O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Inflação cai, Bolsonaro sobe

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Publicado em 22/08/2022 às 13:19

Alterado em 22/08/2022 às 13:19

Gilberto Menezes Côrtes JB

Há tempos perdendo para o ex-presidente Lula na preferência popular, o estado maior da campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro fez uma aposta arriscada: investiu quase todas as fichas em tentar derrubar a inflação a canetadas BIC, por concluir que a escalada dos preços era o principal fator negativo contra o governo e que favorecia Lula na opção de voto em outubro.

Por isso, tão ou mais importante para reforçar a campanha do que o núcleo político - formado pelo chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (senador licenciado do PP-PI), o filho 01, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e o presidente do PL, o notório Valdemar Costa Neto, partido ao qual Bolsonaro se filiou, foi a participação da equipe econômica, liderada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Foi de sua equipe que saíram (em maio) o novo ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, e (em junho) o novo presidente da Petrobras, Paes de Andrade.

Enquanto Guedes acertava com a ajuda do rolo compressor do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) a aprovação até pelo celular de mudanças constitucionais para considerar, em julho, “estado de emergência” a escalada dos preços dos combustíveis, iniciada em março, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, e baixar pacote de mais de R$ 100 bilhões (entre renúncias de impostos e injeção de R$ 41,2 bilhões diretamente no bolso dos eleitores), Sachsida, que era responsável pelo acompanhamento de preços, que levam à formação da inflação oficial do IPCA no Ministério da Economia, mirou diretamente em medidas para baixar o preço dos combustíveis, em especial a gasolina, que tem grande peso no IPCA.

Primeiro, Bolsonaro, do seu modo estabanado, acusou a Petrobras e os governadores de serem inimigos do país, mesmo com as pesquisas apontando as causas externas (no caso a guerra e as sanções internacionais à Rússia, que cortou parte do fornecimento de petróleo e gás à Europa) como os principais responsáveis pela alta dos combustíveis. O importante era tirar a responsabilidade de suas costas.

Ato seguinte, baixou, com ajuda do Congresso, o ICMS da energia elétrica, das comunicações e dos combustíveis, e ainda reduziu a zero o PIS/Cofins sobre a gasolina e o etanol para forçar a baixa de preços. A taxa do IPCA, que tinha subido 0,67% em junho, elevando a taxa em 12 meses para 11,89%, caiu 0,68%, na maior deflação desde 1979 e derrubou a taxa em 12 meses a 10,07%.

Para sorte de Bolsonaro, com a desaceleração da economia mundial (reflexo da alta dos juros pelos bancos centrais para derrubar a inflação), os preços do petróleo e dos combustíveis começaram a cair. Isso fez com que o mecanismo de Paridade de Preços Internacionais, implantado em 2016 na Petrobras, para que os preços domésticos acompanhem os do mercado internacional, atualizado pela taxa de câmbio, numa estratégia para alinhar os preços domésticos aos externos e facilitar a concorrência do setor privado com a Petrobras, já com vistas ao desinvestimento em parte do seu parque de refino (já iniciada com a venda da refinaria Landulpho Alves, na Bahia, ao grupo árabe Mubadala, a intenção é a venda de 50%) - antes tão demonizado por Lula e Bolsonaro - fosse acionado. As novas equipes do MME e da Petrobras não perderam tempo. Já reduziram três vezes a gasolina nas refinarias. Mais reduções estão previstas até o 1º turno, em 2 de outubro.

Nas pesquisas, Bolsonaro vai ao 2º turno

Nas pesquisas eleitorais da semana passada, os movimentos de baixa de combustíveis e da energia elétrica reforçaram as intenções de votos em Bolsonaro, bem como as liberações do Auxílio Brasil turbinado para R$ 600 e as mesadas de R$ 1 mil a caminhoneiros e taxistas, além do Vale-gás (tudo parte do pacote de benesses eleitorais que acabam em 31 de dezembro).

No novo Data Folha semanal (ouviu mais de 5,700 eleitores), Lula manteve 47% dos votos enquanto Bolsonaro avançou para 32% (três pontos a mais do que em maio). Nesta 2ª feira, foi a vez da nova pesquisa semanal do Instituto FSB para o BRG-Pactual, que ouviu 2.000 pessoas entre os dias 19 e 21 de agosto (já captando a tentativa do presidente de retirar o celular do youtuber” que o chamou de “tchutchuca do Centrão”). No voto estimulado, Lula manteve os 45% da semana passada e Bolsonaro avançou dois pontos, para 36%.

A pesquisa parece indicar uma redistribuição de votos após a definição do quadro eleitoral (renúncia de Janones, que aderiu a Lula). Ciro caiu de 8% parta 6%, Simone Tebet variou de 2% para 3% e as menções aos demais encolheram de 4% para 2%. Assim, haveria 2º turno, em 30 de outubro, pois Lula teria 45% contra a soma de 47% de Bolsonaro e os demais.

Se o quadro de desaceleração da inflação for mantido em setembro e outubro, o favorecido, sem dúvida, será Bolsonaro, pois haverá novo desembolso das benesses em setembro e outra rodada em outubro. Mas, por enquanto a mesma pesquisa FSB/BTG-Pactual aponta a vitória de Lula no 2º turno, por 52% a 39% (na semana anterior Lula tinha 53% a 38% de Bolsonaro).

Rejeição não cai, por ora

O BTG-Pactual, como todos os agentes econômicos, recorrerem a pesquisas até diárias para poderem fazer suas posições futuras nos diversos mercados de ativos. Nesta 2ª feira, os mercados internacionais estão em baixa, na expectativa da ampla reunião do Federal Reserve dos Estados Unidos com economistas (Jackson Hole).

Mas a decisão de Bolsonaro de reforçar o comando do seu governo sobre a Petrobras, ao emplacar na 6ª feira, no Conselho de Administração da companhia (na tentativa de barrar ações futuras de um governo Lula) e as declarações de Lula nesta manhã a jornalistas estrangeiros sobre a economia, com a intenção de também controlar os preços administrados (incluindo os combustíveis) e as taxas de juros, repercutiram no mercado, com a Bovespa operando em queda (chegou a caiu quase 2%, mas reduziu pela metade, com a recuperação das ações da Petrobras, que chegaram a cair mais de 4% no começo da manhã).

A pesquisa FSB/BTG procurou antecipar o potencial dos candidatos em um 2º turno. Lula manteve os 54%, enquanto Bolsonaro deslizou de 43% para 42%. Isto traduz a manutenção da rejeição de 44% dos pesquisados a Lula (ficou estável), enquanto a rejeição a Bolsonaro aumento de 54% para 55% (efeito do destempero presidencial ao ser chamado de “Tchutchuca do Centrão”).

Mercado prevê deflação em agosto

Nesta 4ª feira, 24, o IBGE vai divulgar a inflação do IPCA -15, uma prévia do IPCA cheio de agosto, que o IBGE divulgará em 9 de setembro. Na mediana das expectativas do mercado apuradas até 6ª feira pela Pesquisa Focus do Banco Central junto a 140 bancos, gestores de investimento e institutos de pesquisa e divulgadas hoje, o mercado está esperando nova deflação de 0,26% em setembro (-0,31% nas respostas dos últimos cinco dias úteis).

Para setembro, o mercado prevê alta do IPCA em 0,39%, sendo de 0,38% a mediana dos últimos dias úteis (o IBGE divulga o resultado em 11 de outubro). Em outubro (o número será conhecido em 10 de novembro, após um eventual 2º turno), o IPCA está sendo estimado em +0,53. Tudo isso faria o IPCA fechar 2022 abaixo de 7%: 6,82% na mediana da Focus, e 6,69% nos últimos 5 dias.

Até quando melhora o bolso?

As chances eleitorais de Bolsonaro, desculpem o trocadilho, dependem metade dele (ou seja, do bolso do eleitor). Após alívio nas contas de energia e combustíveis e as primeiras distribuições de dinheiro com viés eleitoral, a avaliação do governo subiu um ponto no conceito Ótimo/bom: 34% (antes 33%); mas aumentou no conceito Ruim/Péssimo: 45% (antes 44%) e caiu no Regular: 20% (antes 21%). A provação ficou estável em 38% e a desaprovação aumento de 55% para 56%.

Tudo porque a percepção geral sobre a situação atual da economia brasileira sofreu uma interrupção na sequência de melhoras: 8% mantiveram a impressão de estar o país “Vivendo um bom momento econômico”, 36% (antes 35%) disseram que o país continua “Em crise, mas começando a recuperar e 53% mantiveram a impressão de que o país segue “Em crise, com dificuldade de recuperar”.

E o X da questão é a Inflação. Embora ela venha caindo (por impacto da baixa dos combustíveis e energia) 81% disseram ter sofrido com a inflação nos últimos três (o índice era de 97% no final de junho).

E a questão é que a situação financeira parece pesar no calo do eleitorado. Segundo pesquisa da Confederação Nacional dos |Diretores Lojistas (CNDL), o país atingiu em julho o recorde absoluto de consumidores pendurados com o nome do SPC/Serasa: 63,27 milhões de brasileiros.

Para azar de Bolsonaro, a inadimplência é bem maior entre as mulheres, que representam 52,5% dos eleitores e se mostram mais refratárias ao atual presidente da República e preferem eleger Lula. No total de 63,27 milhões de inadimplentes, 50,84% são mulheres e 49,16% são homens.

Desde 2018, que Ciro Gomes colocou a questão da renegociação das dívidas das famílias, com a intermediação dos bancos oficiais, que daria desconto em nome do Tesouro Nacional, como um dos instrumentos para retirar o peso dos juros dos orçamentos familiares e abrir espaço para a retomada do consumo e do crescimento.

A força do Sol

O Brasil ultrapassou a marca histórica de 18 gigawatts (GW) de potência instalada da fonte solar fotovoltaica, somando as usinas de grande porte e os sistemas de geração própria de energia elétrica em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Isso equivale a 8,5% da matriz elétrica do país, destaca Rodrigo Sauaia, CEO da Absolar, que comemora o 3º posto na matriz elétrica brasileira, à frente das termelétricas movidas a gás natural e biomassa.

De janeiro a agosto, a energia solar cresceu 38,4%, (de 13 GW para 18W). Em 90 dias, o ritmo de crescimento foi de um GW por mês, o que valeu o 3º lugar na matriz elétrica brasileira. O segmento atraiu mais de R$ 93,7 bilhões em novos investimentos, arrecadou R$ 25,4 bilhões em impostos e gerou mais de 540,5 mil empregos desde 2012. Além de reduzir a pressão sobre os recursos hídricos, o uso do sol evitou a emissão de 26,5 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade. As grandes usinas solares já geram 5,6 GW.

E as vantagens comparativas da energia foto voltaica não param de crescer:
“As usinas solares de grande porte geram eletricidade a preços até dez vezes menores do que as termelétricas fósseis emergenciais ou a energia elétrica importada de países vizinhos, duas das principais responsáveis pelo aumento tarifário dos últimos anos sobre os consumidores”, acrescenta Sauaia.