O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

BTG é o ganhador na briga do XP x Itaú

...

Publicado em 21/01/2022 às 15:34

Alterado em 21/01/2022 às 16:36

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Na disputa de MMA travada desde 2020 pelo “Davi” XP Investimentos contra o “Golias” Itaú (o maior gestor de investimentos do país, à frente do Bradesco e do Banco do Brasil), para atrair investidores desgostosos com as altas taxas de administração e baixo retorno das aplicações nos grandes bancos, quem venceu foi o banco de investimento BTG-Pactual, segundo dados divulgados ontem, 20 de janeiro, pela Anbima.

O Itaú, que opera fundos diretamente e pela distribuidora Intrag, fechou 2021 com um total de R$ 3.130,4 bilhões captados (25,4% do mercado). O Bradesco, que opera fundos diretamente e pela BEM Distribuidora, veio em 2º com R$ 2.967 bilhões (24% do total) e a BB DTVM, parceria do Banco do Brasil com o suíço UBS, captou R$ 2.425 bilhões (19,7% do total). Repetindo o alto grau da concentração bancária nos depósitos e nos empréstimos, o oligopólio dos três maiores concentra 69,1% dos recursos administrados do mercado.

 

Quem ganhou e quem perdeu

Com grande participação dos investimentos em renda fixa dos fundos de pensão que administra (o Previ, a caixa de Previdência dos funcionários do BB é o maior investidor do país), a BB DTVM captou mais R$ 137,9 bilhões no ano passado, acompanhando a alta da taxa Selic. O Itaú Unibanco perdeu R$ 20,9 bilhões, mas a Intrag ganhou R$ 34,9 bilhões, com saldo líquido de R$ 14 bilhões para o Itaú. O Bradesco perdeu R$ 116 bilhões diretamente, mas a BEM avançou R$ 12,7 bilhões, com modesto saldo de R$ 1,1 bilhão.

O 4º posto era do Santander, com R$ 719,3 bilhões (5,8% do total). Mas a filial brasileira do espanhol Santander perdeu R$ 5,9 bilhões, um pouco mais que os R$ 5,5 bilhões do Safra (9º colocado), outro que entrou na disputa com os grandes e se deu mal. A BNY Mellon DTVM, que administra fundos de pensão, foi outra grande perdedora de recursos (R$ 12,3 bilhões) em 2021, superada pelo R$ 13,6 bilhões do Banco Modal (33º gestor em volume), o que talvez explique a venda para o XP Investimentos esta semana.

O XP Investimento era o 22º colocado em volume captado, com ganho de R$ 20,9 bilhões, em 2021, tinha carteira de R$ 34,3 bilhões. Com os R$ 128 bilhões do Modal, somaria R$ 27,2 bilhões, subindo para o 19º lugar entre os gestores de recursos, atrás do Banco Genial (R$ 52 bilhões) e à frente do Brookfield (R$ 44,8 bilhões) e do Votorantim Asset (R$ 44,7 bilhões).

 

BTG-Pactual e CEF saem na frente

Com o grande aumento do volume de clientes, a partir da gestão do Auxílio Emergencial, criado em abril de 2020, a Caixa Econômica Federal captou mais R$ 49,6 bilhões para seus fundos de investimento, fechando o ano com R$ 681,4 bilhões (5,5% do mercado). Ficou atrás do BNY Mellon, que manteve o 5º posto, com R$ 681,4 bilhões, apesar da perda de R$ 12,3 bilhões no ano. Outro grande vencedor foi a distribuidora paulista BRL DTVM, com saldo positivo de R$ 17 bilhões. O francês BNP Paribas ganhou R$ 15,5 bilhões. A Oliveira Trust DTVM avançou R$ 11,7 bilhões e a MAF DTVM ganhou R$ 11,5 bilhões.

Mas nada se compara ao ganho de R$ 107,4 bilhões do BTG-Pactual, que fechou o ano de 2021 na 7ª posição administrando um total de R$ 550,7 bilhões em recursos. Esse ganho representou quase 20% (19,50%) no ano passado, muito acima do desempenho de qualquer competidor. Pode-se dizer que, desde 2020, o BTG-Pactual está conseguindo dar a volta por cima e recuperar a fuga de clientes após a prisão do seu então presidente, André Esteves, no final de 2015. Sem que fossem provadas as suspeitas, Esteves retomou o controle do BTG-Pactual, mas não faz parte da gestão direta do banco.

 

Novo barata-voa ameaça Guedes

As ondas do tsunami geradas dentro do governo a partir do deslocamento tectônico do teto de gastos para o Orçamento Geral da União, no ano eleitoral de 2022 - cujo esgarçamento, em outubro, com a mudança no critério de indexação (de junho para dezembro, elevando os gastos em quase R$ 100 bilhões) já custou a demissão do então secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e do secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, acompanhados da secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas, e do secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araújo.

Mas o impacto da acomodação dos gastos em forte expansão, com as receitas em tendência de desaceleração, parece ter provocado nova onda no cada vez mais esvaziado Ministério da Economia de Paulo Guedes.

Em reação à pressão para que o ministério da Economia adote postura tipo aprovação do AI-5, em 13 de dezembro de 1968, quando o então ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, proclamou “às favas com os escrúpulos” e apoiou a mais dura intervenção do regime militar na vida brasileira, dois técnicos importantes da Secretaria de Orçamento Federal pediram o boné. Os subsecretários de assuntos fiscais Luiz Guilherme Pinto Henriques, e de gestão orçamentária, Márcio Luiz de Albuquerque Oliveira, pediram para sair.

Espera-se que o motivo da resistência não tenha sido a renovação do Regime de Recuperação Fiscal do Estado do Rio de Janeiro, pois isso só complicaria a vida dos fluminenses e cariocas. Guedes decidiu discutir o tema por mais duas semanas.

Tags: