O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Bolsonaro perde braço direito na Caixa

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Publicado em 29/06/2022 às 12:42

Alterado em 29/06/2022 às 12:42

Gilberto Menezes Côrtes JB

O escândalo de importunação e assédio sexual de funcionárias, denunciado ao Ministério Público Federal e revelado ontem pelo site “Metrópoles” envolvendo o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, forçou o presidente Jair Bolsonaro a se privar de importante aliado na campanha eleitoral.

Para tentar apagar o incêndio (Bolsonaro garantiu que “poria a cara no fogo” pela honestidade de seu ministro da Educação, Mário Ribeiro e saiu chamuscado), e não ampliar sua rejeição junto ao eleitorado feminino (52% da população), que chegou a 61% na última pesquisa DataFolha, Bolsonaro escolheu Daniella Marques, assessora especial do ministro da Economia, Paulo Guedes, para comandar a Caixa. Guimarães iria lançar o Plano-Safra da CEF nesta 4ª feira, mas o evento ficará restrito a público interno.

Guimarães era presença assídua no lado direito de Bolsonaro nas “lives” presidenciais das 5ª feiras, em 2020, quando a CEF chegou a pagar o Auxílio Emergencial de R$ 600 a 53 milhões de brasileiros sem renda na pandemia da Covid-19, incluindo os 18 milhões do Bolsa Família. Desenvolto, para agradar o chefe, dizia tomar cartelas de cloroquina, que puxava do bolso, além de garantir que tinha várias armas em casa para lutar ao lado do presidente.

Ficou tão popular que seu nome foi cogitado para vice de Bolsonaro, quando a popularidade presidencial surfava na onda do AE. O presidente tomou um “caldo” quando o AE foi suspenso em janeiro de 2021, retornando com marolinha de R$ 250 em abril. O aumento da mesada para R$ 400 este ano, quando Bolsonaro apagou o nome do Bolsa Família e lançou o Auxílio Brasil, não retomou a popularidade. No desespero, no pacote de bondades em exame no Congresso, o governo propôs aumentar 50% o AB, para os R$ 600 do AE.

 

Empresário confiante; consumidor ressabiado

Quem está com a razão: os empresários ou os consumidores sobre o futuro da economia brasileira? De acordo com pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, o empresário da indústria mostrou na sondagem conjuntural de junho o maior índice dos últimos seis meses, superior a 100 pontos. Também estão otimistas, pelo menos para os próximos três meses, os empresários do setor de serviços, com aumento de 0,4% na confiança para 98,7 pontos, maior índice desde outubro de 2021. No comércio, que atingiu 97,6 pontos em junho, houve avanço 4,6 pontos percentuais sobre maio, maior índice desde agosto de 2021.

Leitura mais atenta de todas as sondagens mostra, salvo na indústria, cujo horizonte de confiança é razoável para os próximos três meses, mas aponta incerteza para o intervalo de seis meses (justo no período eleitoral), mais cautela do que confiança empresarial. No setor de serviços, em função dos números menos exuberantes, à medida que se completa o ciclo da reabertura plena dos negócios, os índices de avanço vêm diminuindo a cada mês.

O mesmo acontece no comércio, que teve duas boas datas de calendário para incrementar as vendas: Dia das Mães, em maio, e Dia dos Namorados, em junho. Agora, fora o Dia dos Paes, em agosto, o calendário do 2º semestre projeta incertezas para o fim do ano. E aí entra o sentimento mais importante.

O consumidor ganhou mais confiança com a melhora do mercado de trabalho e as benesses aprovadas pelo governo (13º antecipado para os aposentados em maio e junho e liberação de até R$ 1 mil no FGTS pela Caixa Econômica Federal para quitação de dívidas e gastos correntes, além de gratuidade para pessoas acima de 65 anos no transporte urbano), mas a pressão da inflação traz incertezas. Há preocupação com as finanças pessoais. Entre os empresários, teme-se recessão e consequências da guerra na Ucrânia.

 

LCA vê PIB de 1,6% este ano e de 0,8% em 2023

A visão dos empresários e dos consumidores não contempla o horizonte distante, para além de dezembro de 2022. Como o Banco Central opera com a política monetária (elevação de juros e aperto nos recursos do sistema bancário) visando período de seis a nove meses adiante, bancos e consultorias fazem projeções mais longas, para que os empresários balizem seus negócios.

Ninguém deve investir ou reforçar estoques se o 2º semestre for recessivo em ambiente de juros mais elevados (como esperam o Itaú e muitos bancos e consultorias). O efeito dos novos pacotes de bondades do governo, com o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e inclusão de mais 2,5 milhões de pessoas que estão na fila, além do auxílio caminhoneiro de R$ 1 mil e a periodicidade mensal para o vale gás de R$ 53, pode animar a economia neste 2º semestre, mas compensará a falta do 13º dos aposentados?

A LCA Consultores divulgou sua atualização de cenário global e doméstico para 2022 e 2023. A “atividade e a inflação nas principais economias irão desacelerar ao longo da 2ª metade do ano, dispensando um aperto draconiano de condições monetárias – o que limitaria o risco de uma recessão global. Mas (...) ainda está presente o risco de que, mesmo diante do esfriamento da economia, o quadro inflacionário francamente incômodo se prolongue ainda mais”. A LCA não afasta a probabilidade (nada desprezível) de recessão global.

Lembra a consultoria que “essa evolução do quadro global nas últimas semanas, marcada por aumento da aversão ao risco e correção nos preços de commodities, tem renovado pressões sobre as moedas emergentes, incluindo o real – que também vem sendo pressionado pelo aumento da percepção de risco fiscal no ambiente doméstico”. Adverte que “os estímulos recentes à atividade perderão fôlego na 2ª metade do ano. Junto aos efeitos restritivos da política monetária, isso tenderá a esfriar a atividade econômica – e a inflação”.

 

IPCA acima da meta puxa Selic

Para a LCA, “a inflação deverá apresentar desaceleração significativa nos próximos meses. Mas isso ocorrerá principalmente em função da abrupta redução da tributação sobre combustíveis, energia elétrica e comunicação.

O comportamento recente das medidas de tendência inflacionária – que também estão dando sinais de desaceleração, porém ainda muito incipientes e irregulares – sugere que a inflação continuará a correr acima das metas ainda por um bom tempo, exigindo políticas restritivas que limitarão o desempenho da economia. A consultoria prevê IPCA de 8% este ano (com os impactos das reduções de impostos sobre combustíveis e energia) e de 4,8% para 2023.

A piora das expectativas fiscais, que pressiona também as taxas de juros para prazos mais longos, está associada às diversas medidas de estímulo que vêm sendo adotadas pelo governo às vésperas das eleições. Essas medidas, admite a LCA, podem fazer com que sejam revistas para cima as projeções de crescimento de 1,6% para o PIB deste ano (para 2023, a consultoria prevê metade disso, ou +0,8%).

Mas empurrariam “para cima também a nossa curva projetada para a taxa básica Selic” (13,75%, com alta de 0,50 p.p. na reunião do Copom em 3 de agosto), uma vez que “o Copom vem demonstrando preocupação com a adoção recorrente de “políticas fiscais que impliquem sustentação da demanda agregada”, frisa a LCA Consultores.

 

Emprego aperta no 2º semestre

Segundo dados do Caged, o mês de maio registrou a criação líquida (admissões acima de demissões) de 277,0 mil postos formais, resultado acima da projeção do mercado (175 mil a 182 mil). Considerando dados com ajuste sazonal (284,7 mil postos nos cálculos da LCA Consultores, que esperava 210 mil vagas), houve forte aumento de postos formais sobre os 117,6 mil de abril.

A LCA espera a criação de 225 mil vagas em junho (ou 205,5 mil, com ajuste sazonal). A metodologia do Novo Caged, observa a consultoria, gera saldos superiores aos da antiga metodologia porque inclui trabalhadores intermitentes e parciais, e não consegue captar muito bem os desligamentos. Isso explicaria os sucessivos erros nas reavaliações mensais: em 2021 isso ocorreu várias vezes e este ano se repetiu em março.

De janeiro a maio, segundo o Caged, foram criadas 1.055 mil vagas líquidas. A LCA espera um quadro mais apertado no emprego no 2º semestre, reflexo da desaceleração da economia. O ano de 2022 fecharia com a criação de 1,5 milhão de vagas. Ou seja, menos de 300 mil vagas de julho a dezembro.

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