O OUTRO LADO DA MOEDA
PIB do BC desmente crescimento de Paulo Guedes
Publicado em 16/11/2021 às 17:18
Alterado em 16/11/2021 às 17:21
Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB
O conto de mil e uma noites que o ministro da Economia, Paulo Guedes, narrou a investidores em Dubai, revelando que a economia brasileira foi das que “menos caíram em 2020 e está bombando em 2021”, foi desmentido em menos de 48 horas pelo IBC-Br. O indicador dessazonalizado do Produto Interno Bruto do Banco Central ficou em 138m56 pontos em setembro, com queda de 0,27% frente a agosto. No 3º trimestre acumulou retração de 0,14%. Desde o pico de 141,23 pontos registrado em fevereiro, o IBC-Br acumulou retração de 1,9%. O IBGE divulga o PIB trimestral em 2 de dezembro.
O número negativo não chegou a surpreender os analistas do mercado e os departamentos econômicos dos bancos e consultorias. Na mediana, o mercado esperava estabilidade ou crescimento de 0,1%. O Itaú e a LCA Consultores acertaram a queda de 0,3%. O Depec Bradesco era mais pessimista e previu retração de 0,7%. De qualquer forma, o dado vai levar à revisão do PIB do 3º trimestre. O Santander previa variação positiva de 0,2%, confiando na reação dos serviços. Assim como o Itaú. Agora, ambos revisam para baixo a visão do 3º trimestre com viés de baixa para o PIB de 2021 (4,9% para o Santander e 4,8% para o Itaú). Para 2021, o Itaú prevê queda de 0,5% e o Santander (que espera estagnação em 2023) previa avanço de apenas 1% (com viés de baixa).
Por falar em desaceleração, a economia chinesa deu mais uma mostra de enfraquecimento em outubro, apesar dos dados positivos, diante dos problemas do setor imobiliário. A produção industrial, favorecida pela liberação da produção de carvão, pela melhora do setor imobiliário e pelas exportações ainda aquecidas, mostrou crescimento interanual de 3,5% em outubro, ante alta de 3,1% em setembro e acima das expectativas (3,0%).
As vendas do varejo avançaram 4,9% em outubro, após 4,4% em setembro, acima dos 3,7% previstos pelo mercado. Os investimentos em ativos fixos, por sua vez, cresceram 6,1% no acumulado do ano, baixo da expansão de 7,3% registrada até setembro, refletindo a forte desaceleração do setor imobiliário e infraestrutura. Analistas consideram que após meses seguidos em desaceleração, a economia chinesa parece ter se estabilizado em ritmo fraco. Não se espera recuperação de tração na demanda externa e na construção, cuja contribuição à economia continuará negativa nos meses à frente.
Em Dubai, Campos tem revelação sobre a economia
A viagem da grande comitiva brasileira que acompanhou o presidente Jair Bolsonaro a Dubai e ao Oriente Médio, já produziu uma revelação: o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu nesta 3ª feira (manhã cedo no Brasil) que a inflação acelerou e teve piora quantitativa e qualitativa em todos os aspectos e, por isso, destacou que o trabalho do BC é difícil. “É importante ser realista e entender o quão disseminada está a inflação e será difícil trabalho do BC”, disse, admitindo também que as expectativas de inflação estão subindo e de crescimento, caindo (como mostrou o tombo de 0,14% no IBC-Br do 3º trimestre).
O presidente do Banco Central destacou ainda que o choque do preço de eletricidade e combustíveis este ano é o maior dos últimos 20 anos, e vem em seguida ao choque de alimentos do ano passado. O presidente do BC também voltou a citar que o aumento de commodities foi ampliado pela desvalorização da moeda brasileira, um desenvolvimento atípico, uma vez que o real costuma reagir positivamente ao avanço dos preços de commodities.
Impressionante é que o tom de realismo ainda não contagiou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que segue vendendo miragens no deserto árabe.
Os sinais da China
Para o Brasil, que depende muito da demanda de importações da China, é preciso ficar atento aos sinais. Mesmo que o crescimento se estabilize em patamares mais baixos, o importante é confirmar se os volumes importados pela China em alimentos (soja, açúcar, milho e carnes, bovina, suína e de frango), além de commodities minerais (minério de ferro, cobre, alumínio e petróleo) agrícolas continuarão firmes a ponto de manter os preços em alta.
No momento, a China colocou estrategicamente em “quarentena” as importações de carnes bovinas do Brasil, diante da ocorrência de casos da doença da “vaca louca”. Mas é inegável que haja alguma relação com a contrariedade chinesa das restrições impostas pelo Brasil à presença da Huawei e outras gigantes das comunicações do país, no mercado de 5G no Brasil. Neste jogo de pôquer, a paciência chinesa espera o Brasil piscar primeiro.
Preços cedem no atacado
A FGV divulgou hoje a inflação do IGP-10 em novembro, que aumentou 1,19%, abaixo dos 1,50% previstos pelo Depec Bradesco e bem aquém dos 1,64% da mediana das expectativas de mercado. Em 12 meses, o IGP-10 recuou para 19,78%, contra 22,53% em outubro. O IPA-10 (índice de preços no atacado) registrou alta de 1,31% no mês (23,06% 2m 12 meses, enquanto o IPC-10 (índice de preços ao consumidor) aumentou 0,79% (+ 9,84% em 12 meses). Além disso, o índice de preços de construção INCC-10 avançou 0,95% no comparativo anual (+ 14,86% no comparativo anual).
No atacado, as pressões mais fortes vieram dos combustíveis, que contaminam os transportes. O minério de ferro, após registrar queda de 19,46% em outubro, subiu 1,13% nos primeiros 10 dias de novembro. O destaque entre os alimentos foi que a carne bovina, após cair 4,11% em outubro acelerou a baixa para 8,46% em novembro.
Níveis de água em recuperação
De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível agregado dos reservatórios de água estava em 25,55% em 14 de novembro, em comparação com 25,50% na semana anterior e um pouco abaixo da média dos últimos cinco anos de 26,08% na 1ª quinzena de novembro. O nível da barragem Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO), que responde por 70% da capacidade máxima instalada do país, atingiu 18,94% em 14 de novembro, ante 18,66% na semana anterior.
O nível do reservatório do Sul foi de 54,83% (53,04% na semana anterior). Na região Norte baixou a 39,78% de 43,39% na semana anterior. No Nordeste, o nível permaneceu praticamente inalterado em 36,00% (de 36,44%). Vale lembrar que em 2001, o último ano de racionamento generalizado de energia (quando as fontes de energia térmica não estavam tão disponíveis como estão agora), os níveis variaram de 20,6% a 34. Ou seja, usamos mal e tardiamente as termoelétricas e não conseguimos poupar água. Mas São Pedro salvou as lavouras e parece estar recompondo lentamente os níveis.
BB devia ouvir o Papa e ser mais transparente
A fala do Papa Francisco agradecendo à imprensa pela transparência das informações que levaram a própria Igreja Católica a aprofundar as investigações sobre os padres pedófilos e puni-los, para depurar o corpo da instituição, deveria ser a bíblia dos governantes – é inadmissível a existência de um “Orçamento Secreto” negociado nas sombras entre o governo (Executivo) e deputados e senadores, como meio de troca no apoio destes parlamentares a emendas e projetos de interesse do governo.
Mas a regra deveria ser seguida também pelas estatais. Vejam o caso do Banco do Brasil. Seus balanços, antes tão transparentes e informativos sobre os volumes de créditos setoriais e a respectiva inadimplência, mudou do vinho para o vinagre na gestão de Fausto de Andrade Ribeiro, que tomou posse no fim de março, após a renúncia de André Brandão.
O BB não explica como está a inadimplência no agronegócio e muito menos distingue os diferentes graus de atrasos acima de 90 dias nas operações de pessoas jurídicas conforme o porte (os demais bancos fazem a distinção entre grandes empresas e pequenas, médias e micro empresas). Há duas semanas, varejei, sem sucesso, todos os informes do BB. Espera-se a correção quando sair o balanço do 4º trimestre (e de todo o ano de 2021), em 2022.
Reforma tributária às cegas
O Valor Econômico de hoje traz uma interessante entrevista do secretário especial adjunto da Receita Federal, Marcelo de Sousa, que explica o levantamento que a Receita está fazendo para medir a correção entre os valores de produção e serviços dos diversos setores do PIB e os respectivos impostos recolhidos.
O ensaio foi feito no PIS/Cofins, que tem alíquota padrão de 9,25% sobre o valor agregado da produção das empresas brasileiras. Entretanto, como o PIS/Cofins é cobrado de duas formas: cumulativa (sobre o faturamento das empresas) e não cumulativa (em cada etapa de produção, em sistema de créditos e débitos do tributo), surgem distorções.
No refino dos recolhimentos, a RFB pretende identificar a sonegação e os desvios em relação à média. Segundo Marcelo de Souza, a Receita pretende estender a clivagem a mais impostos. Os números da sonegação são gritantes.
Tudo perfeito. Só não dá para entender como isso não foi feito previamente para orientar a Reforma Tributária. Com esses elementos seria possível calibrar melhor a redistribuição da carga tributária, entre consumidores (impostos indiretos que representam mais de 70% dos impostos do país), sobre a renda (o IR pesa mais nos assalariados) e sobre a riqueza e o patrimônio.