O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

IPCA supera 1% antes do reajuste da Petrobras

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Publicado em 11/03/2022 às 15:00

Alterado em 11/03/2022 às 18:23

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Desde a manhã de 5ª feira, quando a Petrobras anunciou reajustes, nas refinarias, de 24,9% no diesel, de 18,7% para a gasolina e de 16,06% para o botijão de gás de 13 kgs, os departamentos econômicos das principais instituições financeiras estão fazendo contas e projeções sobre o impacto direto e indireto dos aumentos na inflação (IPCA). Acontece que o mercado trabalhava com o consenso de que a variação do IPCA em fevereiro seria de 0,90% a 0,95% - deu 1,01%, com forte alta dos Alimentos e Bebidas, que acumulam 2,41% de elevação nos dois primeiros meses do ano (só em 2016 houve alta maior em alimentos no primeiro bimestre, de 3,36%).

Todos estão refazendo os cálculos já com base no novo piso da inflação em 12 meses, que subiu de 10,38% em janeiro para 10,54%. A inflação maior - a maioria das instituições elevou suas previsões da casa acima dos 5% para mais de 6% (caso do Bradesco, que elevou de 5,4% para 6%, ou da LCA Consultores que elevou de 6,01% para 6,50%), há quem prevê até 7,50% - pode levar o Comitê de Política Monetária do Banco Central a anunciar na 4ª feira, 16 de março, se o processo de alta da Selic, atualmente em 10,75% ao ano (que estava em desaceleração para alta para 11,75%) vai se prolongar.

Sem detalhar cálculos, o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco anunciou em a “Semana em Foco” que “os números de inflação de curto prazo no Brasil tendem a acelerar”. Ou seja, deve rever as metas. Um dos fatores que em meio à turbulência gerada pelo choque da alta dos combustíveis nos preços relativos da economia foi que, embora mantenham previsão de safra recorde de alimentos em 2022, a Conab e o IBGE anunciaram no levantamento de março uma queda de 3,8% na safra de grãos ante a estimativa de fevereiro.

Mesmo tendo elevado, dia 8 de março, antes do IPCA mais salgado e dos reajustes de combustíveis, suas projeções são agora que o teto da Selic vá a 12,75% (antes 12,25%), o Bradesco advertiu para o risco de o excesso de dosagem comprometer a economia também em 2023 (prevê alta de 0,5% no PIB em 2022 e 2023).

 

Bradesco: “Juros têm baixa eficácia”

Neste contexto, o Bradesco acredita, agora, que “o BC irá levar a Selic para 12,75% e postergar o início do corte de juros”. Mas advertiu que “o país vive um clássico choque de oferta em que a política monetária possui baixa eficácia para controlar os preços. Mas, dado o nível de inflação já elevado e significativamente acima da meta, o Banco Central deve elevar os juros um pouco mais do que imaginávamos e optar por uma convergência mais gradual da inflação, mesmo que além de 2023”.

Entretanto, sublinhou que “o PIB do próximo ano já será significativamente impactado pelo aperto monetário e há probabilidade de alguma reversão do choque de commodities nos próximos 12 a 18 meses. Por isso, entendemos que o Banco Central optará por uma postura cautelosa, neste momento, que o manterá atento à inflação, mas sem exagerar na dosagem de política monetária. Isso evitará sacrificar o crescimento mais do que o necessário caso haja reversão, ao menos parcial, do cenário global”.

 

Os impactos dos combustíveis no IPCA

O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, calcula que “o impacto direto destes aumentos de diesel e gasolina no IPCA é de 0,5962 ponto percentual”. Assim, a consultoria aumentou a expectativa do IPCA de 6,01% para 6,50% para o fim de 2022. Já há postos vendendo gasolina acima de R$ 10 o litro.

Como os aumentos começaram a ser aplicados pela Petrobras dia 11 de março, o cálculo do IPCA cheio de março (28 de fevereiro a 31 de março) terá impacto de pouco mais de 50%. A LCA estima que no IPCA -15 de março a gasolina suba 0,79%, o diesel, 1,80% e o GLP, 1,51%. O IPCA cheio de março teria alta de 4,97% da gasolina, de 8,76% do diesel e de 9,44% no GLP.
Os maiores impactos seriam em abril: o IPCA-15 de abril (apurado pelo IBGE de 14 de março a 15 de abril) teria alta de 7,62% da gasolina, de 13,16% do diesel e de 14,37% do GLP. O IPCA cheio de abril teria alta de 3,32% na gasolina, de 5,69% do diesel e de 6,09% do GLP.
Mas os efeitos indiretos, sobretudo do aumento de quase 25% no diesel, devem reverberar nos custos dos fretes, encarecendo a cadeia de escoamento das safras agrícolas (em fase final de colheita da soja) e a distribuição de alimentos e bens para o comércio e o consumidor final. Há muitas contas a serem feitas.

 

A visão de mercado X o macro

Enquanto os economistas e empresários com visão macroeconômica procuram, aflitos, mediar os impactos de aceleração inflacionária e seus efeitos na desaceleração da capacidade de consumo das famílias (com repercussões no mercado de trabalho), há uma minoria que está apenas fazendo contas e projeções sobre quanto os reajustes dos combustíveis podem ampliar o faturamento da Petrobras e, consequentemente, a distribuição de dividendos.

A Genial Investimentos publicou hoje um aviso com o seguinte título:

“Petrobras (PETR4): Vai ter dividendo sim!”

Finalmente! Apesar de todas as dúvidas, o governo aprovou o reajuste de 18,7% e 24,9% para gasolina e diesel, respectivamente. A defasagem de preços ainda existe, mas esse reajuste veio para eliminar boa parte dessa diferença.

Dividendos. Os impactos mais óbvios na empresa são no fluxo de caixa. Em nossa leitura, a distribuição de dividendos deve continuar expressiva... apesar de estarmos céticos quanto a uma eventual reprecificação no “valuation” da Petrobras, uma vez que o risco político não foi embora.

O cobertor é curto... A grande questão vai ser o tipo de reação dessa magnitude do reajuste na sociedade. Vale lembrar da grande greve dos caminhoneiros em 2018 e o cenário econômico pós pandemia ainda mais sensível.

 

Eleição pega fogo com gasolina

A revolta dos consumidores nas bombas de combustível quando percebem que um litro de gasolina está custando mais de R$ 10, ou mais do que um litro da cerveja Brahma (entre R$ 8,50 e 9,50), pode ter consequências imprevisíveis na campanha eleitoral. Sem dúvida, o impacto em sua popularidade preocupa o presidente Jair Bolsonaro, que vê suas chances de reeleição diminuídas.

Por isso, crescerá a pressão por intervenções. Podem ser organizadas, como as fórmulas aprovadas no Congresso para evitar o atrelamento automático dos preços domésticos ao mercado internacional, já que a Petrobrás produz petróleo a baixo custo no pré-sal e os preços dos combustíveis deveriam refletir isso e não ser 100% alinhados ao mercado internacional.

Ou eleitoreiras e improvisadas, como a intenção de criar subsídios para taxistas e motoristas de aplicativos (de carros e motos). A Justiça eleitoral precisa ficar atenta às fórmulas que podem afrontar regras de equilíbrio fiscal.

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