O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Efeito MM: seguradoras sobem prêmios de riscos com volta de shows

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Publicado em 15/11/2021 às 15:00

Alterado em 15/11/2021 às 20:25

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

A trágica morte da rainha do “feminejo”, Marília Mendonça, no começo da reabertura da temporada de shows e grandes eventos, suspensos no Brasil durante a pandemia da Covid-19, reforçou nas companhias seguradoras mais cautela e a re-precificação de riscos envolvendo as turnês e deslocamentos de artistas e celebridades. O virtual congelamento da visto para brasileiros irem ao exterior – que só deve normalizar em 2023 – está levando à reconfiguração do turismo doméstico, com viagens mais curtas com a família, de carro ou de avião. Isso também pesa na reavaliação geral.

A tragédia de Caratinga é mais um capítulo de graves acidentes aéreos e automóveis usados por artistas/celebridades para comparecer a vários eventos que se concentram de sexta a domingo. A vida de "globe-trotter" - rotina de jogadores de futebol (campeonatos exigem amplos deslocamentos pelo Brasil afora ou na Libertadores) e se intensifica quando craques viram celebridades, com presenças disputadas em troca de altos cachês em festas ou shows, ao lado de cantores, cantoras ou artistas de cinema e TV - leva as companhias de seguro a reclassificar riscos em aviões, veículos e apólices de vida.

Como a fama é curta, tão logo a agenda fica cheia e os cachês se multiplicam, após o aluguel de táxis aéreos, que permitem comparecer em duas cidades próximas, o passo seguinte é a compra de um jatinho ou avião bimotor, para tornarem mais fáceis os deslocamentos. Mas, desde março de 2020, essa máquina foi desacelerada e estruturas desfeitas. Com o avanço da vacinação, a temporada de shows entrou no radar. Mas a recomposição das estruturas de apoio exige análise mais criteriosa dos riscos envolvidos. Por isso, antes que as investigações da Cenipa (da Aeronáutica) identifiquem as causas do acidente, o crivo passou a ser mais rigoroso nas seguradoras.

 

Empresários também são vítimas

Não só artistas e celebridades correm riscos em sucessivos deslocamentos. Executivos de grandes companhias já morreram na estrada. Foi o caso, no final dos anos 80, do então presidente da Xerox do Brasil e do Crefisul, Sérgio Gregori e Sra, ou do presidente da Paranapanema, uma das estrelas da Bovespa, Octávio Lacombe, em acidente de carro em Avaré (SP), em 1992.

Maiores são os danos em acidentes de avião (com seguros mais pesados). Em 1981, o presidente e o vice do Bamerindus, os irmãos Tomaz Edison e Cláudio Enoch de Andrade Vieira morreram na queda do avião do banco em Piraí do Sul (PR). O acidente influiu na trajetória do banco paranaense, pois outro irmão, Marcos, mais novo e preparado para a sucessão, que presidia a Nossa Caixa (SP), falecera em 1980. Assim, coube a José Eduardo de Andrade Vieira, que não foi sequer diretor (era superintendente), liderar o grupo até a crise final em 1995, quando foi comprado pelo HSBC.

Outro grave acidente mudou a sucessão do Bradesco. Em 10 de novembro de 2015, há seis anos, perderam a vida o presidente da Bradesco Seguros, Marco Antônio Rossi, e o presidente da Bradesco Vida e Previdência, Lucio Flávio Condurú de Oliveira, quando o avião Citation do grupo Bradesco caiu em Catalão (GO), após decolar de Brasília rumo a São Paulo. Também vice-presidente do banco, Marco Antônio Rossi seria o sucessor natural de Luiz Carlos Trabuco, enquanto Lúcio Flávio assumiria a "holding" de seguros. Rossi foi sucedido na seguradora por Otávio Lazzari, que depois assumiu o controle do Banco Bradesco em 2018.

Outra tragédia tirou a vida do ex-presidente da Vale, Roger Agnelli em março de 2016, quando o jatinho que pilotava caiu após decolar do Campo de Marte, contínuo ao aeroporto de Congonhas. Além de Agnelli e sra, morreram a filha e o genro e mais o filho e a namorada.

 

Os riscos da agenda agitada

Antes de dar desaceleração na carreira, que se intensificou na Covid-19, Ivete Sangalo tinha avião próprio. Contratada da Globo, reduziu os riscos. A lista de vítimas da agenda cheia teve sua estreia de peso em abril de 1993, quando o avião que levava a jovem banda “Mamonas Assassinas” se chocou com o Pico do Jaraguá, em São Paulo. Morreram todos, em comoção nacional. Três anos antes, o cantor João Paulo, que fazia dupla com Daniel, morreu em acidente na estrada após um show em São Caetano do Sul (SP), a caminho de Brotas (SP). Acidentes de automóvel são mais frequentes; os de avião, mais letais.

Até Marília Mendonça, o acidente mais traumático foi o da queda do avião da Boliviana Lamia, pontos do Brasil para a cobertura da final da Copa Sul Americana. Morreram 71 pessoas, entre jogadores, dirigentes e jornalistas de todo o país que iam fazer a cobertura da partida. Houve apenas cinco sobreviventes, três deles eram jogadores. Por falta de combustível e má gestão da companhia (o piloto, também morto no acidente, era o principal acionista), o avião caiu a poucos quilômetros do aeroporto de Medelin, Colômbia, onde a Chapecoense enfrentaria o Atlético Nacional. O velório coletivo foi no Estádio de Medelin, com grande público e todos os jogadores adversários. Os dois clubes foram declarados campeões. A partir da tragédia, os clubes brasileiros passaram a ser mais rigorosos na contratação de voos "charters".

Na vida dos artistas, nem sempre isso é possível. Para aproveitar a onda do sucesso, muitos aceitam dois, três ou até quatro shows num fim de semana. A vida corrida matou na estrada o cantor sertanejo goiano, Cristiano Araújo, em 2015, com falecimento também de sua namorada. Em 2019, o cantor Gabriel Diniz morreu, aos 28 anos, em um acidente avião de pequeno porte. Entre os brasileiros de menor poder aquisitivo, os riscos são maiores, como mostrou o acidente de um ônibus que trazia moradores do interior de São Paulo para Paraty (RJ e tombou numa estrava cheia de curvas, causando seis mortes.

 

São Paulo quer decolar também no turismo

Locomotiva da economia brasileira, com 31,8% no PIB brasileiro, em 2019, segundo o IBGE, São Paulo quer ampliar seu protagonismo também no turismo de lazer. Com a forte queda do turismo de negócios na pandemia (tão cedo não se recupera, admite Toni Sando, presidente Executivo da Fundação 25 de Janeiro, ligado à São Paulo Convention & Visitors Bureau) e que congrega o “trader local, e nas viagens internacionais, que devem ser retomadas a partir de 2022, com equilíbrio em 2023, na previsão de Eduardo Sanovicz, presidente da Associação das Empresas Aéreas Brasileiras (Abear), São Paulo se prepara para explorar esse vácuo e fazer as atividades envolvidas com o lazer e o turismo representarem 10% do PIB estadual, diz Sando. Ou seja, ficaria com 3% a 3,2% do PIB nacional. Não é pouca coisa.

Os empresários dos vizinhos estados do Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás sabem que os paulistas não regateiam quando se trata de diversão e lazer. Assim, quando a locomotiva paulista aquece os motores para “rodar” dentro do próprio estado, é bom estar preparado (na capital e nos demais 644 municípios) para desfrutar as oportunidades (como empreendedor ou como turista), em lazer, atrativos culturais, aventuras e novas experiências espalhados pelo interior, no planalto ou na Serra da Mantiqueira, no litoral Norte e no ainda pouco explorado (e quase intocado) litoral Sul, bem como nas centenas de cavernas e grutas do Vale da Ribeira.

 

Um planejamento adequado

Os 46,7 milhões de paulistas (e paulistanos) garantem o maior movimento do turismo interno brasileiro. O estado recebe 46 milhões de viajantes de todo o Brasil. E são os paulistas e paulistanos que garantem o maior fluxo de pessoas (e de faturamento) no Rio de Janeiro (22% do faturamento vem dos gastos dos paulistas). Nos estados do Norte e Nordeste (Natal, Maceió, Recife e Paraíba, passam de 25% em média). São Paulo considera que o sistema de mão dupla do turismo brasileiro deve continuar, sobretudo com o avanço da vacinação contra a Covid-19 garantindo a saúde de todos.

E está preparado para receber de braços abertos o visitante em pequenos ou grandes eventos, como a Fórmula-1 2021, que levou quase 200 mil pessoas a Interlagos e movimentou a capital. Fui muito bem recebido na capital, onde conheci o imperdível e recém reformado (na construção e no conteúdo) Museu da Língua Portuguesa, com um esticada na Pinacoteca, em frente. Talvez quase tanto quanto, no Morumbi, o São Paulo recebeu o Flamengo de braços e defesa abertos. Ou terá sido a ação de Michael&cia, se preparando para enfrentar o Palmeiras em Montevidéu, que furou o esquema de Rogério Ceni?

Há muitas oportunidades surgidas pela retração de duas vertentes do turismo nacional que tinha São Paulo como o vértice principal e ficaram inviáveis na pandemia (negócios e viagens internacionais) que devem ser exploradas. As estruturas estão prontas e operando ociosas. Mas é preciso um planejamento metódico para oferecer novas opções no turismo doméstico, quando depois da pandemia a viagem padrão de lazer ficou mais curta e reúne toda a família.

 

Distritos Turísticos

O secretário executivo da Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, Guilherme Miranda, explica que a Secretaria, após ampla troca de informações com os “traders” de turismo, está aproveitando a excelente infraestrutura em estradas, ferrovias e aeroportos (além de Congonhas e Guarulhos, há aeroporto internacional de Campinas que tem capacidade de absorver mais voos alimentadores para diversas regiões do Estado) para incentivar a criação de Distritos Turísticos e atrair visitantes até do exterior.

Os primeiros distritos já foram escolhidos são Olímpia (município próximo a São José do Rio Preto e a Barretos), que já tem forte infraestrutura turística, por ser conhecida como a “capital nacional do folclore” e ter parques aquáticos, que não ficam a dever aos hoje inacessíveis de Miami e uma réplica do parque dos dinossauros. Para atrair o crescente fluxo de turismo, a Secretaria, com auxílio do Sebrae, vem capacitando os empreendedores locais.

O próximo distrito será o de Serra Azul, que compreende os municípios de Itupeva, Louveira, Jundiaí e Vinhedo. A região é conhecida pelos atrativos dos parques Hopi Hari e We’Tn Wild, além de centros de compras.

Outros próximos distritos vão englobar os da região do Vale da Ribeiro, com turismo de aventura em suas mais de 300 grutas e cavernas, com destaque para a majestosa Casa de Pedra. Com todos os cuidados com a preservação do meio ambiente, outro alvo são as praias e ilheias do litoral Sul paulista, com foco em Cananeia e Iguape.

 

Turismo aquático, a nova vertente

O governador João Dória aproveitou a realização da São Paulo Boat Shown, há duas semanas, na capital paulista, para anunciar um ambicioso programa de construção de marinas, em parceria com a iniciativa privada, para a explorar as atividades de lazer náutico tanto no vasto litoral Norte do estado, quando às margens e rios e represas no interior do estado.

As margens dos rios Paraná e Tietê (cuja navegação em escala comercial está suspensa devido à estiagem) são os alvos principais e podem atrair esportistas e turistas em busca de lazer do Paraná, MS, MT, Goiás e Brasília.

 

Peguei um ITA no Rio (ou em SP)

Em 1945, Dorival Caymmi, que veio da Bahia para o Rio, em 1938, a bordo do vapor Itapé, da Companhia Nacional de Navegação Costeira, compôs a famosa canção “Peguei um Ita no Norte (Belém) e vim pro Rio morar”. A partir de amanhã, cariocas e paulistas, que viajam de avião, podem também pegar um ITA de manhã cedo para ir a São Paulo ou vir ao Rio e voltar no mesmo dia.

É que a Itapemirim Transportes Aéreos (ITA), a caçula das companhias aéreas, em operação com passageiros, desde junho, mas com 68 anos de tradição no transporte rodoviário, apostando na retomada do turismo e do movimento na aviação, passa a decolar com seus Airbus 320 de Congonhas para o Rio e vice-versa. Com 162 assentos, os aviões, nas cores amarelo e azul escuro, partem de Congonhas às 7hs para o Aeroporto Internacional do Galeão-Tom Jobim, onde o voo 5610 chega às 8 hs. À noite, o voo 5657 sai do Rio às 20 hs e aterrissa às 21 hs em Congonhas.

A entrada da ITA no Galeão e em Congonhas, onde irá começar com 12 “slots”, segundo o gerente de novos negócios da companhia Fabiano Oliveira, vai ampliar o leque de atendimento da ITA, que já operava em 13 cidades. O Rio era ligado a São Paulo só por voos do Galeão a Guarulhos, ponto de partida para voos a Brasília, Belo Horizonte-Confins (MG), Fortaleza (CE), Maceió AL), Natal RN), Porto Alegre (RS), Porto Seguro BA), Recife (PE) e Salvador (BA). Uma das atrações da ITA é que o serviço de bordo é grátis, assim como o despacho de bagagens e a marcação de assentos.

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