O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Inflação começa no café (+50,24%) e no açúcar (47,83%)

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Publicado em 11/01/2022 às 18:34

Alterado em 11/01/2022 às 18:34

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Com alta de 0,73% em dezembro, acima das estimativas do mercado (0,64%), o IPCA, a inflação oficial apurada pelo IBGE, na cesta de despesas com renda até 40 salários mínimos (R$ 44 mil) fechou 2021 em 10,06% (a maior desde os 10,67% de 2015), mais do que dobrando sobre os 4,52% em 2020 e estourando o teto da meta de inflação do Banco Central, que era de 5,25% (3,35%, com tolerância para cima de 1,50 ponto percentual). A maior contribuição para a inflação de 2021 veio do item Transportes (+21,03%), puxado pelo aumento de 47,49% na gasolina. O INPC, que mede as despesas das famílias com renda até 5 SM (R$ 5,5 mil) subiu 10,16% e vai reajustar o salário mínimo e as aposentadorias do INSS.

E o ano de 2022 começa a ser visto com pessimismo pelo Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco, com impactos das chuvas sobre preços dos alimentos, com os surtos da variante Ômicron trazendo mais dificuldades nas cadeias mundiais de suprimentos na indústria, e o impacto do primeiro reajuste dos combustíveis, depois de 77 dias sem aumentos na gasolina, que subiu 47,49% em 2021 segundo o IBGE. Em 2020, a gasolina teve queda de 0,19%.

 

Combustíveis, os vilões de 2021

Se em 2020 os vilões da inflação foram o óleo de soja, que subiu 103,79%, seguido pelos 76,01% do arroz e dos 17,97% no preço da carne bovina (de peso mais elevado no item Alimentação e Bebidas, que subiu 14,09% em 2020, bem acima da inflação, de 4,52%), este ano A&B subiram bem menos (7,94%).

Os vilões de 2021 foram os combustíveis, impulsionados pela alta de 7,47% no dólar ante o real e pela escalada de preços do petróleo desde dezembro de 2020, a gasolina subiu 47,49% e foi o principal impacto na inflação. O etanol subiu 62,23%, o óleo diesel 46%, o GLP, encareceu 36,99% (o gás encanado 28,49%).

Com alta de 21,03% no ano (apenas 12,03% em 2020), os transportes responderam por 4,19 pontos percentuais na inflação do IPCA, seguido pelo impacto de 2,05% nas despesas com Habitação, que ocuparam o maior espaço nas despesas das famílias com renda até 40 salários mínimos (R$ 44 mil) medidas pelo IPCA, superando os gastos com alimentos (responsáveis por 1,68 p.p. na inflação de 2021.

Com a alta dos combustíveis, as tarifas de aplicativos subiram 33,75%) e as passagens aéreas aumentaram 17,59% pela pressão do querosene de aviação, que representa mais de 38% dos custos das passagens domésticas. Em 2020 tinha havido queda de 17,15% no preço das passagens.

Já a energia elétrica (impactada pela crise hídrica e pelo uso mais intenso da energia termoelétrica, movida a gás natural e combustíveis) aumentou 21,21%.

O preço da carne tinha caído no último trimestre pela retração do consumo interno e a suspensão das compras da China em setembro. Com a retomada dos embarques em dezembro, o preço subiu 1,38%, devolvendo a queda igual em novembro.

Com altas mais suaves na carne (8,45%) em 2021, a inflação do brasileiro começou no café da manhã, com alta de 50,24% no pó de café (50,11% de março a dezembro) e de 47,83% no açúcar refinado e se espalhou por vários produtos e setores, sob influência da alta de 49,02% nos combustíveis, liderados pelo etanol (+62,23%), que desviou a produção das usinas para o álcool em detrimento do açúcar. O leite barateou 3,72%, mas pão francês ficou 6,38% mais caro.

Com a carne fora do alcance de milhares de famílias, a alternativa para garantir proteínas foi recorrer a ovos e à carne de frango, que subiram vários meses seguidos, acumulando 23,55% no ano. Há preços que parecem ter entrado na gangorra (baixas em 2020 e escalada em 2021, como os combustíveis e reajustes dos Planos de Telefonia (3,86% para 10,55%).

Produtos e tarifas vinculados a combustíveis subiram muito. Com grande procura de emprego e forte oferta, o valor da mão de obra subiu apenas 1,41% este ano, perdendo longe para a inflação. Poucos produtos tiveram queda de preço, como o leite longa vida, o óleo de soja, e a batata-inglesa. Vejam a seguir quem subiu mais e quem aliviou o bolso do consumidor

 

A gangorra da inflação

 

Produto-Serviço / 2021 (%) / 2020 (%)

Óleo de soja +4,16 +103,79

Arroz -16,88% +76,01

Carne bovina +8,45 +17,97

Frango inteiro +19,89 +17,16

Ovo de galinha +13,34 +11,42

Leite longa vida -3,72 +26,93

Café +50,24 +6,70

Mandioca +48,08 N.D.

Açúcar refinado +47,87 N.D.

Batata inglesa -22,82 +67,27

Tomate +18,60 +52,76

Cebola +18,30 +14,49

Pão francês +6,38 +4,99

Frutas +3,37 +25,40

Gasolina +47,49 -0,19

Etanol +62,23 +1,81

Diesel +46 -3,30

GLP +36,99 +9,24

Gás encanado +28,49 -1,29.

Energia elétrica residencial +21,21 +9,14

Passagens aéreas +17,59 -17,15

Tarifas aplicativos veículos +33,75 -5,77

Planos de Telefonia +10,55 +3,86

Planos de Saúde +2,32 +2,44

Produtos farmacêuticos +6,18 -2,27

Vestuário +10,31 -1,13

Consertos e manutenção +8,0 +9,87

Mão de obra +1,41 -0,41

 

Inflação é menor para Bolsonaro

Em 2021, das 16 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, 10 deles fecharam o ano com inflação de dois dígitos, acima de 10%. A maior inflação do Brasil, medida pelo IPCA, foi registrada na região metropolitana de Curitiba (12,73%), influenciada principalmente pela alta de 51,78% na gasolina, seguido pelos 11,50% de Vitória.

O menor resultado, ocorreu na região metropolitana de Belém (8,10%), onde as maiores contribuições negativas vieram do arroz (-29,62%) e do açaí (-9,77%). Depois de Belém, as menores taxas de inflação no IPCA foram registradas no Rio de Janeiro (8,58%) e Brasília (9,34%), as duas cidades de residência habitual da família Bolsonaro. O efeito calendário de reajustes de energia elétrica e tarifas de água e esgoto ajudou.

Em São Paulo, a maior região metropolitana do país, a inflação do IPCA também ficou abaixo de dois dígitos, em 9,59%.


Bradesco adverte para riscos em 2022

Em comentário nesta 3ª feira em seu “Boletim Diário”, o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco advertiu que os “Riscos de curto prazo para inflação seguem no radar”. Para o Depec, “a piora da pandemia no mundo, por conta da variante Ômicron, traz dúvidas sobre o ritmo de regularização das cadeias produtivas”. Até o momento, não há sinais de impactos na produção industrial de matérias-primas, mas essa questão deve ser monitorada, mas o Depec alerta que “se houver interrupção no fornecimento de componentes, a desinflação de bens pode ser mais gradual.

O banco também chamou a atenção para o fato de que clima adverso aqui no Brasil das últimas semanas [que pode aliviar a crise energética em 2022 e reduzir as bandeiras tarifárias] “provocou a quebra de safra de alguns produtos em algumas regiões, o que pode limitar o alívio esperado para os preços de alimentos neste ano”.

Por ora, as expectativas de inflação do mercado mostram recuo gradualmente, conforme apontado no Relatório Focus, quando a mediana das projeções do mercado para o IPCA permaneceu apontando alta de 5,03% para 2022 e recuou de 3,41% para 3,36% para 2023. Esse ambiente ainda sugere cautela para a inflação futura. A evolução dessas projeções será importante para o Banco Central definir os próximos passos da política monetária.

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