
O OUTRO LADO DA MOEDA
Após Copom, mercado vê Selic acima de 12%
Publicado em 03/02/2022 às 13:21
Alterado em 03/02/2022 às 13:21

Após o Comitê de Política Monetária do Banco Central elevar ontem, 4ª feira, por unanimidade, a taxa Selic em 1,50 ponto percentual para 10,75% e indicar que “o cenário de referência” da reunião supõe “inflação de 5,4% em 2022 e de 3,2% em 2023” e “trajetória de juros que se eleva para 12% no primeiro semestre de 2022, termina o ano em 11,75% e reduz-se para 8,00% a.a. em 2023”,o mercado financeiro passou a revisar suas projeções. Pela indicação do Copom, haveria alta de 1 p.p. em março e mínima de 0,25 p.p. em maio.
O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco, que era dos mais otimistas sobre a trajetória da Selic em 2022, quando fecharia o ano em 10,25%, passou a adotar novo cenário: “Com dados melhores, é provável que o ponto terminal fique em 12,0%. Com dados menos favoráveis [da inflação], o ciclo de alta pode se estender um pouco mais. Nossa expectativa é de que a Selic chegará a 12,25% no pico do ciclo e 11,75% ao final deste ano”, diz.
Essa previsão já fora antecipada antes da reunião do Copom pelo Santander. Além da alta da Selic para 10,75%, admitia que o Copom iria “sinalizar um ajuste adicional de 1,00-1,50 p.p. como cenários plausíveis para a reunião subsequente (15 a 16 de março)”. Para o ano, o Santander, que espera inflação de 6% para o IPCA de 2022, a Selic deveria fechar dezembro em 12,25%, o que implica uma postura de política monetária bastante restritiva.
Itaú e LCA esperam Selic em 11,75%
A economista Thais Zara, da LCA Consultores, considera que o Copom fará apenas mais um aumento de 1 ponto percentual na reunião de março, com a taxa Selic encerrando o ano em 11,75%. No boletim diário desta 5ª feira, a LCA pondera que [dada a defasagem da política monetária em relação aos reflexos na economia real] a reunião de março é a última cujos efeitos defasados vão se manifestar ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2022 mas, em maior grau, 2023. Ou seja, decisões em maio só impactam o próximo ano.
Já o Itaú - que é dos mais pessimistas quanto ao desempenho do Produto Interno Bruto em 2022 (o banco ainda não alterou a expectativa de queda de 0,5% no PIB, mesmo após se declarar surpreso com a alta de 2,9% na indústria em dezembro, que o levou a mudar a previsão de queda de 0,2% no PIB do 4º trimestre para estável 0%) -, ao analisar o sumário do Copom, meio que pediu mesa. Ou seja, prefere aguardar a íntegra da Ata do Copom no próximo dia 8 para entender “mais sobre o racional do Copom”.
Por ora, considera que “o comitê indicou que, neste momento, as autoridades antecipam um ritmo mais lento de aperto à frente. Uma vez que também menciona próximos passos para esta estratégia, ainda esperamos um aumento de 1,0 p.p. na próxima reunião do comitê, em março, mas não podemos descartar um movimento final adicional, menor, na reunião de maio”.
Melhora da indústria não impacta 2022
O bom resultado da Indústria em dezembro de 2021, com alta de 2,9% sobre novembro surpreendeu o mercado (esperava alta de 1,6%) e ao Itaú, que previa expansão de +1,1%. O Bradesco destacou o bom desempenho da indústria extrativa e da indústria de transformação, com destaque para o setor automotivo. A indústria ficou estável no 4º trimestre e teve crescimento de 3,9% em 2021. Frente a dezembro de 2020 houve queda de 5%.
Para o Itaú, o resultado da indústria em dezembro pode melhorar o resultado final do PIB em 2021. O banco previa queda de 0,2% no PIB do 4º trimestre e avanço de 4,4% no ano. Com o dado do IBGE para a indústria, prevê variação nula do PIB no 4º trimestre, em vez de queda de 0,2% na projeção anterior, Isso pode elevar a taxa final do PIB para um pouco acima de 4,6%. Os números de 2021 serão divulgados pelo IBGE em 4 de março. Antes da próxima reunião do Copom, marcada para 16 de março.
Mas o Itaú entende que “a produção industrial segue em trajetória de enfraquecimento, apesar do resultado positivo de dezembro”.
PIB e inflação menores geram déficit público
O alerta é do Santander, cujo departamento econômico é chefiado pela ex-Secretária do Tesouro, Ana Paulo Vescovi. Depois de analisar os resultados fiscais do governo central de dezembro, com superávit de R$ 13,8 bilhões no mês, levando a um déficit primário de R$ 35,1 bilhões para o ano como um todo (“o melhor resultado anual desde 2014, quando o déficit foi de R$ 20,5 bilhões”), o Santander não vê com bons olhos o cenário fiscal do ano eleitoral de 2022. “Esperamos que o governo central registre um déficit de R$ 115 bilhões, com base no aumento esperado de despesas e um natural arrefecimento no crescimento das receitas”.
E um quadro fiscal ruim deixaria o Banco Central mais cauteloso com a trajetória dos juros. Ou seja, vai sobrar para o novo governo em 2023, sem falar, é claro, no consumidor/contribuinte/eleitor, que sempre paga o pato e precisa estar consciente na hora de votar.