29% com os cortes dos impostos de combustíveis, energia elétrica e comunicações em julho), a inflação em 12 meses sobe. Mas não chega a preocupar. Para outubro a Focus apontou 0,38% (0,36% nos últimos cinco dias) e 0,32% para novembro (0,33% nos últimos cinco dias. Todas as projeções, inclusive para dezembro, são de tacas inferiores às dos mesmos meses do ano passado. Salvo imprevistos.

A janta pelo almoço

Um dos fronts de turbulência no mercado doméstico é a política fiscal. O menor crescimento da economia (e das receitas) neste 2º semestre, pela trava das taxas de juros reais elevadas, está frustrando as expectativas de arrecadação. E a parte conservadora do Congresso que só sabe operar politicamente com a caneta governamental, segue fazendo chantagem contra o governo Lula, pleiteando vaga em ministérios e nas maiores estatais. Um dos focos de pressão foi adiar para daqui a duas semanas a votação da nova tributação sobre os fundos exclusivos e os fundos “off-shore”.

O saudoso João Saldanha tinha um modo peculiar para justificar baixo público no Maracanã no fim da 2ª quinzena de cada mês: “O pessoal está vendendo garrafas para fazer troco”. Era um tempo dos cascos de cerveja retornáveis, que tinham cotação nos bares da cidade. Hoje, com os tickets refeição, o povão diz que “está vendendo o almoço para comer a janta”. (o jantar com a família). Pois o governo está quase assim. No Carf cobra dívida de R$ 6,5 bilhões de operações da Petrobras no exterior nos últimos anos.

E a nova ideia para alcançar o déficit primário zero (sem contar os juros da dívida) é regulamentar a venda de crédito tributário para conseguir mais R$ 50 bilhões. Proposta para regulamentar a securitização de recebíveis será apresentada este mês ao Congresso, para tentar antecipar o ingresso nos cofres públicos de receitas futuras, oriundas de transações tributárias.

A questão é que, antes, o governo precisa pôr em dia o bilionário calote dos precatórios aplicado por Paulo Guedes e Jair Bolsonaro para fabricar superávit primário no ano passado (na verdade, garantir os gastos de bilhões para seduzir o eleitor). Se o governo federal e os dos estados não honrarem os precatórios (decisões judiciais homologadas de reconhecimento de dívidas a pessoas físicas ou jurídicas), quem se arriscará a assumir títulos do Tesouro?

Desentupindo a manilha

Cariocas e moradores do Grande Rio não se conformam com as obras paradas, há quatro anos, na gestão do “operoso” ex-ministro da Infraestrutura e atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para a construção de 3ª pista da Br-101, entre a saída de Niterói/São Gonçalo, até o trevo de Manilha, em Itaboraí. Agora, a promessa é de que as obras sejam retomadas pela Arteris no 2º semestre de 2024 (espera-se que não seja outdoor eleitoral).

As obras ficaram paradas, assim como a duplicação da Serra de Petrópolis, interrompidas em 2017, quando Tarcísio dirigia o DNIT, o mesmo que fez a licitação para a Arteris, sucessora da Autopista Fluminense, que devolveu a concessão no governo Dilma. Tarcísio fora chamado por Dilma para fazer uma faxina no DNIT. Mas as duas obras federais de maior importância no Grande Rio não saíram do papel nem das discussões nos tribunais.

Quem garante que as obras serão retomadas é o presidente da Comissão de Obras da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), deputado estadual Guilherme Delaroli (PL). Ele esteve em Brasília, 3ª feira passada com o ministro dos Transportes, Renan Filho; e o secretário-executivo, George Santoro. Pelo enredo da audiência, percebe-se a intenção de exploração política de uma necessária retomada de obras nas eleições municipais de 2024.

Segundo o “release”, o “encontro foi solicitado pelos deputados federais Hugo Leal (PSD) e Altineu Côrtes (PL), atendendo a um pedido do prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli (PL), representado no encontro pelo deputado Guilherme Delaroli. Também participaram da reunião, o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Rafael Vitale, e representantes das concessionárias EcoRioMinas e Arteris. Além de desafogar o trânsito nos fins de semana e feriadões, a obra é fundamental para atender a retomada do projeto do antigo Comperj, atual Gaslub, em Itaboraí.

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