
O OUTRO LADO DA MOEDA
Eleitor do Sudeste e NE escolheu Lula
Publicado em 16/09/2022 às 20:32
Alterado em 16/09/2022 às 20:32

“Política é como as nuvens”, dizia Magalhães Pinto, o sagaz político da UDN de Minas Gerais. O fundador do antigo Banco Nacional acrescentava que elas ora pareciam um elefante, ora carneirinhos. As pesquisas eleitorais estão para as urnas como a observação das nuvens. Cada hora mostram um retrato. Pelo último DataFolha, divulgado dia 15 de setembro, que entrevistou, presencialmente, entre os dias 13 e 15, 5.926 pessoas em 300 dos 5.570 municípios do país, salvo se houver um furacão, a sorte está lançada. Se o ex-presidente Lula não ganhar no 1º turno, em 2 de outubro, manda o presidente Bolsonaro para casa em 2023, no 2º turno, em 30 de outubro. Segundo o TSE há 156,454 milhões de eleitores aptos a votar.
O desenho das nuvens que vão reger as votações no 1º turno apontava, na avaliação do dia 15 de setembro. Lula estável em 45% contra 33% de Bolsonaro, que tinha 34% no levantamento de 9 de setembro. No 2º turno, as nuvens apontavam vitória de Lula por 53% a 34%, ou seja, com pouco avanço do presidente Jair Bolsonaro, cuja rejeição subiu a 53%.
A leitura indica que, até aqui, não surtiram o efeito esperado as apostas políticas do governo de derrubar a inflação a canetadas eleitoreiras, mediante redução temporária (até 31 de dezembro) de impostos em energia elétrica, comunicações e combustíveis, que contaram com redução extra de preços pela Petrobras, acompanhando a queda das cotações do petróleo (em agosto, sem reduções de impostos, a gasolina baixou 13% nos Estados Unidos) e da distribuição (também temporária) de R$ 41,2 bilhões em dinheiro a camadas de baixa (Auxílio Brasil) e média renda (taxistas e caminhoneiros autônomos).
E a razão está na forte rejeição do eleitorado dos nove estados do Nordeste, que concentram 27,11% dos eleitores, e do Sudeste, região mais populosa do Brasil, com 42,64% dos votos, sendo mais da metade (22,16%) concentrados em São Paulo (34,667 milhões). Minas Gerais é o 2º colégio eleitoral do país, com 10,41% dos votantes (16,290 milhões), seguido pelos 8,2% dos eleitores do Rio de Janeiro (12,287 milhões). A Bahia é o 4º- colégio, com 11,291 milhões de votos (7,2% do total). E os 9,314 milhões de eleitores da capital paulista, que representam 5,95% dos votantes habilitados, superam os 5,49% dos votos do Rio Grande do Sul ou os 5,41% dos eleitores do Paraná.
Pelo último DataFolha, Lula vencia Bolsonaro por 43% a 33% em São Paulo e em Minas Gerais. No Rio, a vitória era por 44% a 36%, perfazendo 43% a 34% votos sobre Bolsonaro no Sudeste. Na média ponderada, enquanto Lula arrancava 18,33% dos votos nacionais no Sudeste, o presidente Bolsonaro conquistava 14,50%. Entretanto, no Nordeste a hegemonia de Lula sobre Bolsonaro era tanta (59% a 22%), que o efeito ponderado apontava 15,99% dos votos nacionais para Lula e apenas 5,96% para o atual presidente da República.
Na soma ponderada dos votos dos dois maiores colégios eleitorais do país (69,75%), o placar parcial (em termos nacionais) já favorecia o ex-presidente Lula por 34,32% a 20,46%. Neste sentido faz pouca diferença o fato de que a intenção de votos no presidente Jair Bolsonaro esteja folgada no Sul (42% a 34%), porque o peso de 14,42% do eleitorado do Sul é quase metade do total do Nordeste e o diferencial entre os dois candidatos é quatro vezes maior no Nordeste a favor de Lula, pernambucano de Garanhuns.
A única possibilidade de Bolsonaro virar o jogo é mudar a sua rejeição, que segue alta entre o eleitorado feminino (52,65% dos eleitores totais) e entre os que ganham até dois salários mínimos. A 3ª rodada de divulgação do DataFolha em setembro (a 1ª, em 1ª de setembro, captou a reação à distribuição das benesses em agosto e às primeiras reduções de preços atacados pelo governo) mostrou que as pressões inflacionárias em alimentos e outros bens refluiu o apoio a Bolsonaro.
Outro fato interessante se passou no Centro-Oeste, outra região onde Bolsonaro superava Lula. No eixo do agronegócio, que concentra 7,38% dos eleitores, a irritação contra as críticas de Lula às “lideranças fascistas do agronegócio (sic)”, que tinha custado forte queda na pesquisa de 9 de setembro, se dissipou, com a diferença encolhendo para dois pontos pró Bolsonaro (40% a 38%). Como no Norte, que concentra 8,03% dos votos, há um virtual empate técnico, fica difícil para Bolsonaro crescer sem avançar no Sudeste, onde o eleitorado é mais politizado e mais bem informado.
Pesos do Sudeste e Nordeste definem eleição no Datafolha

Dilemas para o Copom
O Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne 3ª e 4ª feiras para definir a trajetória da política monetária até o fim do ano. O Departamento de Estudos Econômicos do Itaú considera que a taxa Selic será mantida nos 13,75% alcançados em agosto. O mercado como um todo também espera o mesmo. O que se discute é quando a Selic começa a cair em 2023. O Itaú acredita que será apenas no 2º semestre, fechando o ano em 11%. Como a 1ª reunião é em 1º de agosto, seriam fortes cortes iniciais 3 de 0,75 ponto percentual e um de 0,50? O mercado está esperando as primeiras baixas ainda na reunião de 20 e 21 de junho.
O que preocupa no momento o mercado, em meio ao nervosismo da reta final da campanha eleitoral é como o Copom vai reagir ao processo de alta dos juros no exterior. Depois do Banco Central Europeu elevar em 0,75 ponto percentual a taxa do Euro, será a vez do Federal Reserve repetir a dose de aumento dos juros nos Estados Unidos. O movimento de arbitragem entre os juros do Brasil e do exterior ficará mais estreito e volátil, com reflexo no câmbio.
Como pano de fundo, a discrepância entre o cenário de forte crescimento temporário do PIB e a tendência de forte desaceleração em 2023, que já se manifestou nos números negativos das vendas de agosto. Enquanto a Genial Investimentos já revisou o crescimento do PIB deste ano para 2,8%, com viés de alta (que pode levar a taxa a superar os 3%), a previsão para 2023 cai para menos de 1%, com a atividade econômica mais fraca, devido aos impactos mais perceptíveis da política monetária contracionista, além do esgotamento da normalização econômica no setor de serviços com o fim das restrições.
Mas a inflação seguirá em queda (a Genial revisou de 6,8% para 6,1% o IPCA esperado para 2022) e lembra que as projeções para 2023 estão em torno de 4,6% e as de 2024, em 2,7% (já dentro da meta 3% + 1,50 p.p.). O Itaú considera que o Banco Central está sob um dilema, que depende da definição do quadro eleitoral. Em nossa visão, as autoridades devem sinalizar que a conjuntura econômica ainda prescreve manutenção da política monetária significativamente contracionista e postura vigilante, e que anteveem estabilidade da taxa Selic para a próxima reunião. Apesar da redução da inflação de itens voláteis, ressaltamos que as medidas de inflação subjacente seguem elevadas e que o ritmo de desinflação adiante será lento, o que reforça a necessidade de uma política monetária contracionista ainda por algum tempo.
O Itaú lembra que a intensidade e data de início de um eventual ciclo de cortes estarão particularmente condicionadas a sinalizações sobre o rumo das contas públicas, em especial no que diz respeito a potenciais mudanças no atual arcabouço do teto de gastos que alterem a capacidade de convergir para superávits primários recorrentes e estabilização da relação dívida/PIB. Ou seja, depende de quem comandará o país em 2023.
Serviços fortes; vendas em queda?
A LCA Consultores, que costuma acertar muito nas previsões de desempenho dos diversos setores do PIB, também estranhou, como esta coluna, o forte aumento de 1,1% na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS)em julho, enquanto o volume de vendas do varejo encolhia 0,8% no comércio restrito e de 0,7% no de produtos com vendas a crédito (automóveis, motos e autopeças e materiais de construção). A LCA também estranhou o aumento de 3,9% no IBC-Br, a prévia do PIB do IBGE feita pelo Banco Central, em julho, na comparação do julho de 2021. A Consultoria previa 2,8%.
Para agosto, a LCA tem as seguintes previsões preliminares para os dados do IBGE: i) uma produção industrial com variações de +3,5% (12 meses) -0,1% (mensal); ii) um volume vendido pelo comércio varejista ampliado com variações de -1,4% (12 meses) e -1,0% (mensal) e iii) um volume de serviços com +6,4% (12 meses) e -0,4% (mensal). O resultado seria uma queda de 0,7% no IBC-Br frente a junho e avanço de 5,3% sobre agosto de 2021. A conferir.