
O OUTRO LADO DA MOEDA
Genial: PIB de 2,5% em 2022
Publicado em 17/08/2022 às 13:32
Alterado em 17/08/2022 às 13:35

Diante da enxurrada temporária de dinheiro despejada pelo governo Bolsonaro para convencer o eleitor a mudar o voto (o que a pesquisa Quaest/Genial divulgada hoje, 17 de agosto, com entrevistas de 2.000 pessoas entre os dias 11 e 14 de agosto, mostrou não estar acontecendo - Lula aumentou de 44% para 45% das intenções de votos e Bolsonaro de 32% para 33%, com estabilidade de 20% para os demais, garantindo vitória no 1º turno), está ocorrendo um efeito colateral: a maior expansão da economia, cujos efeitos serão sentidos com “uma ressaca fiscal” e baixo crescimento em 2023.
Com os bons resultados da indústria e dos serviços no 2º trimestre (a Fundação Getúlio Vargas divulgou ontem o Monitor do PIB, com previsão de avanço de 1,1% no período abril junho), o que garante carrego estatístico positivo de 0,6% para este trimestre, vários bancos, gestores de investimento e consultoria revisaram para cima as projeções do PIB deste ano. O Itaú aumentou de 2% para 2,2% a previsão do PIB; a Genial Investimentos elevou hoje de 2,1% para 2,5%; já a LCA Consultores prevê pouco acima de 2%.
Vitória de PIB ou derrota de Pirro?
É conhecida a expressão “vitória de Pirro” para classificar um ganho determinado cujas consequências são funestas. A referência histórica remete a um episódio da idade antiga no qual se defrontaram o exército do rei Pirro, de Épiro (região que integrava a Macedônia, de influência grega) com legiões romanas. Após duas vitórias em que os romanos perderam cerca de 6 mil soldados e seu exército teve 3.500 baixas, ao seu parabenizado por um dos soldados, o rei teria comentado: “Outra vitória como essa, estarei arrasado”.
Bolsonaro investiu na antecipação do 1º do INSS (pago em maio e junho), na liberação de R$ 1 mil do FGTS para quitação de dívidas e gastos correntes, reduziu impostos de produtos industrializados e investiu contra a Petrobras para tomar de assalto o seu comando (que conseguiu em 28 de junho). Isso ajudou o crescimento da economia no 2º trimestre. Mas a inflação seguia alta.
Depois de tentar tirar de si a responsabilidade dos aumentos dos combustíveis (embora a inflação siga acelerada nos alimentos e outros bens, que variaram acima de 14% em 12 meses), o presidente conseguiu baixar os preços da energia elétrica, telecomunicações e combustíveis mediante a redução do ICMS (imposto recolhido pelos estados e redistribuído aos municípios para bancar gastos com saúde, educação, limpeza urbana e segurança pública).
E aproveitou a redução dos preços internacionais do petróleo, em função da desaceleração da economia mundial (nos Estados Unidos houve até recessão no 1º semestre), para baixar os preços da gasolina e do diesel. O impacto disso foi uma deflação (inflação negativa) de 0,68% em junho, causada pelas baixas nos preços da energia e dos combustíveis.
Em benefício próprio
E com a expectativa de nova inflação negativa em agosto (os dados serão conhecidos em 9 de setembro), junto com a distribuição temporária (até 31 de dezembro, período de vigência da redução de impostos, como o ICMS) de R$ 41,2 bilhões em benesses aos eleitores (aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para 600, vales mensais de R$ 1 mil, a caminhoneiros autônomos e motoristas de táxis), Bolsonaro esperava provocar a mudança das intenções de votos na campanha no rádio e TV, a partir de 16 de agosto.
A pesquisa da Quaest/Genial mostra que a inflação continua sendo apontada como principal problema do país, seguido da crise social, onde a miséria e a fome são destacadas. A pesquisa procurou identificar se os eleitores sabiam da redução dos preços dos combustíveis e quais seriam os responsáveis pelo alívio: Bolsonaro foi apontado por 42%, a Petrobras, por 9% das respostas e os governadores por 8% (as causas externas, que eram apontadas como a principal causa da elevação dos preços na pesquisa do fim de julho) foram lembradas por 5%, que atribuíram à queda do barril de petróleo, mesmo nível da atribuição à baixa do dólar e 3% ao mercado internacional).
Mas numa pergunta seguinte, o eleitor pesquisado mostra que identifica nas medidas econômicas o objetivo claro de “Ajudar a eleição de Bolsonaro”, com 62% das respostas apontando nesta direção e apenas 33% reconhecendo que a intenção das medidas foi para “Ajudar as pessoas”.
Entre os 33% que disseram votar em Bolsonaro, 70% acreditam que é para “Ajudar as pessoas” e 25% para “Ajudar na eleição de Bolsonaro”. Já entre os 45% que manifestaram preferência por Lula, 84% identificaram as medidas como destinadas a “Ajudar a eleição de Bolsonaro” e só 10% para “Ajudar as pessoas”. Este deve ser um campo a ser explorado pelas duas campanhas.
Efeitos e consequências
Para a Genial, além da recuperação dos serviços (com a normalização acelerada das atividades de recreação e lazer, com o avanço da vacinação), alguns fatores evidenciam cenário mais positivo para a atividade econômica: a taxa de desemprego vem apresentando forte queda e a massa de rendimentos um crescimento significativo com o aumento da população ocupada.
Por isso, “apesar da política monetária contracionista, cujo impacto sobre a atividade de tornará mais evidente no último trimestre de 2022 e em 2023, a Genial considerou que “diante dos estímulos fiscais (antecipação do 13º salário, aumento do Auxílio Brasil, liberação do FGTS), além do forte consumo da poupança que foi obtido durante o auge da pandemia, é conveniente aumentar a projeção do PIB de 2022 de 2,1% para 2,5%”.
Mas a Genial observa que o bom desempenho da economia, e a desaceleração do IPCA estão associados às diversas iniciativas casuísticas que o governo tem adotado para conter preços e estimular o consumo às vésperas das eleições. As iniciativas oficiais melhoram as “expectativas econômicas e inflacionárias para este ano, mas ampliam as incertezas para o ano que vem”. Continuamos a projetar uma trajetória de desaceleração inflacionária lenta e irregular para 2023; e mantemos expectativa de esfriamento da atividade na virada do ano, porque “boa parte das medidas pré-eleitorais que foram adotadas não deverão ser renovadas no ano que vem, diante da necessidade de rearranjo das contas fiscais” e porque “essas medidas tendem a provocar distorções, sobretudo no mercado de crédito, que poderão se revelar prejudicais ao crescimento em 2023”. O novo governo (ou melhor), o contribuinte pagará a conta.
LCA prevê PIB de 0,5% em 2023
Para a LCA, que reduziu de 7,5% para 7,2%, a alta do IPCA deste ano, em função do anúncio de nova redução no preço da gasolina e ante a expectativa de que, com a descompressão do preço internacional do petróleo, reduções adicionais poderão ser anunciadas até o final do ano. E a descompressão dos preços internacionais das commodities agrícolas vão ajudar a conter a inflação no atacado agropecuário doméstico, podendo resultar em maior moderação nos preços dos alimentos no varejo.
A redução da projeção para 2022 tende a resultar em menor inércia inflacionária para o ano quem, mas a consultoria manteve em 5,7% a projeção para a alta do IPCA de 2023. A consultoria considera que a alta dos preços dos serviços anulará as tendências de baixas em bens industriais e commodities para o ano que vem, face às recentes medidas de estímulo pré-eleitoral.
A LCA admite que os indicadores recentes sugerem que a economia deverá seguir com desempenho positivo no curto prazo, e o PIB deverá registrar crescimento pouco superior a 2% em 2022. Mas a expectativa é de que a atividade doméstica também esfrie, sobretudo a partir da virada de 2022 para 2023. A LCA considera que “boa parte das medidas pré-eleitorais não deverão ser "perpetuadas", ao contrário do que sugeriu o presidente Bolsonaro nos primeiros discursos da recém-iniciada campanha eleitoral. E o aperto de condições fiscais, somada à política monetária restritiva, deverá representar um importante fator de contenção do crescimento do PIB em 2023 para 0,5%. O custo Bolsonaro continará assombrando os brasileiros em 2023, mesmo com ele fora do governo.