
O OUTRO LADO DA MOEDA
IPCA e Selic para cima; PIB para baixo
Publicado em 14/02/2022 às 13:03
Alterado em 14/02/2022 às 13:03

A Pesquisa Focus, encerrada pelo Banco Central na 6ª feira, 11 de fevereiro, no mesmo dia em que o BC divulgava a estimativa do PIB em dezembro - o IBC-Br, que apontou variação de 0,3% sobre novembro, com ajuste sazonal, e de 4,70%, também com ajuste, para o IPB de 2021 -, o mercado financeiro manteve-se pessimista com a escalada da inflação este ano e com a evolução mais branda, próxima a zero do PIB.
Na pesquisa Focus, a mediada das respostas de 142 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa para a inflação oficial do IPCA apontou alta para 5,50%, contra 5,44% na semana anterior, apesar da previsão de redução para os preços administrados de 5,10% para 4,99% no mesmo período, mostrando o peso maior dos alimentos e outros bens e serviços. E as projeções dos últimos cinco dias úteis aumentaram o IPCA para 5,53%, mesmo com redução dos preços administrados para 4,94%.
O resultado das pressões inflacionárias de curto prazo - que devem prolongar a inflação na casa dos dois dígitos até maio - será o incremento do aperto monetário, que deve se prolongar até junho. Em uma semana, a previsão sobre o nível da taxa Selic em 2022 saltou 0,50 ponto percentual, de 11,75% para 12,25%. A expectativa é de nova alta de 1 ponto percentual, para 11,75% em 16 de março e de dois ajustes em maio e junho (quando a taxa poderia chegar a 12,50%, com alívio em outubro ou dezembro para 12,25% ao ano. Para 2023 cairia a 8%.
Apesar do impacto do IBC-Br de dezembro indicar certo avanço em segmentos do PIB (embora deva-se descontar do resultado de 2,9% da indústria a antecipação da produção das montadoras porque a partir de 1º de janeiro deste ano alguns importantes modelos teriam de sair de linha, por não atenderem às normas ambientais), o mercado manteve estável em 0,30% a previsão de avanço do PIB para 2022 e de 1,50% em 2023. Mas a mediana das projeções dos últimos cinco dias úteis já subiu para 0,40% em 2022 e 1,60% em 2023.
Águas sobem e aliviam tarifas elétricas
A boa notícia para a queda dos preços administrados vem principalmente das novas perspectivas de redução das tarifas do setor elétrico, na razão inversa do aumento do acúmulo de água nos reservatórios das hidroelétricas, o que dispensa o acionamento das usinas termoelétricas movidas e gás ou óleo diesel/óleo combustível, de custo mais elevado.
O relatório da NOS mostra que o nível médio do sistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável por mais de metade da geração do país e 70% do consumo passou hoje dos 51,20%. No dia 10 estava em 48,9% e em 43,5% na primeira semana de fevereiro. Em outubro, estava na faixa dos 25%. As águas dos reservatórios do Sudeste e Centro Oeste, após gerar energia, vão alimentar as usinas do Rio Paraná, como Itaipu e Ilha Solteira. No Nordeste, as usinas estão com nível médio de 76,9%. No Norte é de 60,63% e no Sul, de 40,48%.
A geração hidroelétrica, de custo mais barato está na casa dos 79,6%. A energia termoelétrica, mais cara, está respondendo por 8,4% e a eólica, por 7,8%. A energia nuclear supre 2,9%, acima dos 1,3% da energia solar (os dados da ONS não captam o peso da energia gerada nas residências ou pequenos negócios no campo, no comércio e indústria).
Por que Europa se divide sobre Ucrânia
A apresentação do presidente do Banco Central, Paulo Roberto Campos Neto, semana passada, perante o “think thank” do esfera Brasil, trouxe alguma luz sobre o motivo da divisão dos países da Zona do Euro em relação às escaramuças entre Rússia e estados Unidos, diante da posição da Ucrânia de não renovar os contratos de transposição de gás russo para diversos países europeus, em especial a Alemanha, através do gasoduto que corta a Ucrânia.
É que em um dos gráficos apresentados pelo presidente do BC, o impacto médio da energia na inflação da Zona do Euro ficou em 48% no ano passado, mas em alguns países ficou acima disso. A Itália foi o país europeu que mais sentiu o impacto do custo da energia no bolso do consumidor, representando 70,8% (3,4 pontos percentuais) na inflação de 4,8% em 2021. A Espanha ficou em 2º lugar, com peso de 66%, a Holanda teve peso de 61,4%, na França (que usa muita energia nuclear) a energia pesou 58,2%.
Na Turquia que teve a maior inflação entre os países selecionados por Campos Neto, com 36,1% no ano passado, a energia pesou apenas 7% (o país governado por Recep Erdogan, subsidiou os preços dos combustíveis, mas os custos dos alimentos&bebidas subiram 10%. Maior produtor mundial de gás e petróleo, a Rússia subsidiou os preços dos combustíveis, mas teve de pagar um alto preço pela compra de alimentos. Também na Colômbia, Peru e Índia o preço dos alimentos teve grande impacto na inflação.
A conversa que Erdogan puxou com Bolsonaro sobre a Petrobras na última reunião do G-20, tinha um pouco a ver com isso, mas o presidente brasileiro, para perplexidade do colega turco, que manifestava inveja da estatal brasileira, disse que “a Petrobras é um problema”, quando podia ser uma solução que agora, diante de sua queda nas pesquisas eleitorais, vem tentando, mediante subsídios ao GLP e ao diesel.
Há mais de dez anos o Brasil tem quase autossuficiência em petróleo e combustíveis. Mas a estrutura de consumo força a importação de óleo diesel (o produto mais vendido no país) e GLP. Se o país fosse processar petróleo bruto e gás natural para extrair diesel e GLP, sobrariam outros combustíveis, cuja produção seria gravosa para a Petrobras, pois os preços de exportação não cobririam os custos. Daí (embora muita gente discorde) a Petrobras julga mais conveniente exportar petróleo bruto e comprar GLP e diesel.