O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

PIB, vale para-brisa ou retrovisor?

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Publicado em 17/01/2022 às 14:33

Alterado em 17/01/2022 às 14:33

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Sob impulso da boa recuperação nas atividades de serviços, que cresceram 2,4% em novembro, segundo o IBGE, e aumento de 0,4% no volume do varejo (a indústria caiu 0,2%), o IBC-Br do Banco Central, que procura antecipar a tendência do Produto Interno Bruto (PIB), cresceu 0,69%, em termos dessazonalizados. Mas o crescimento veio após três meses de queda (o índice de 137,13 pontos em outubro foi o menor de 2021 e o mais baixo desde os 131,24 de julho de 2020), o que não garante uma recuperação.

Até porque, como os impactos da Ômicron voltaram a afetar a circulação das pessoas e a economia ainda em dezembro, e na atividade econômica o que vale é o que se vê através do para brisa e não do retrovisor, os analistas não se animaram a mudar muito as projeções do PIB no 4ª trimestre de 2021 nem para 2022. O Santander, que esperava alta de 0,8% no IBC-Br, chegou a projetar ligeira alta do PIB no último trimestre de 2021: prevendo alta de 0,2% contra +0,1% na previsão de uma semana antes. Dezembro é que vai consolidar a tendência.

 

Desinflação é a palavra-chave

Em suas análises semanais, os departamentos de estudos econômicos do Bradesco, Itaú e Santander usaram a palavra “desinflação” como a palavra-chave, a pedra de toque da economia em 2021.

O Bradesco, considerando o resultado desses indicadores [serviços e varejo em novembro], “reforça a expectativa de crescimento, ainda que modesto, do PIB no 4º trimestre de 2021. Para a atividade econômica em 2022, é necessária a materialização de um quadro de desinflação [global e doméstica], que contribuirá para a recuperação da renda disponível das famílias”.

Já o Itaú, publicou relatório detalhando as perspectivas de desinflação para o ano de 2022 em um ambiente de juros elevados (espera que a Selic chegue a 11,75% em março e feche o ano assim). “A inflação deve recuar de 10,1% no ano passado para 5,0% em 2022, com contribuição importante da taxa Selic em território significativamente contracionista. A desinflação virá principalmente de preços administrados e itens comercializáveis. Nos preços administrados, a maior influência virá do fim dos efeitos da alta de cerca de 50% do petróleo em 2021 e da melhora no cenário hídrico, que deve levar a uma bandeira vermelha 1 sobre as contas de luz ao fim de 2022, frente à bandeira de escassez hídrica em 2021”.

 

Santander espera Selic de 12,25% este ano

O Santander não é tão otimista. Acredita que a inflação só vai cair dos 10,06% de 2021 para 6% em 2022. Por isso, analisando a carta enviada pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao presidente do Conselho Monetário Nacional e ministro da Economia, Paulo Guedes, justificando o estouro da meta da inflação em 2021 (3,75%, com tolerância de 1,50 ponto percentual, até 5,25%), lembra que ao comentar a estratégia de trazer a inflação de volta à meta, a autoridade (monetária) se refere à recalibragem da Selic: a autoridade destaca que o aumento de juros superou a elevação das expectativas de inflação e que a elevação da taxa real neste ciclo é a maior já verificada durante o regime de metas de inflação.

“O Banco Central volta a afirmar que questões fiscais resultaram em aumento dos prêmios em ativos e o risco de desancoragem das expectativas de inflação. Isso implica maior probabilidade a cenários alternativos com taxa neutra mais elevada, na visão do BCB. O BCB também aproveita para reafirmar a mensagem e os sinais recentes da política monetária”.

“A carta indica que a autoridade vai perseverar na estratégia de buscar desinflação e reancoragem de expectativas. Seguimos projetando Selic terminal de 12,25% em março de 2022 (com duas altas de 150 p.p)”. O Santander, cujo departamento econômico é chefiado pela ex-Secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, só espera cortes nos juros da Selic em 2023.

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