O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

É a economia, estúpido!

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Publicado em 16/03/2022 às 13:00

Alterado em 17/03/2022 às 18:15

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Essa frase, traduzida literalmente do inglês (aqui eu substituiria por “idiota”, como o adjetivo mais adequado à época e aos dias atuais), foi usada pelo assessor político de Bill Clinton, James Carville, para explicar ao atônito presidente George Bush, que no começo de 1992 fora celebrado como herói pela esmagadora vitória das forças aliadas contra Saddam Hussein, ditador do Iraque que havia invadido o Kuwait, ameaçando o mercado do petróleo. Mesmo assim, foi derrotado, em novembro daquele ano, pelo democrata de Arkhansas, pondo fim ao domínio republicano que vinha desde 1968. E o pano de fundo foi que a economia americana estava em recessão (com aumento do desemprego) e em 1988, Bush pai aumentara impostos, quebrando uma promessa de campanha que abalara até o apoio de republicanos.

Aqui, o presidente Jair Bolsonoro está atônito e patinando nas pesquisas eleitorais, com seus veículos de campanha - movidos a gasolina e/ou óleo diesel - atolados com os recentes aumentos de 18% e 24,9% nas refinarias da Petrobras. O efeito disso é que na pesquisa Quaest/Genial Investimentos, divulgada nesta 4ª feira, na qual foram, ouvidas duas mil pessoas em 120 municípios, diante da virtual queda dos problemas da pandemia da Covid-19, em decorrência do avanço da vacinação, apontou a economia como o principal problema do país (51%), contra 12% de problemas na saúde/pandemia. Em novembro do ano passado, quando a Covid-19 estava fazendo menos mortes, 48% já apontavam a economia como principal problema do país e a saúde/pandemia tinha índice de 17%.

Em janeiro e fevereiro, com os casos se multiplicando após as confraternizações de Natal e Ano Novo, voltou a crescer a preocupação com a Covid-19, respectivamente, 28% e 27%, mas a economia estava continuava no centro das preocupações, com taxas de 37% e 35% das preocupações. Já o tema corrupção, uma das bandeiras de Jair Bolsonaro na sua eleição de 2018, foi mencionada por apenas 9% em novembro. chegou a 11% em fevereiro e voltou a cair para 10% em março.

O resultado da percepção da má gestão na economia é que a desaprovação do governo Bolsonaro, que chegou a estar negativa em 56% em novembro, e vinha melhorando com a retomada do Auxílio Emergencial, travestido em Auxílio Brasil, incorporando o Bolsa Família, com R$ 400 mensais, mesmo saindo da predominância negativa, com 49%, contra 24% que acham positivo (eram apenas 19% em novembro) e 25% que o acham regular. Mas isso não melhorou seus índices eleitorais.

 

Indecisos são maioria, com 48%

A mídia pouco enfatiza isso, mas a pesquisa Quaest/Genial destaca que na pesquisa espontânea (sem que se apresentem nomes aos entrevistados, 48% se dizem indecisos quanto ao candidato a presidente que vão votar em outubro. Lula tem 27% das menções, Bolsonaro19%, Outros levam 3% dos botos e brancos, nulos e não sabem ficaram com 3% das respostas.

Já numa pesquisa genérica, em que o entrevistado é perguntado: “Nas eleições de 2022, quem você prefere que vença? Lula recebeu 44% das menções, Bolsonaro 26%, quase empatando com “Nem Lula nem Bolsonaro”, com 25%, enquanto os indecisos eram 5%.

 

O fator Eduardo Leite

A pesquisa já procurou medir o impacto da eventual entrada do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB, que está de mudança para o PSD, de Gilberto Kassab) na disputa. Na cartela sem o nome de Leite, Lula recebeu 44% de preferência no 1º turno, contra 26% de Bolsonaro. Sérgio Moro e Ciro Gomes empataram em 7%. João Dória (PSDB) e André Janones tinham 2% e Simone Tebet 1%. Indecisos eram 5% e brancos, nulos e abstenção eram 6%.

Na cartela com Leite na disputa este recebe 1% das menções, mas Lula sobe para 45%, Bolsonaro cai para 25%, Moro também cai para 6%. Ciro Gomes mantém os 7%. Brancos, nulos e abstenção são 6% e indecisos caem a 4%.nul

Já na cartela sem Moro, Simone Tebet, João Dória e André Janones fora da disputa, Eduardo Leite recebe 3% dos votos, mas Lula cresce para 48% e Bolsonaro para 28%, enquanto Ciro Gomes iria a 8%. Nesse cenário, Lula poderia ganhar no 1º turno, pois os indecisos eram 4% e brancos, nulos e abstenção seriam de 8%.

Lula tem 48% dos votos do eleitorado feminino, enquanto Bolsonaro tem 20%. Já entre o eleitorado masculino, Lula tem 41% dos votos contra 31% de Bolsonaro. Entretanto, as mulheres representam mais de 52% da população e do eleitorado, sendo assim, é compreensível que as pautas machistas de Bolsonaro venham afetando sua popularidade entre as eleitoras. Talvez, por isso, em guinada de 180 graus em relação ao veto no fim do ano, o presidente mandou aprovar agora, a toque de caixa na Câmara dos Deputados, comandada pelo aliado Arthur Lira, a distribuição de absorventes para menores nas escolas, mulheres carentes e presidiárias. Vale tudo pelo voto.

 

A aflição com a Petrobras

Bolsonaro, que nos últimos dois anos não deu muita bola para a desvalorização do real - que impulsionou excessivamente as exportações e afetou o abastecimento interno de alimentos, que ainda ficaram fora do alcance da renda dos brasileiros, além de impactos sobre os combustíveis, quando o petróleo voltou a subir, em dezembro de 2020, quando começou a vacinação da Covid-19 na Inglaterra e Estados Unidos, está aflito mesmo é com o sobe e desce das cotações internacionais do petróleo, que afetam sua campanha à reeleição.

Inconformado com os últimos reajustes da Petrobras, tão logo as cotações do petróleo do tipo Brent deram pequena queda no mercado futuro, no contrato para entrega em maio, que tinha caído abaixo dos US$ 100 por barril, pediu imediata redução de preços pela Petrobras. Mas acontece que a falta de progresso nas negociações entre Rússia e Ucrânia e os problemas das novas cepas da Covid-19 na China voltaram a elevar as cotações acima de US$ 100.

Não é tão simples como ele pensa ajustar os preços internos, enquanto o governo estiver atrelado à ideia da paridade de preços internacionais. Se a Petrobras produz mais de 90% do petróleo que consome a custos abaixo de US$ 20 por barril (o país exporta mais de 600 mil barris diários de óleo pesado e importa um terço disso, de óleo mais leve, para atender às refinarias) e só importa menos de 10% de diesel e GLP, tem lógica seguirmos os preços dos Hemisfério Norte que está no inverno, quando aqui é verão (a guerra só veio complicar o cenário)?

É essa a questão que tem de ser discutida. Dar prioridade ao mercado interno na dicotomia entre exportações X abastecimento doméstico no caso dos alimentos e no caso dos combustíveis ou deixar-se levar pela máxima do “laissez-faire, laissez-aller, laissez-passer” do “deus mercado”, venerado por Paulo Guedes&cia. A população está respondendo nas pesquisas.

 

A economia rateia em janeiro

Dezembro, quando as montadoras concentraram a produção, que cresceu 19% sobre novembro, porque vários modelos estariam proibidos de fabricação a partir de 1º de janeiro, enganou muita gente. Projeções já foram feitas de retomada da economia. Janeiro mostrou a realidade: a indústria encolheu 2,4% e o setor de serviços (restrito) medido pelo IBGE, encolheu 0,1%, interrompendo cinco meses de pequenos avanços. No meio do caminho veio o sinal contraditório da alta de 0,8% nas vendas do comércio (muito devido ao rodizio de estoques - liquidação em massa do que encalharam no fim do ano).

A dura realidade é de que o ano eleitoral de 2022, que já não seria fácil na economia, está ainda mais complicado.

A batata quente está na mão do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que vai apontar a trajetória das taxas de juros este ano. As apostas são de aumento de 10,75% para 11,75% ao ano na taxa Selic. O trabalho do Copom deve ser facilitado pela decisão do Fed, o Banco Central dos Estados Unidos, sobre a trajetória dos juros da moeda que conta. Será às 15 horas, três horas antes do Copom decidir.

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