O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

O OUTRO LADO DA MOEDA

Todos à espera do Copom, incluindo dólar e inflação

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Publicado em 27/10/2021 às 13:03

Alterado em 27/10/2021 às 13:03

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

As atenções dos agentes econômicos estão voltadas hoje para a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que decide às 18:30 a nova taxa Selic e o ritmo da política monetária nos próximos seis meses, em função da queda das barreiras fiscais, sobretudo o rompimento do teto de gastos. Há quase unanimidade de que haverá aumento de 1,50 pontos percentuais, para 7,75%, embora há quem prescreve remédio mais radical, de 3 p.p. de aumento como a Genial Investimentos, que tem como economista chefe, José Márcio Camargo.

Seria um choque de expectativas para fazer o dólar recuar forte (não se sabe o impacto nas expectativas de inflação e nos combustíveis, que continuam com tendência de alta no exterior). Mas o que o mercado mais deseja saber é até onde (horizonte e intensidade) irá a mudança de atitude do Banco Central. O Copom está diante de dados que mostram a elevação da inflação para o patamar de 10% - que só tende a ceder em dezembro (pois em dezembro do ano passado a taxa foi de 1,35%) – enquanto os indicadores de produção e emprego começam a desacelerar.

A LCA Consultores acredita que o Copom elevará hoje a Selic em 150 pontos e indicará aumento semelhante para a reunião de 08 de dezembro (antes previa elevações adicionais de 100 pontos-base nas duas reuniões remanescentes de 2021). A consultoria avalia que o ciclo de aperto monetário será encerrado com a taxa básica Selic em 10,75% (a projeção anterior era de 9,5% ao ano). Já o Itaú espera duas altas de 1,50 este ano e prevê que o ciclo se encerrará em março de 2022 com a taxa em 11,25% ao ano.

A consultoria reviu a previsão do IPCA de outubro de 0,85% (que daria margem a queda ínfima na taxa em 12 meses de 10,25%, pois houve alta de 0,86% em outubro de 2020) para 1,10%. Essa taxa eleva o IPCA a 10,50%. O Itaú espera IPCA de 0,92% em outubro (o IBGE divulgará no dia 8 de novembro), o que elevaria a taxa em 12 meses para 10,31%. Com os últimos reajustes da gasolina e do diesel nas refinarias da Petrobras, todos estão revendo as projeções para cima até dezembro. As expectativas de queda da inflação ficam para 2022.

Para a LCA, três grupos poderão manter o IPCA bastante pressionado em outubro: (i) Alimentação e bebidas, com destaque para a Alimentação fora do domicílio, (ii) Vestuário, que pode estar influenciado pela mudança de estação e pela maior circulação de pessoas e (iii) Transportes, pela forte alta de passagem aérea (de +34,35%), pelas altas de automóvel novo e usado, bem como pelos recentes reajustes em combustíveis. Depois dos últimos aumentos, a previsão é que o IPCA feche 2021 em 9,7% (em um mês a estimativa saltou de 8,7% para 9% e agora para 9,7%).

Ao analisar o IPCA-15, o Departamento de Estudos Econômicos do Itaú assinala que “os núcleos de serviços e bens industriais aceleraram mensalmente (de 0,54% para 0,66% e de 0,70% para 0,73%, respectivamente). Entretanto, o índice de difusão em outubro recuou para 63,8% de 68,9% em setembro [em reflexo da desaceleração no setor industrial e na baixa de minérios e da carne]. Além de projetar alta de 0,92% no IPCA de outubro, o Itaú espera altas de 0,62% em novembro e 0. 67% em dezembro”. Para o ano, a estimativa para o IPCA de 2021 está em 9,28%.

Abertura condiciona inflação

O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco relacionou a abertura gradual da economia [decorrente do avanço da vacinação, que permitiu a retomada das atividades e empregos nos segmentos de serviços, em especial nas atividades ligadas ao lazer, como bares, hotéis, restaurantes, casas de shows e passagens aéreas e serviços de traslado] às pressões inflacionárias pontuais, além das pressões dos combustíveis, para a alta de 1,20% no IPCA-15 (acima dos 1,14% de setembro e dos 1% esperados pelo Depec).

Ao analisar os dados do Caged de setembro, com a criação líquida de 313 mil postos de trabalho com carteira assinada, refletindo um número de demissões maior que o esperado, o Bradesco assinalou que embora em recuperação, o mercado de trabalho formal continuou sinalizando alguma acomodação. O Depec calcula que, excluindo os efeitos sazonais, foram criadas 240 mil vagas, desacelerando em relação ao mês anterior (300 mil).

O Bradesco frisa que “todos os grandes setores da economia seguem registrando contratações líquidas e o destaque ainda fica com os setores de serviços e comércio. No ano, já foram criados quase 2,6 milhões de empregos formais e, ao longo dos próximos meses, o ritmo deve seguir em trajetória de acomodação até se estabilizar em torno de 200 mil vagas mensais.

Desemprego cai a 13,1% na PNAD

Os números da PNAD Contínua trimestral do IBGE encerrada em agosto (que assinalou o 3º mês de coletas de informações presenciais), refletiram essa melhora de circulação também no mercado informal, em decorrência do avanço da vacinação. Pela primeira vez desde a contabilização dos meses de impacto integral da pandemia da covid-19 (em abril de 2020), a taxa de desemprego, que desceu de 14,6% no trimestre encerrado em maio para 13,2% ficou menor do que antes de março de 2020 (13,3%). Em relação a agosto de 2020 (14,4%) houve queda de 1,3 p.p.

A população desocupada (13,7 milhões de pessoas) caiu 7,7% (menos 1,1 milhão de pessoas) ante o trimestre terminado em maio de 2021 e ficou estável na comparação anual. A população ocupada (90,2 milhões de pessoas) cresceu 4,0% (mais 3,5 milhões) frente ante o trimestre encerrado em maio e subiu 10,4% (mais 8,5 milhões) no ano. O nível da ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar), estimado em 50,9%, cresceu 2,0 p.p. no trimestre e 4,1 p.p. no ano.

A taxa composta de subutilização (27,4%) caiu 1,9 p.p. no trimestre e recuou 3,2 p.p na comparação anual. A população subutilizada (31,1 milhões de pessoas) caiu nas duas comparações: -5,5% (-1,8 milhão de pessoas) no trimestre e -6,6% (-2,2 milhões) no ano. Já a população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas (7,7 milhões de pessoas) cresceu 4,7% (mais 343 mil pessoas) no trimestre e subiu 29,2% no ano.

A população desalentada (5,3 milhões de pessoas) caiu 6,4% no trimestre (menos 368 mil pessoas), com recuo de 8,7% (508 mil pessoas) no ano. O percentual de desalentados na força de trabalho (4,9%) recuou -0,4 p.p. no trimestre e 0,9 p.p na comparação anual.

O total de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exceto trabalhadores domésticos) foi de 31,0 milhões de pessoas, alta de 4,2% (1,2 milhão de pessoas) no trimestre e 6,8% (2,0 milhões) frente igual período de 2020.

Informalidade e conta própria seguem em alta

Mas as limitações do emprego formal, refletidas do Caged de setembro, seguem elevadas, forçando as pessoas a atuar no mercado informal ou por conta própria. O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (10,8 milhões) subiu 10,1% (987 mil pessoas) no trimestre e 23,3% (2,0 milhões de pessoas) no ano, as maiores variações da série histórica, em termos percentuais e absolutos, na comparação anual (suspeita-se que a estatística anterior não abarcava a real situação do mercado).

O número de trabalhadores por conta própria (25,4 milhões de pessoas) foi recorde da séria histórica, com altas de 4,3% (mais 1,0 milhão de pessoas) no trimestre e de 18,1% (3,9 milhões de pessoas) na comparação anual.

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