O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Surpresa: serviços crescem 2,4% em novembro

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Publicado em 13/01/2022 às 16:26

Alterado em 13/01/2022 às 16:26

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Com o quase retorno à normalidade em novembro, o volume de negócios do setor de serviços, segundo o IBGE, cresceu 2,4% frente a outubro (que registrara queda de 1,6%), interrompendo dois meses de taxas de negativas. A alta, de 10% sobre novembro de 2020 e de 9,5% em 12 meses, ficou bem acima das expectativas do mercado: a LCA Consultores previa queda mensal de 0,3% e alta de 6,2% sobre novembro de 2020 e o Bradesco previa alta de 10% sobre novembro de 2020 e de 9,5% no acumulado de 12 meses.

Fugindo ao calendário habitual - tradicionalmente, após as pesquisas mensais da indústria, o IBGE divulga os dados do comércio (que serão divulgados amanhã) e depois o de serviços - o IBGE parece estar seguindo o calendário eleitoral de 2022, repetindo a velha máxima extravasada pelo então ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero (numa conversa fora do ar com o apresentador Carlos Monforte, da Rede Globo, captada por antenas parabólicas) que levou à sua demissão do Ministério da Fazenda, na largada do Plano Real, em setembro de 1994, e sua substituição por Ciro Gomes): “notícia boa a gente dá na frente; o que é ruim a gente esconde”. Isso sempre foi assim nos governos.

Se os dados de dezembro - quando aumentou a circulação pelas festas de Natal e Ano Novo (estas já enfraquecidas pelo surgimento de casos da variante ômicron, que se alastraram em todo o mundo e no Brasil na virada do ano) -confirmarem crescimento, os números do PIB de 2021 podem ter sido “enfeitados no Natal”. Mas não duraram até o desarme dos presépios, no Dia de Reis (6 de janeiro). Não alteram o quadro geral, mas servem para dourar a pílula das estatísticas, a serem exploradas pelo candidato Bolsonaro.

Ainda há muito o que recuperar no setor de serviços, a começar pelos serviços prestados às famílias (de maior peso, ao lado dos serviços públicos - educação, saúde, coleta de lixo e segurança e Previdência Social). Em novembro, o volume de serviços às famílias cresceu 2,8% (8ª alta mensal seguida), acumulando um crescimento de 60,4%, mas ainda aquém do patamar pré-pandemia. “O segmento está operando num nível 11,8% abaixo de fevereiro de 2020”, explicou o gerente da pesquisa do IBGE, Rodrigo Lobo. Já o setor de serviços pesquisado pelo Instituto ficou 4,5% acima do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020, mas ainda está 7,3% abaixo do recorde alcançado em novembro de 2014.

“Esta recuperação do mês de novembro coloca o setor de serviços no maior patamar dos últimos seis anos, igualando-se ao nível de dezembro de 2015. Das últimas 18 informações divulgadas, na comparação mês a mês, 15 foram positivas e 3 foram negativas: março, devido a segunda onda de Covid, e setembro e outubro, por conta de aumentos de preços em telecomunicações e passagens aéreas”, destaca o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.

Com alta de 2,8%, os serviços prestados às famílias representaram o terceiro impacto positivo no mês. “Esta é a oitava taxa positiva seguida, acumulando um crescimento de 60,4%, mas ainda insuficiente para voltar ao patamar pré-pandemia. O segmento está operando num nível 11,8% abaixo de fevereiro de 2020”, explicou o pesquisador.


Macaque in the trees
. (Foto: IBGE)

 

Paulo Guedes perde a bandeira

A cada dia mais diminuído na musculatura de seu super-Ministério da Economia (esvaziado pela debandada dos assessores e coordenadores iniciais), e pela extração das secretarias de Trabalho e Previdência Social (transformadas em um ministério, para abrigar Ônyx Lorenzoni, que tinha perdido a Casa Civil para um dos líderes do Central, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o outrora todo poderoso “Posto Ipiranga”, Paulo Guedes, acaba de ter seus poderes esvaziado por nova canetada BIC do presidente Jair Bolsonaro.

Para agilizar as liberações de recursos que agradam os partidos aliados no Congresso e facilitam a cooptação de apoios políticos nos redutos eleitorais dos estados, Jair Bolsonaro encontrou uma fórmula de “bypassar” os vetos de Paulo Guedes à gastança sem previsões orçamentárias. A demora nas liberações (brecadas pela pasta de Guedes) gerou uma onda de protestos dos aliados contra a ministra Flávia Arruda, da Secretaria de Governo.

Pois o decreto publicado no Diário Oficial de 5ª feira, acrescentou um trecho determinando que a prática desses atos [de liberação de recursos] "está condicionada à manifestação prévia favorável do Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República.

Ou seja, o poder de Ciro Nogueira cresceu na Esplanada dos Ministérios. Já Paulo Guedes, que sempre quis privatizar a Petrobras e tanto se empenhou pela privatização da BR Distribuidora, ficou como aqueles postos à beira de estrada, que perdem a bandeira, após serem autuados pela ANP por fraudes em combustíveis ou outra irregularidade: sem bandeira alguma.

 

Tony Volpon critica o Banco Central

Ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (abril de 2015 a junho de 2016, quando deixou o BC após a ida de Ilan Goldfajn para o comando da instituição no governo Temer), Tony Volpon, atual estrategista-chefe da gestora de recursos WHG, em entrevista à CNN Brasil aponta erros do Banco Central na condução da política monetária nos últimos dois ano e teme que o BC erre novamente o "timing" dos juros este ano.

“Em 2020 abaixaram muito a taxa de juros naquele momento, demoraram para subir a taxa de juros no ano passado e agora temos o risco de subir a taxa de juros demais e criar um desnecessário custo para a atividade econômica e para o mercado de trabalho”, avaliou Volpon, que projeta crescimento econômico ao redor de zero para o Brasil em 2022.

 

A diferença do BC, no Brasil e nos EUA

O vice presidente do Federal Reserve Bank, Richard Clarida, deixa amanhã a instituição. Seu mandato duraria até o fim deste mês, mas anunciou sua renúncia 2ª feira, 11 de janeiro. Deve ser substituído pelo diretor Lael Brainard, cuja indicação está sendo examinada hoje pelo Senado dos Estados Unidos.

Clarida se demitiu antes porque foi apanhado num escândalo de uso de informações privilegiadas, após exaustiva investigação do FBI e da Securities Exchange Comission (o xerife do mercado de capitais dos Estados Unidos): teria feito movimentações (não declaradas) em fevereiro de 2020 (quando o Fed já discutia medidas extraordinárias de recompra de títulos públicos para enfrentar a pandemia da Covid-19), o que se consumou em 15 de março.

Comandado por Jerome Powell, o Fed tem seis dirigentes. O órgão mais importante do Sistema da Reserva Federal dos EUA é o Federal Open Market Committee (FOMC), composto de 12 dirigentes regionais, que decide a política monetária da maior economia do mundo e serviu de inspiração à criação do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).

Antes de Clarida, dois diretores regionais do Fed também se afastaram antes do fim do mandato, no ano passado, acusados de terem feito operações em proveito próprio durante a pandemia. Robert Kaplan, que dirigia o Fed de Dallas, deixou o cargo em 8 de outubro. Já Eric Rosengren, presidente do Fed de Boston, saiu em 30 de setembro, 9 meses antes do fim do seu mandato.

 

'Pandora Pappers'

No Brasil, revelou em 2021 o “Pandora Pappers”, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mantém conta em “off-shore” nas Bahamas, aberta em 2002 com US$ 9,5 milhões. O ministro disse que se afastou da gestão (transferida à mulher e à filha) e que declarou os valores ao fim de 2018, após o presidente eleito Jair Bolsonoro, o convidar para comandar a economia. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tinha conta de menor valor.

Não se tem notícia de qualquer investigação que prove ter havido ou não qualquer movimentação suspeita desde que entraram para o governo.

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